O temporal que está a atingir nas últimas horas a Guiné-Bissau está a provocar inundações em campos de cultivo, danos em ruas e estradas e a atingir violentamente casas um pouco por todo o país, disse à Lusa a ministra da Solidariedade, Conceição Évora.
Cherno Mendes, dos serviços da meteorologia e responsável pela divisão da previsão disse à Lusa que “o pior ainda pode estar para vir”, salientando que as autoridades esperam um “ano húmido” em que deve chover na Guiné-Bissau como só se viu há 30 anos.
Normalmente, na Guiné-Bissau a chuva começa a perder a intensidade a partir do mês de agosto, mas este ano, a meteorologia avisou que setembro e outubro poderão ter muita precipitação.
A Lusa percorreu várias zonas do centro de Bissau e dos subúrbios onde constatou a população desesperada, a repetir gritos de socorro pelos campos de cultivo do arroz completamente inundados, casas caídas ou quase a cair, dada à intensidade de chuvas.
Nos bairros de Cuntum Madina, Plubá e Djogoró, subúrbios de Bissau, onde a população vive da agricultura, as “bolanhas” (campos de cultivo do arroz) têm mais água que o cereal plantado em maio, logo com a chegada da época das chuvas, na esperança de colher agora em setembro.
Em Djogoro, além das “bolanhas” inundadas, a água cobriu por completo as minas de sal, outra fonte do sustento das mulheres.
As duas faixas das “bolanhas” de Djogoró, que têm uma estrada asfaltada pelo meio e que ainda resiste à força das chuvas, agora só servem para as crianças tomarem banho ou pesca à linha, dada a quantidade de água cor de barro que aí se encontra parada.
As crianças divertem-se naquelas águas, sem se preocuparem que ali ao lado, a escassos 100 metros, esteja um cemitério municipal.
A população do novo bairro de Cabo Verde, construído sobretudo por pessoas recém-chegadas a Bissau vindas do interior ou de países vizinhos, é que não têm mesmo motivos para se divertirem com a quantidade de chuva que cai naquela zona sudeste de Bissau.
No centro de Bissau, os automobilistas disputam cada palmo de estrada que ainda não está coberto de poças de água.
O cenário só é aproveitado por grupos de jovens para arrecadar moedas que pedem, quase exigem, a cada condutor que passe por uma estrada que foi alvo de um remendo com pedregulhos.
O responsável de previsão dos serviços da meteorologia disse que a população “há muito que é avisada” sobre os perigos de construção de casas em zonas húmidas e que as próprias autoridades já têm em mãos os avisos de que este ano vai cair muita chuva.
Cherno Mendes também afirmou que sem um ordenamento hidroagrícola do país e sem que a população deixe de atirar lixo doméstico nos canais de drenagem de águas das chuvas, a destruição não vai parar na Guiné-Bissau.
A ministra da Solidariedade tem um fundo de 100 milhões de francos CFA (6,5 milhões de euros), instituído pelo governo para socorrer as vítimas do mau tempo, para já identificados em Bissau, Boé (leste) Cacine (sul) e toda a região de Cacheu (norte).
De momento, Conceição Évora tenta dar material de construção e víveres aos sinistrados, mas, dado os pedidos, tenciona lançar uma campanha de solidariedade para pedir apoios de empresários e pessoas singulares.
Ao mesmo tempo que leva ajudas aos afetados, muitos ao relento, a ministra da Solidariedade aproveita para sensibilizar a população a parar de construir nas zonas húmidas e a plantar árvores para enfrentar o vento.
Mas a grande meta da ministra da Solidariedade é acabar com casas cobertas de colmo em Bissau, alvo fácil das intempéries, salientando que só não avança com o processo de substituição pelos zincos fornecidos pelo governo devido ao “aumento exponencial” de pedidos de apoios da população.
Na segunda-feira, a Proteção Civil de Cabo Verde, vizinho marítimo da Guiné-Bissau, alertou para o mau tempo causado pela depressão tropical Dezoito, que se transformou na tempestade tropical Rene, com mais vento e mais chuvas.
Depressão tropical transforma-se em tempestade em Cabo Verde