A Associação Empresarial da Beira Baixa (AEBB) afirmou esta quinta-feira que o Plano de Recuperação Económica e Social de Portugal 2020-2030 “é um bom princípio”, mas que “dependerá agora da vontade, oportunidade e intensidade de implementação”.

Este é apenas um plano, bom princípio, mas que, e como qualquer plano, dependerá agora da vontade, oportunidade e intensidade de implementação. Seguramente que haverá prioridades, que esperemos não sejam apenas políticas, mas de compromisso com o território”, explicou à agência Lusa o presidente da AEBB, José Gameiro.

Este responsável entende que o plano elaborado por Costa e Silva tem algumas ideias que já “andavam no ar” e que surgem agora “empacotadas”, não sendo, por isso, “grandes novidades”.

Numa primeira análise, José Gameiro entende que a rede de infraestruturas indispensáveis identificada neste plano deve ser cruzada com o Plano Nacional de Investimentos aprovado (PNI 2030).

Não sendo necessário projetar mais infraestruturas rodoviárias, é essencial manter o plano rodoviário nacional aprovado e concretizar projetos já definidos – exemplo IC31 e autoestrada Viseu-Coimbra”, frisou.

No eixo estratégico “Coesão do Território, Agricultura e Floresta”, a AEBB considera fundamental ser incluído o ‘cluster’ do têxtil e do vestuário.

Esta indústria tem um peso e um potencial de desenvolvimento e crescimento muito significativo na região [Castelo Branco], e grande parte da cadeia de valor presente está devidamente organizada e a funcionar em rede. Na região, este ‘cluster’ representa cerca de 4.000 postos de trabalho e 157,5 milhões de euros de faturação anual (ano 2018)”, sustenta.

José Gameiro depreende que os ‘clusters’ identificados para o território de Castelo Branco tiveram como base o conhecimento disponível nas universidades e politécnicos, “esquecendo o ‘know-how’, representatividade e capacidade de inovação de alguns setores considerados tradicionais, como é o caso do têxtil e de vestuário”.

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Neste âmbito, defende a definição de medidas diferenciadoras para o interior de forma a beneficiar mais estas regiões e alavancar os projetos-âncora identificados como verdadeiros polos de desenvolvimento local com escala.

Agrada-nos muito a visão assente na reindustrialização do país que, como refere o plano, deve assentar em empresas que funcionam como unidades produtivas digitalmente integradas, que casam o mundo físico e digital, para crescer nos mercados europeus e globais”.

José Gameiro elogia e considera mesmo como “ganhadora” a aposta nos recursos endógenos e na economia produtiva.

É agora importante que o sistema de I&D que existe tenha a capacidade de transferir esse conhecimento para produtos competitivos e adequados às necessidades do mercado. Os processos de investigação e desenvolvimento nascem muitas vezes no interior da academia e muito distantes das reais necessidades do mercado, inibindo a sua transferência para a indústria”, sublinha.

O presidente da AEBB realça ainda o conceito introduzido de ‘Hinterland’ Ibérico, e que segundo o estudo, deve ser explorado.

Da leitura deste ponto entendemos que este conceito tem por base por a dialogar as cidades perto da fronteira espanhola sobre elementos ou problemas económicos, geográficos e políticos de forma a serem desenvolvidos espaços geoeconómicos integrados. A nossa proximidade ao mercado espanhol há muito que é falada, numa perspetiva de oportunidade para esta região, esperamos agora que finalmente sejam construídos projetos-âncora que dinamizem o desenvolvimento para o futuro”, disse.

Já no que diz respeito aos instrumentos de apoio às empresas, o empresário de Castelo Branco valoriza a importância dada à melhoria das competências dos trabalhadores e gestores, com destaque para a execução de programas de capacitação e formação especializada de gestores.

O presidente da AEBB recorda que o plano refere o problema da descapitalização das empresas e aponta para soluções de capitalização diferenciadas baseadas em fundos de capital de risco para empresas com dimensão relevante.

Gostaríamos aqui de salientar que o tecido empresarial nacional é maioritariamente constituído por PME (99,9% – Ano 2018 – Fonte INE atualização Fev_2020) – com as micro a pesarem 96,1%, pelo que não devem ser esquecidas e devem ser apresentadas medidas adequadas à sua dimensão e características”, conclui.