A passagem da cantora norte-americana Patti Smith por Lisboa, em 2015, é recordada no livro de memórias “O ano do macaco”, no qual lembra uma melodia entoada pelo pai e a poesia de Fernando Pessoa.

“O ano do macaco”, a editar no dia 7 de agosto pela Quetzal, é um novo livro de memórias da cantora e escritora norte-americana Patti Smith, recuperando percursos e pensamentos de anos recentes, acompanhados de fotografias também da autora.

Entre as memórias registadas está a passagem de Patti Smith por Portugal, em 2015, ano em que atuou no Festival Primavera Sound, no Porto, e, meses depois, no Coliseu de Lisboa, para apresentar o álbum clássico de carreira, “Horses”.

Prolongo a minha estada na cidade de Pessoa, embora não seja fácil dizer o que ando bem a fazer. Lisboa é a cidade ideal para nos deixarmos levar pelo tempo. (…) No meio de um silêncio que lembra os quadros de Edward Hopper, faço o caminho que Pessoa fez tantas vezes”, escreve Patti Smith.

Referindo-se a Lisboa como “a cidade das noites calcetadas”, Patti Smith recorda que esteve na Casa Fernando Pessoa, onde pôde manusear alguns livros da biblioteca pessoal do poeta, “tão especial e tão bem preservada”.

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A propósito de Lisboa, Patti Smith recorda-se do pai: “Num passeio ao crepúsculo, a música ecoa pela velha cidade, evocando em mim a voz harmoniosa do meu pai a trautear baixinho ‘Lisbon Antigua’ [‘Lisboa Antiga’, de José Galhardo, Amadeu do Vale e Raul Portela, de 1937], precisamente uma das suas melodias favoritas”.

Este novo livro de Patti Smith arranca com a descrição da entrada num novo ano — 2016, Ano do Macaco na astrologia chinesa — e que representa para a autora a chegada aos 70 anos.

É a partir daí que Patti Smith recupera memórias entre concertos, quartos de hotel, regista sonhos e convoca muitos dos autores sempre presentes, como Antonin Artaud, William Burroughs e Allen Ginsberg.

É também um registo marcado pela morte, com o desaparecimento de dois amigos, o músico Sandy Pearlman (2016) e o escritor Sam Shepard (2017), e pela atualidade.

A chegada de 2020 coincidiu com o momento em que, gradualmente, os princípios morais da nossa Constituição passaram a ser definidos de uma forma completamente imoral, disso sendo prova o facto de nos governarem pessoas que apregoam aos quatro ventos os seus valores cristãos, mas desprezam, na prática, a essência do cristianismo: o amor ao próximo”, lê-se nas últimas páginas.

A primeira edição original de “O ano do macaco” é de setembro de 2019, mas foi aumentada com textos finais, num registo quase diarístico que termina pouco antes de ser declarada a pandemia da Covid-19.

Patti Smith, cantora, compositora, escritora, ativista, uma das figuras de referência do punk rock, já publicou mais de uma dezena de obras, estando publicadas em Portugal, entre outras, “Witt”, “O mar de coral”, “Apenas miúdos”, “Devoção” e “M Train”.