O Lidl tem tido “um papel pioneiro nas boas práticas no seu setor”, desde logo ao recorrer a artigos e fornecedores com certificação que garanta a sustentabilidade, explica Pedro Almeida, diretor regional do Lidl para a Região Centro. Além disso, este grupo retalhista subscreveu compromissos das iniciativas Pacto Europeu para os Plásticos e Lisboa Capital Verde Europeia 2020. “As empresas têm obrigação de impulsionar novas e melhores soluções e oferta de produtos”, resume o responsável nesta entrevista sobre o papel do tecido empresarial na causa do desenvolvimento e da mobilidade sustentável.

Que papel cabe às empresas na causa da sustentabilidade?

As empresas têm uma responsabilidade perante a sociedade. Têm que sensibilizar, tem que ser um exemplo. Se é verdade que queremos satisfazer as necessidades atuais, não podemos comprometer a capacidade de satisfazer as necessidades de gerações futuras. No fundo, as empresas têm aqui um papel intermediário entre os fornecedores e o consumidor final. Têm obrigação de impulsionar novas e melhores soluções e oferta de produtos. O estudo recente Future Shopper afirma que uma das três grandes tendências do consumidor do futuro é a procura de heróis. Isto quer dizer o quê? Que os consumidores vão dar ainda mais importância à ética das marcas: sustentabilidade, envolvimento com a comunidade, empregabilidade, apoio às pessoas locais. No fundo, os consumidores procuram marcas cujos valores reflitam os seus próprios valores. Nesse estudo é referido que 56% dos consumidores consideram as práticas éticas e de transparência importantes na credibilidade de uma marca.

Diria que o tecido empresarial português, de uma forma genérica, está já hoje empenhado na sustentabilidade?

Penso que sim. É uma realidade cada vez mais visível. Provas desse envolvimento são, por exemplo, a nomeação de Lisboa como Capital Verde Europeia 2020 e o Pacto Europeu para os Plásticos, em que está representado um conjunto muito vasto de empresas portuguesas. O Green Deal, ou Pacto Ecológico Europeu, que procura responder ao desafio das alterações climáticas, vai muito à transformação dos atos de produção e consumo, para uma economia  limpa e circular. O objetivo é que a Europa seja o primeiro continente neutro em termos de emissões até 2050. É um plano muito ambicioso, mas Portugal e o seu tecido empresarial não podem deixar de seguir este rumo. Aliás, Portugal surge no grupo dos 30 países mais sustentáveis do mundo, segundo um relatório das Nações Unidas, mais precisamente na 26ª posição. Acho que estamos no bom caminho.

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Nesse caminho que está ser percorrido pelas empresas, que medidas concretas considera mais úteis?

Aqui iria basear-me no Pacto Ecológico Europeu, em que é destacada a descarbonização, a promoção de uma economia circular, o uso responsável dos materiais – com o plástico à cabeça –, a crescente relevância de “governance” e o consumo ético. São princípios transversais a vários setores e indispensáveis para uma boa conduta sustentável. Precisamos também de um maior trabalho em conjunto com toda a cadeia de valor e educação e sensibilização do próprio consumidor.

Que produtos ou práticas destaca na indústria do retalho?

O Lidl tem tido um papel pioneiro nas boas práticas no seu setor, nomeadamente na certificação de artigos e fornecedores. Por exemplo, 100% dos nossos fornecedores de frutas e legumes têm certificação Global GAP. Já desde 2016 que 100% do nosso bacalhau tem a certificação MSC, ou seja, proveniente de pesca sustentável, e 100% do cacau utilizado nos nossos produtos de marca própria tem diversas certificações, todas elas ligadas às boas práticas ambientais, como Fair Trade ou UTZ, Bio ou Rainforest Alliance. O Lidl foi também pioneiro no compromisso de redução em 20% no consumo de plástico em embalagens de marca própria até 2025. Fomos os primeiros a colocar um fim à venda de sacos de plástico para transporte de compras e com isso evitámos que entrassem em circulação 25 milhões de sacos de plástico por ano. Abdicámos , naturalmente, dessa faturação. Paralelamente introduzimos em 2019 uma alternativa sustentável para transporte de frutas e legumes, os “green bags”. São alguns do exemplos que me parecem relevantes.

