As movimentações da Nissan que resultaram no afastamento de Carlos Ghosn de chairman do construtor, após a sua prisão por alegados abusos, continuam a ser contestadas pelo interessado e envoltos em grande polémica, tanto mais que surgiram recentemente emails internos que reforçam a argumentação de Ghosn. Sabe-se agora que o Governo japonês tentou forçar uma solução que resultava em prejuízo da Renault, defendendo uma fusão entre Honda e Nissan no final de 2019.

A história foi descoberta pelo Financial Times, mas na realidade a proposta do Executivo nipónico não seria bem uma fusão, mas sim praticamente uma aquisição, pois a Honda tem um valor de 4,86 triliões de ienes, cerca de 38 mil milhões de euros, contra os 1,74 triliões de ienes, cerca de 16 mil milhões de euros, da Nissan. Ou seja, quase três vezes mais.

Tão pouco deve ter contribuído para entusiasmar os responsáveis da Honda o facto de ser previsível que a Nissan entrasse num período negro após as acusações a Ghosn e a consequente prisão, o que se veio a confirmar, pois se os títulos eram transaccionados a cerca de 1100 ienes quando a Nissan tomou uma série de decisões que levaram à prisão do seu ex-chairman, hoje não ultrapassam os 417 ienes.

A Honda terá alegado ainda, para descartar a fusão proposta pelo Governo, que a relação financeira entre Nissan e Renault era demasiado confusa, uma vez que os franceses, não sendo maioritários, detêm 43,4% e tornam-se incontornáveis. Se os responsáveis da Honda não ficaram entusiasmados, os da Nissan tão pouco terão apreciado a ideia, pois a sua estratégia parece sempre ter sido evitar o actual controlo por parte dos franceses, pelo que a hipótese de ficar sob o jugo de outro fabricante nipónico não parecia nada motivante.

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