O Produto Interno Bruto (PIB) português quebrou 16,5% no segundo trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado e 14,1% em relação ao trimestre anterior. É a maior quebra do PIB de sempre. O intervalo entre abril, maio e junho diz respeito à época em que Portugal esteve em estado de emergência à conta da pandemia de Covid-19.

Os dados do PIB (a chamada estimativa rápida das contas nacionais) acabaram de ser divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e estão em conformidade com as previsões anunciadas pela União Europeia, que em julho calculava que “a performance económica deve deteriorar-se a um ritmo muito mais elevado, de cerca de 14% no segundo trimestre (comparação face ao trimestre anterior), refletindo contrações significativas na maior parte dos indicadores económicos”.

“Refletindo o impacto económico da pandemia, o PIB registou uma forte contração em termos reais no segundo trimestre de 2020, tendo diminuído 16,5% em termos homólogos, após a redução de 2,3% no trimestre anterior”, pode ler-se na estimativa rápida do INE, que não dá muitos detalhes.

“Este resultado é explicado em larga medida pelo contributo negativo da procura interna para a variação homóloga do PIB, que foi consideravelmente mais negativo que o observado no trimestre anterior, refletindo a expressiva contração do consumo privado e do Investimento. O contributo negativo da procura externa líquida também se acentuou no segundo trimestre, traduzindo a diminuição mais significativa das Exportações de Bens e Serviços que a observada nas Importações de Bens e Serviços devido em grande medida à quase interrupção do turismo de não residentes”, explicou o INE.

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Portugal é o quarto pior entre os Estados-membros

Os números conhecidos esta sexta-feira relativos ao PIB do segundo trimestre significam que a atual estimativa do governo para a totalidade do ano, uma contração do PIB de 6,9% (menor do que os 9,8% estimados pela Comissão Europeia) terá de ser ser revista, uma vez que é praticamente impossível de atingir nos seis meses que faltam para completar o ano.

Dos Estados-membros para os quais existem dados disponíveis para o segundo trimestre, Portugal é o tem a quarta queda, depois de Espanha (-22,1%) – o país europeu com maior declínio na variação homóloga – de França (-19%) e de Itália (-17,3%).

Governo vê sinais (ténues) de uma recuperação progressiva da atividade económica

Pedro Siza Vieira, ministro da Economia, considerou que a quebra do PIB confirma “o que já se sabia”, que Portugal teve “nos meses de abril e maio uma quebra muito acentuada da atividade económica, com uma grande quebra do consumo privado, com uma quebra do investimento, mas sobretudo com uma grande quebra das exportações”.

Pedro Siza Vieira frisou, porém, que a atividade económica está a ter uma “ligeiríssima recuperação”. “Em junho a economia já teve uma ligeiríssima recuperação. Vamos continuar atentos aos próximos tempos. É de esperar que neste trimestre já teremos um crescimento relativamente ao segundo trimestre. Vamos ver qual o ritmo de crescimento da economia até final do ano para tentar perceber qual será no conjunto do ano de 2020, o impacto desta pandemia na nossa economia. Quebra muito abrupta no segundo trimestre, recuperação no terceiro e quarto trimestre. Agora vamos ver é a que ritmo”, sublinhou.

É esse ritmo que vai determinar alterações das estimativas do Governo para o total do ano, que Pedro Siza Vieira admite desde já. “Julgo que estes números vão obrigar a refletir sobre as projeções que constam no Orçamento Suplementar, não é nada que não antecipássemos já”, disse.

Se o ministro da Economia falou de viva voz aos jornalistas, o novo ministro das Finanças, João Leão, emitiu um comunicado sobre as estimativas rápidas do INE. Assim , o ministério das Finanças vê “sinais de uma recuperação progressiva da atividade económica”. Nas últimas semanas, findo o estado de emergência, salienta o ministério “os indicadores económicos de alta frequência” (mensais, por oposição aos trimestrais ou anuais) “apresentam já sinais de uma recuperação progressiva da atividade económica”.

E explica porquê. Primeiro no que diz respeito ao consumo. “As compras com recurso a cartão multibanco tiveram uma recuperação significativa e na segunda semana de julho registaram uma variação homóloga positiva de 1%, depois de terem chegado a registar quedas homólogas superiores a 30% no mês de abril”. E depois sobre a retoma da atividade das empresas. “De igual forma, também o consumo de eletricidade empresarial mostrou sinais de recuperação em junho, com um crescimento de 7,9% face a maio”.

