Em maio de 2020, 242 mil doentes estavam inscritos na lista de espera para cirurgias, sendo que para 43% o “tempo máximo de resposta garantido” (ou TMRG) já tinha sido ultrapassado, escreve esta segunda-feira o jornal Público, que cita dados fornecidos pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS). Ou seja, em maio mais de 100 mil doentes aguardavam pela cirurgia para lá do prazo — e quase 45 mil esperavam há mais de um ano.
Ao jornal, a ACSS explica que a recuperação das listas de espera verificada em 2019 (aumento de 10,4% das cirurgias programadas e 27,1% da cirurgia de ambulatório) agravou-se com a pandemia, isto é, foi “bruscamente interrompida”. No início de julho, Marta Temido, ministra da Saúde, revelou na comissão parlamentar da saúde que os hospitais tinham feito até maio menos 902 mil consultas e menos 85.000 cirurgias relativamente ao período homólogo.
Em janeiro estavam cerca de 252 mil doentes nas listas de espera para cirurgia, dos quais 171 mil aguardavam dentro do TMRG — havia, então, 80.197 doentes inscritos (32%) para lá do prazo recomendado; um mês depois, esse número ficava-se nos 75.401 doentes (31%), sendo que em abril contavam-se 95.600 (39%) e em maio 103.912 (43%). Também em maio, a lista para cirurgia tinha menos 1801 inscritos em relação ao mês anterior — maio representa o último mês sobre o qual existem dados oficiais.
Desde o início de 2020 até ao dia 31 de julho, os hospitais na rede do Serviço Nacional de Saúde emitiram 143 mil vales-cirurgia (o que acontece quando o TMRG está prestes a terminar), um acréscimo de 15% tendo em conta o mesmo período do ano passado. Os dados da ACSS são ainda provisórios.
“Dados pecam por defeito” e são a “a ponta do icebergue”
Em declarações à Rádio Observador, Alexandre Lourenço, presidente da Associação de Administradores Hospitalares, diz que os dados em questão “pecam por defeito” e que esta é apenas “a ponta do icebergue”. ” As necessidades em saúde serão bastante superiores aos números agora apresentados”, disse, referindo-se aos dados fornecidos ao Público pela Administração Central do Sistema de Saúde.
Atrasos nas cirurgias? “Dados pecam por defeito, estamos a verificar a ponta do icebergue”
“Estamos a observar neste momento a um acumular deste passivo de doentes. Ou seja, estamos a verificar que os hospitais não têm condições neste momento para voltar ao níveis de atividade de 2019. (…) Vamos verificar um avolumar do número de doentes que necessitaria de cirurgia”, continuou. Para Alexandre Lourenço, o grande problema a surgir nos meses mais frios passa por voltar a existir uma “suspensão dos centros de saúde e dos hospitais”, motivo pelo qual diz ser essencial a elaboração de um “plano integrado que não envolva cada hospital per si, mas os hospitais, os centros de saúde, os parceiros no sector social, a rede de cuidados continuados” e até as autarquias.
Alexandre Lourenço ressalvou que a rede não Covid-19, que garantiu ser responsabilidade do ministério da Saúde, “ainda não está definida”. “Neste momento já temos esta situação gravosa, que é a falta de acesso aos cuidados de saúde para doentes não Covid. (…) Os doentes não Covid, principalmente os crónicos, estão com graves dificuldades de acesso ao Serviço Nacional de Saúde. É importantíssimo encontrar respostas para estes doentes”, concluiu.