No âmbito da iniciativa Lisboa Capital Verde 2020, que já referiu há pouco, o Lidl subscreveu em janeiro a agenda pela sustentabilidade. Dos compromissos assumidos, qual destacaria?

A utilização de energias 100% renováveis ou verdes no funcionamento de toda a operação do Lidl. Dos 14 compromissos assumidos, este é aquele que tem ligação mais direta com o principal objetivo da Lisboa Capital Verde, que é exatamente o combate às alterações climáticas. Seja na sede da empresa, seja nos seus quatro entrepostos, seja ainda nas suas 258 lojas, utilizamos apenas energia que provém de fontes 100% renováveis ou verdes. Aqui destacaria também a utilização de LED, o que diminui a própria utilização de energia, e ainda campanhas de sensibilização, como o ReMUSEU, em parceria com a Eletrão.

Ou seja, esses compromissos têm reflexos na ação do Lidl não só em Lisboa mas também no resto do país.

Claro que sim. Somos uma empresa com presença em todo o território e as questões ambientais não conhecem fronteiras.

Quanto ao Pacto Português para os Plásticos, também subscrito pelo Lidl, como funciona e que medidas foram adoptadas?

Este pacto permite-nos, em primeiro lugar, reafirmar o nosso compromisso em prol do ambiente. É um trabalho que já vínhamos desenvolvendo com fornecedores e parceiros, mas agora, com esta plataforma, podemos estender a colaboração a outros agentes nacionais. Fazemos um enfoque nos cinco erres – reduzir, redesenhar, reciclar, remover e reeducar – numa perspetiva de 360 graus, que por sua vez está integrada numa estratégia internacional do Grupo Schwarz , em que o Lidl se integra. A estratégia tem o nome REset Plastic e implica definir até 2020 uma lista de plásticos de uso único e medidas para a sua eliminação. Já em 2018 começámos a descontinuar a venda de plásticos descartáveis e dessa forma evitámos, por exemplo, a entrada no sistema de 12,5 milhões de copos ou cinco milhões de pratos por ano. Outra medida do pacto visa garantir que 100% das embalagens de plástico são recicláveis, reutilizáveis ou compostáveis e temos exatamente essa preocupação. Sempre que possível, optamos por embalagens que visam esse objetivo. As nossas garrafas de água com gás são um exemplo, porque incorporam 50% de plástico reciclável, e sempre que possível temos optado por embalagens de cartão que sejam certificadas. É um trabalho contínuo, nunca está feito, é uma preocupação nossa continuar cada vez mais a ter o plástico fora do nosso circuito.

Em termos de mobilidade sustentável, ou eléctrica, o Lidl tem apostado em Postos de Carregamento Rápido (PCR). Como é que estão a funcionar?

Essa possibilidade existe desde 2016 em várias lojas, em várias zonas do país: Abóboda, Sacavém, São Mamede Infesta, também na nossa sede. Estes postos permitem dois em um: as pessoas deixam o carro à carga, enquanto vão fazer as suas compras habituais, e regressam ao carro já carregado. Há uma clara vantagem a nível da poupança de tempo.

Há outras medidas pensadas para a mobilidade sustentável?

A frota do Lidl abrange já neste momento um camião movido 100% a gás natural, na zona de Sintra. Temos também um ligeiro elétrico e em 2018 iniciámos um processo de substituição da nossa frota por veículos com tecnologia diesel SCR, que tem como objetivo a redução das emissões de óxido de azoto, o que nos permite alcançar as metas traçadas pelas normas europeias.

Como é que as empresas podem sensibilizar os cidadãos para hábitos de consumo sustentáveis?

À partida, é necessário manter e reforçar o comportamento sustentável nas nossas casas, com hábitos de reciclagem, por exemplo. Penso que o Lidl consegue essa sensibilização através da proximidade que fomos estabelecendo com os nossos clientes. Com a oferta da melhor qualidade ao melhor preço, fomos conquistando a confiança das pessoas. Temos vários projetos – não é de agora, é de há vários anos – que apontam nesse sentido. O projeto Turma Imbatível, que promove estilos de vida sustentáveis, ou o Projeto Sustentar, que assenta na importância da economia circular e na valorização dos resíduos. Temos também utilizado as nossas plataformas digitais para dar a conhecer de forma direta e interativa exemplos de sustentabilidade. Em resumo, penso que as pessoas nos ouvem com atenção quando falamos de medidas relacionadas com a proteção do meio-ambiente.

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