Segundo trimestre com quebra “4 ou 5 vezes maior do que na crise de 2011?

Foi numa entrevista à TVI em 13 de abril. O segundo trimestre tinha acabado de começar, o país estava já todo fechado e em Estado de emergência e o então ministro das Finanças, que entretanto saiu para passar a ser Governador do Banco de Portugal, já estimava o pior.

“O segundo trimestre vai ter uma quebra próximo de 4 ou 5 vezes o máximo que já vimos o PIB num trimestre cair em Portugal. (…) Em 2012 no quarto trimestre caiu 4,3% e estaremos quase a assemelhar isso a uma flutuaçãozinha cíclica da economia sem grandes dificuldades”, disse Mário Centeno sobre as previsões da quebra da economia em Portugal. Mas no total do ano, a queda do PIB não deverá chegar a dois dígitos (ou seja, pelo menos aos 10%). Atualmente o Governo já admite fechar o ano com um PIB nos -9% (a Comissão Europeia fala em -9,8%).

De acordo com as séries históricas do INE, o PIB no quarto trimestre de 2012 caiu 3,8% em termos homólogos (face aos mesmos três meses de 2011), pelo que os 16,5% de quebra registados no segundo trimestre deste ano representam uma subida “entre 4 e 5 vezes” superior ao pior trimestre registado anteriormente. Ou seja, Centeno tinha razão.

Indicadores de consumo em mínimos em abril e maio

Já este mês, o INE tem divulgado indicadores que ajudam a explicar a estimativa rápida relativa à globalidade da economia neste segundo trimestre.

Primeiro, o consumo. Na quarta-feira, o instituto de estatística revelou que as vendas no comércio a retalho no segundo trimestre caíram 13,6% em termos homólogos, contra um aumento de 2,2% no primeiro trimestre.

Por meses, as vendas a retalho passaram de uma queda homóloga de 11,9% em Maio, para um recuo de 6,6% em Junho, o que é justificado – ainda assim – pelo comportamento mais positivo do índice de produtos não alimentares. Dos grandes agrupamentos que compõem o índice de volume de negócios no comércio a retalho, o dos produtos não alimentares teve uma redução homóloga de 9,9%, que compara com uma queda de 22,4% no mês de Maio.

No agrupamento dos produtos alimentares, o índice registou uma queda de 2,3% em Junho, contra um aumento de 1,6% no mês anterior.

Outro indicador é a confiança dos consumidores, que diminuiu em Julho, após ter recuperado parcialmente nos dois meses anteriores da maior redução face ao mês anterior registada em Abril, divulgou o INE na quinta-feira. A redução do indicador de confiança dos consumidores em Julho resultou dos contributos negativos das perspetivas relativas à evolução futura da situação económica do país e das opiniões sobre a evolução passada da situação financeira das famílias.

Em sentido contrário, as expectativas relativas à realização de compras importantes e à evolução da situação financeira do agregado familiar contribuíram positivamente.

Já o indicador de clima económico, de acordo com o INE, aumentou entre Maio e Julho, após ter atingido em Abril o valor mínimo da série (ou seja, desde que se mede esta dimensão da economia com as regras seguidas atualmente). Neste ponto, “os indicadores de confiança recuperaram em todos os sectores, com destaque para a Indústria Transformadora, que prolongou o maior aumento da série verificado no mês anterior, depois de ter registado o mínimo da série em Maio”.

Na Construção e Obras Públicas e no Comércio, os indicadores recuperaram parcialmente entre Maio e Julho, enquanto nos Serviços aumentou em Junho e Julho, após ter apresentado em Maio o valor mais baixo da série.

Exportações em queda

As exportações e importações de bens registaram em Maio passado variações homólogas nominais de menos 39,0% e menos 40,2%, respetivamente, face a igual mês de 2019, anunciou o INE em 10 de julho.

Este desempenho tinha sido antecedido de quebras de 40,1% nas exportações de bens e de 39,5% nas importações em Abril de 2020, face a igual mês do ano passado.

Segundo o INE, em Maio, “todas as categorias de produtos apresentaram decréscimos significativos, destacando-se as exportações e importações de material de transporte (-54,0% e -66,6%, respetivamente)”.

O INE atribui a queda nas exportações de material de transporte principalmente à redução para Espanha e Alemanha e a redução de 33,5% nos fornecimentos industriais principalmente à diminuição da venda de bens para o país vizinho.