O Ministério Público português está a investigar André Gustavo, antigo publicitário de Passos Coelho, e há três semanas o inquérito foi anexado ao caso EDP. A campanha da coligação PSD/CDS das legislativas de 2015 é um dos alvos da investigação, uma vez que a justiça brasileria registou uma coincidência de valores entre um alegado suborno pago pela construtora Odebrecht a André Gustavo e o montante que o publicitário brasileiro recebeu do PSD nesse ano eleitoral. Ao Observador, o antigo publicitário de Passos Coelho diz que trabalhou “para o PSD de forma profissional, tendo inclusive coordenado a comunicação nas legislativas de 2011 e 2015, ambas vitoriosas”. E assegurou:”Nunca cometi qualquer ato que possa ser considerado ilícito.”
Sobre as pistas dos procuradores brasileiros — que levantam a hipótese de o “Príncipe” (o decisor político que justificaria o suborno) ser Pedro Passos Coelho — Gustavo diz desconhecer a “carta rogatória” e acusa a imprensa portuguesa de “não ser objetiva” relativamente aos documentos que “cita” neste caso. Ora, o Observador — bem como outros jornais — foi muito claro quanto aos documentos a que se referia: um inquérito que decorria no DCIAP (em rigor, o inquérito nº184/12.5 TELSB) e a resposta do Ministério Público Federal brasileiro ao Ministério Público Português, elaborado pela Força-Tarefa Operação Lava Jato (mais especificamente o ofício nº 6613/2019 – PRPR/FT).
André Gustavo diz ainda ao Observador, numa curta resposta enviada por email, que não se pode “pronunciar sobre nomes fictícios ou expressões como: ‘sugerem’ , ‘teria sido’, ‘poderá ter’, ‘é possível’, ‘eventual’, ‘levantam suspeitas’ [porque] não trazem objetividade alguma em relação a nada”.
Ouvido pela justiça brasileira, André Gustavo sempre reiterou que o trabalho que prestou em Portugal foi feito dentro da lei. Aos procuradores chegou a dizer: “Eu presto consultoria ao Partido Social Democrata em Portugal, em que fiz duas campanhas eleitorais para o primeiro-ministro, ganhei as duas por sinal. E o partido há 8 anos mantém uma consultoria comigo. Legal, correta, declarado no imposto de renda, declarado tudo bonitinho, não há nada errado.” André Gustavo trabalhou para o PSD durante toda a liderança de Passos Coelho, que foi de 2010 a 2017.
Em 2018, segundo noticiou a Globo, André Gustavo foi condenado no âmbito do processo Lava-Jato “por corrupção e lavagem de dinheiro a 6 anos, 6 meses e 20 dias em regime semiaberto”. No dia seguinte, o juiz Sergio Moro colocou-o em liberdade, justificando esta decisão de “progressão de regime” (que alterou o cumprimento da pena para uma condição mais favorável) com o facto de Gustavo ter confessado os crimes, ter colaborado com a justiça e ter-se comprometido a devolver o valor recebido indevidamente. De acordo com o Ministério Público Federal (MPF) do Brasil, André Gustavo teria estado envolvido na negociação de um suborno ao ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras, Aldemir Bendine, bem como na intermediação desse mesmo pagamento (no valor de 3 milhões de reais, cerca de 455. 700 euros).