Cerca de uma centena de agentes culturais concentraram-se esta terça-feira junto ao Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, para “um drink de copo vazio”, em alusão à ausência de respostas do Governo, num “brinde à ignorância da ministra” da Cultura.

Organizada pela plataforma cívica Convergência pela Cultura, a iniciativa “Um drink pela Cultura” contou com a presença de várias personalidades das artes, inclusive o ator Ruy de Carvalho, que promoveu “um brinde à ignorância da ministra”.

“Tudo o que nos rodeia é cultura, portanto temos de ter uma ministra à altura da cultura que nós merecemos, assim não, assim digo ‘ah senhora ministra, que tristeza, acorde para a vida, não esteja morta, viva'”, afirmou Ruy de Carvalho, de 93 anos, lembrando os 78 anos de carreira como ator e em que diz que nunca teve um ministro da Cultura “tão mau”.

No protesto junto ao Ministério da Cultura, sediado no Palácio Nacional da Ajuda, os trabalhadores do setor ergueram uma faixa com a frase “no culture, no future”, brindaram com os copos vazios e fizeram-se ouvir: “Cultura somos todos”.

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No âmbito da iniciativa de protesto, a plataforma Convergência pela Cultura apresentou um comunicado público, dirigido ao primeiro-ministro, considerando que António Costa “está muito mal informado em relação à Cultura” e indicando que o maior vazio corresponde à “falta de seriedade, de ética e de transparência” na adoção de medidas apresentadas pelo Governo.

“Na realidade não passaram de uma utopia, que fica muito bem no retrato, mas que não corresponde à realidade dura em que vivem os seus concidadãos”, avança o comunicado público, afirmando que “os agentes do setor da Cultura não querem esmolas nem subsídios, querem sim um setor sustentável e sustentado”.

Na sexta-feira, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, disponibilizou-se para receber a plataforma Convergência pela Cultura que agendou o protesto, apesar de o manifesto onde constam as suas reivindicações não lhe ter sido dirigido, o que considerou que foi “certamente por lapso”.

Ministra Graça Fonseca disponível para receber plataforma Convergência pela Cultura

Em resposta à Lusa, fonte do Ministério da Cultura disse que “o pedido para uma audiência chegou hoje à hora de almoço e que será agendada reunião nesse sentido”.

No final de julho, à margem da sessão de apresentação de um conjunto de obras de arte contemporânea adquiridas pelo Estado, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, quando confrontada com a informação de que um grupo informal apoiava, todas as semanas, mais de 150 trabalhadores do setor em dificuldades, escusou-se a responder, convidando os jornalistas para “um drink de fim de tarde”.

Há duas semanas, a plataforma Convergência pela Cultura divulgou um manifesto, originado pelo que define como “falta de resposta da tutela às várias solicitações” feitas desde março, mês em que o setor teve de parar devido à pandemia da covid-19.

No manifesto, a plataforma apresentou 10 propostas “que, no conjunto, representam cerca de 30 medidas, com soluções” que acredita poderem “resolver os problemas imediatos dos trabalhadores” do setor, “se implementadas”.

Em resposta, o Ministério da Cultura considerou que essas reivindicações são “redundantes” e “até mesmo extemporâneas”, uma vez que “grande parte delas são alvo já de um vasto conjunto de medidas muito concretas adotadas e em curso”.

Esta terça-feira, num comunicado divulgado ao início da manhã, o Ministério da Cultura lembrou que as linhas de apoio a entidades artísticas e de adaptação dos espaços às medidas de prevenção de contágio da Covid-19 ficam abertas até ao final sexta-feira, assim como a linha de apoio social, adicional aos apoios concedidos pela Segurança Social a trabalhadores independentes da área da Cultura, destinada a “artistas, autores, técnicos e outros profissionais da cultura”, num valor global superior a 38 milhões de euros.

Linhas de apoio às entidades artísticas e de adaptação de espaços abertas até dia 4

O Ministério da Cultura recordou que também continuam abertas as linhas de apoio excecional do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), para o financiamento de projetos já apoiados, à produção e a festivais, cujas edições tenham sido edições de 2020 tenham sido suspensas, adiadas ou canceladas, num montante total disponível é de 3,5 milhões de euros.