A polícia malaia fez esta terça-feira buscas nos escritórios da estação Al Jazeera em Kuala Lumpur e confiscou computadores no âmbito de uma investigação sobre um documentário exibido sobre o tratamento de estrangeiros sem documentos durante a pandemia.
A busca, revelada pela própria cadeia televisiva do Qatar, foi efetuada após as autoridades da Malásia anunciarem uma investigação à Al Jazeera por sedição, difamação e violação da lei da comunicação e multimédia da Malásia.
Efetuar uma busca no nosso escritório e confiscar computadores constitui uma escalda preocupante na repressão das autoridades contra a liberdade dos media e demonstra as medidas que estão dispostos a aplicar para intimidar os jornalistas”, denunciou em comunicado Giles Trendle, diretor da Al Jazeera English.
O documentário, intitulado “Locked Up in Malaysia’s Lockdown” (Encerrados durante o confinamento na Malásia) e emitido em 3 de julho, aborda a situação dos migrantes indocumentados e refugiados na sequência de operações policiais no início de maio numa zona afetada pela Covid-19 na capital Kuala Lumpur.
Na sequência destas operações, os migrantes foram encerrados em centros de detenção, uma situação denunciada por diversas organizações não governamentais (ONG), incluindo a malaia Tenaganita e a Human Rights Watch (HRW), que afirmaram que esta medida aumentava o risco de contágio.
Após a sua emissão, o documentário da Al Jazeera foi considerado inexato, enganoso e injusto por diversos altos funcionários do Governo e, de acordo com a agência noticiosa Bernama, a polícia recebeu diversas denúncias contra a cadeia televisiva.
Como organização mediática internacional, a Al Jazeera deveria deixar de emitir este documentário e pedir perdão ao povo da Malásia”, referiu no início de julho em conferência de imprensa o ministro da Defesa, Ismail Sabri Yaakob.
Em 10 de julho, a polícia malaia interrogou seis jornalistas responsáveis pela realização do documentário, para apurar se teriam cometido um eventual delito de sedição, entre outros, enquanto a Al Jazeera enfrenta uma possível acusação por ter filmado locais sem a necessária autorização.
Em 24 de julho a polícia também deteve Mohamed Rayhan Kabir, um imigrante do Bangladesh de 25 anos, e anunciou a sua expulsão do país pelos seus comentários críticos dirigidos ao Governo no documentário produzido e emitido pela Al Jazeera.