“No final de 2012 ganhei o Grande Prémio de Macau e o Helmut Marko mandou-me uma mensagem a dizer que iríamos atingir grandes coisas juntos. Fiz o banco da Toro Rosso, fiz o fato, tinha voos marcados para a América e para o Brasil para fazer os treinos livres de sexta-feira. O Franz Tost ligava-me quase todos os dias e dizia ‘Tu vais ser meu piloto para o ano que vem’. Fui duas ou três vezes à fábrica da Toro Rosso. Depois lembro-me de receber a chamada do Helmut a dizer que o lugar na Fórmula 1 já não estava disponível para mim. Entrei no quarto e comecei a chorar baba e ranho. Trabalhei muito, acreditei e percorri o meu sonho de chegar à Fórmula 1 durante 15 anos de carreira, vi o sonho ali tão perto a fugir numa chamada. Existe política no nosso desporto e foi um plano que começou a ser montado para o [Daniil] Kvyat uns meses antes. O que moveu mundos foi haver um Grande Prémio na Rússia”, recordou em junho António Félix da Costa, em entrevista à Eleven Sports.
Félix da Costa mantém vantagem na Fórmula E e pode ser campeão no domingo
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— Formula E (@FIAFormulaE) August 9, 2020
Se recuarmos uns anos, poucos teriam dúvidas que o passo seguinte do piloto português ia ser o escalão máximo do automobilismo, aquele onde só os melhores chegam e que parecia ter uma vaga à sua espera por mérito próprio. Não aconteceu aí, em 2012. Também não aconteceu em 2014, quando Lewis Hamilton sofreu uma intoxicação alimentar antes do Grande Prémio da China, o piloto reserva da Mercedes não estava presente e Niki Lauda ainda poderou colocar-lhe o carro nas mãos antes da recuperação do britânico. E nem sequer se aproximou no final desse mesmo ano, quando a Ferrari lhe fez uma proposta para apoiar Vettel mas a Red Bull não o deixou sair.
Ficou uma relação mais azeda com o Helmut a partir daí. Eu na minha cabeça já me queria ir embora e assim foi, saí no final desse ano de 2015, mas a carruagem da Ferrari já tinha passado”, recordou.
No meio destas andanças, enquanto ia experimentando vários campeonatos, António Félix da Costa teve o mérito de nunca desistir, de nunca travar, de acreditar sempre que um dia poderia chegar a voos mais altos. E esse dia podia ter chegado, com a possibilidade de se sagrar campeão mundial de Fórmula E depois de, entre outros feitos a partir de 2015, ter ganho mais uma vez o Grande Prémio de Macau e ter ficado na décima posição nas míticas 24 Horas de Le Mans, fazendo equipa com o brasileiro Augusto Farfus e o finlandês Jesse Krohn.
Nos carros elétricos, onde chegou em 2014/15, esteve sempre nas equipas da BMW, com uma sexta posição na geral em 2018/19 e um oitavo posto no primeiro ano, entre vitórias em Buenos Aires e Diriyah e cinco pódios. No final de cinco anos de ligação, o piloto português separou-se da equipa e ocupou a vaga de André Lotterer na DS Techeetah. Era um salto na carreira e uma hipótese de ouro de lutar pelos lugares cimeiros com uma formação mais apetrechada e que dava outras garantias. Félix da Costa não falhou. “Levamos uma vantagem boa no Campeonato mas a mentalidade não vai mudar, nada está decidido. Vamos continuar ao ataque, a tentar marcar o maior número de pontos possível. A abordagem será um pouco diferente em relação a anos anteriores. Vamos continuar agressivos e a querer ganhar corridas”, disse antes do fim de semana.
Automobilismo. Félix da Costa vence prova da Fórmula E em Marraquexe
Just @afelixdacosta presenting @afelixdacosta with his @FIAFormulaE Pole Position trophy ???? pic.twitter.com/dYupkdqh0C
— WTF1 (@wtf1official) August 5, 2020
Depois de um início de temporada falhado pela DS Techeetah, com Félix da Costa a ficar em 14.º e em décimo nas duas corridas iniciais em Diriyah e o bicampeão de Fórmula E Jean-Éric Vergne a não ir além de um oitavo posto após ter desistido na primeira prova, o português arrancou para uma série de resultados que deixou por completo a concorrência para trás: entre outros pontos ganhos em group stages, pole positions e voltas mais rápidas, acabou em segundo em Santiago do Chile e na Cidade do México, ganhou em Marraquexe e regressou da melhor forma depois da paragem pela pandemia, vencendo as duas corridas iniciais em Tempelhof, Berlim, antes de acabar este sábado no quarto lugar, com triunfo para o alemão Max Günther e terceiro posto para Vergne. Com 90 pontos ainda em disputa, Félix da Costa tinha um total de 68 de avanço sobre Günther, que estava em segundo.
Congratulations @afelixdacosta @DSTECHEETAH and @FIAFormulaE & @FIA teams for this restart of #FormulaE #BerlinEPrix #RaceAgainstCovid https://t.co/K94Ve3v71b
— Jean Todt (@JeanTodt) August 5, 2020
E o dia começou bem para o português e sobretudo para a DS Techeetah, com Félix da Costa a somar mais um ponto de bónus ao vencer o Grupo de Qualificação 1 e a terminar na segunda posição a Super Pole, saindo da primeira linha da grelha de partida ao lado do companheiro de equipa Jean-Éric Vergne. Ou seja, dos 90 pontos em disputa com 68 de vantagem passou para 86 em disputa e 69 de vantagem. Faltavam apenas 45 minutos para a consagração, que poderia dar o primeiro título de um português na divisão dos carros elétricos depois dos triunfos do brasileiro Nelson Piquet Jr., do suíço Sébastien Buemi, do também brasileiro Lucas de Grassi e do francês Jean-Éric Vergne, neste caso com duas vitórias consecutivas que o colocavam como favorito para 2019/20.
Boraaa! https://t.co/fIK7TBfbkZ
— Antonio Felix da Costa (@afelixdacosta) August 6, 2020
O dia começou com mais um triunfo importante para pilotos nacionais, neste caso de Filipe Albuquerque que tinha feito uma vídeo com Félix da Costa antes de todas as decisões: com o companheiro britânico Phil Hanson, ganhou a pole position, fez a volta mais rápida e venceu a corrida na segunda jornada do European Le Mans Series, em Spa-Francorchamps, dedicando depois o feito ao pai, falecido há duas semanas. “Não poderia querer mais. Foi um fim de semana excecional com todos os objetivos alcançados. Estou muito contente e ao mesmo tempo melancólico, pois o meu maior fã, o meu pai, já não está comigo para festejar mais esta vitória. Este resultado é para ele, esteja onde estiver”, comentou após a corrida, a segunda após um terceiro lugar em França.
Just two Portuguese wishing good luck to each other!#TugaPower ???????? @afelixdacosta pic.twitter.com/C3K2jDhKKt
— Filipe Albuquerque (@Albuquick) August 9, 2020
Félix da Costa aguentou de forma cautelosa o segundo lugar na saída, não fazendo qualquer tipo de movimento para tirar a primeira posição a Vergne (que também teve um bom arranque), mas teve a primeira “boa” notícia logo na primeira volta, com Max Günther a entrar pela traseira de Oliver Turvey e ficar fora de prova. A corrida parou depois alguns minutos, regressou com os dois carros da DS Techeetah a dominar, começou a mudar com alguns pingos de chuva que foram caindo e teve Oliver Rowland a conseguir ultrapassar o português a meia hora do final tal como Nyck de Vries, que pouco depois de novo para a quarta posição. O melhor estaria para vir logo a seguir: Félix da Costa teve a melhor utilização do attack mode e superou Vergne na reta da meta, subindo a primeiro e fazendo depois uma gestão perfeita da corrida para fechar da melhor maneira uma histórica conquista que voltou também a provar de forma inequívoca a superioridade da DS Techeetah face à concorrência direta, ao ponto de ter deixado que Vergne saltasse de novo para a frente para ter outro conforto na gestão da energia até ao final. E com um pormenor: além dos 18 pontos pelo segundo lugar, Félix da Costa fez mais um com a volta mais rápida.
Dramatic start in Berlin as yesterday's winner @maxg_official is out of the race on lap one #BerlinEPrix #SeasonSixFinale pic.twitter.com/3xKdMA71uY
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A championship winning overtake? @afelixdacosta goes first after passing @DSTECHEETAH teammate @JeanEricVergne #BerlinEPrix #SeasonSixFinale pic.twitter.com/0UyxuXi6ZR
— Formula E (@FIAFormulaE) August 9, 2020
.@DSTECHEETAH retain the Formula E Teams' Championship for the second successive season! @JeanEricVergne @afelixdacosta pic.twitter.com/rC5MRIsmZK
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