O Presidente russo, Vladimir Putin, manifestou esta segunda-feira ao seu homólogo bielorrusso, Alexander Lukashenko, o apoio à reforma constitucional como forma de ultrapassar a crise no país vizinho, e rejeitou qualquer ingerência externa.
Conhecemos a sua proposta de iniciar o trabalho sobre a Constituição. Considero que é lógico, oportuno e conveniente”, disse Putin no início da sua reunião na residência presidencial na estância balnear de Sochi, no mar Negro.
No primeiro encontro entre os dois dirigentes desde o início dos protestos antigovernamentais na Bielorrússia, Putin sublinhou que a solução para a crise desencadeada na sequência das eleições presidenciais de 9 de agosto deve ser resolvida pelos próprios bielorrussos, sem interferências ou pressões vindas do exterior para que “alcancem uma solução comum”.
Putin, que previamente anunciou a formação de uma força policial conjunta para intervir na Bielorrússia em caso de necessidade, assinalou que Moscovo cumprirá as suas obrigações no âmbito da União estatal e da Organização do Tratado de segurança coletiva, que prevê o reforço dos laços políticos, económicos e militares.
O líder do Kremlin também frisou que encara a Bielorrússia como um estreito aliado e concordou com Minsk na concessão de um crédito avaliado em 1.500 milhões de dólares (1.266 milhões de euros).
Lukashenko agradeceu a Putin e ao povo russo o apoio na sequência do início dos protestos de massas em Minsk e em outras cidades do país.
Atuou de forma muito decente. Os amigos veem-se nos momentos de dificuldade”, afirmou.
O Presidente bielorrusso — no poder desde 1994 nesta ex-república soviética e eleito para um sexto mandato consecutivo com 80% dos votos expressos num escrutínio que a oposição considera fraudulento —, criticou durante a campanha eleitoral as tentativas russas de desestabilizar a situação no seu país, mas assegurou que aprendeu a “lição”.
Neste contexto, denunciou que os Estados Unidos deslocaram tropas e tanques a 15 quilómetros da fronteira bielorrussa, forçando Minsk a mobilizar o seu exército na região de Grodno, limítrofe com a Polónia e Lituânia, dois países da NATO.
Lukashenko, 66 anos, considerou ainda necessário que Moscovo e Minsk preparem os seus exércitos para “contrariar” uma possível agressão vinda do exterior.
Por sua vez, Putin indicou que as tropas russas, que serão enviadas a partir desta segunda-feira para a Bielorrússia no âmbito das manobras militares antiterroristas “Fraternidade eslava”, regressarão às suas bases quando terminarem os exercícios.
A reunião desta segunda-feira decorreu um dia após uma nova marcha pacífica contra Lukashenko em Minsk, proibida pelas autoridades e onde foram detidos mais de 770 manifestantes.
A líder da oposição bielorrussa no exílio, Svetlana Tijanovskaya, avisou esta segunda-feira Putin que os acordos que subscreveu com Lukashenko não terão qualquer valor legal.
Quero recordar a Vladimir Putin que tudo o que acordarem na reunião de Sochi não terá valor. Todos os acordos assinados pelo ilegítimo Lukashenko serão revistos pelas novas autoridades, porque o povo lhe retirou a confiança nestas eleições”, sublinhou Tijanovskaya numa mensagem vídeo.
“Lamento muito que tenhas decidido dialogar com um usurpador e não com o povo da Bielorrússia”, acrescentou.
A oposição considera a proposta de reforma constitucional proposta pelas autoridades de Minsk como uma tentativa de ganhar tempo e esvaziar os protestos nas ruas.
O apoio de Putin ao projeto de reformas internas, apesar das fricções no passado entre Moscovo e Minsk, é ainda encarado pelos receios da Rússia em assistir a uma saída precipitada de Lukashenko devido às pressões populares, também incentivadas pelas sanções que Estados Unidos e União Europeia estão dispostas a aplicar, numa situação que também poderia encorajar os críticos do líder do Kremlin no seu país.
Pavel Latushko, antigo ministro da Cultura e embaixador em França, forçado a abandonar a Bielorrússia após aderir ao Conselho de coordenação da oposição, avisou que, apesar de o Kremlin apoiar de momento Lukashenko, pode mais tarde fomentar a sua partida.
“Lukashenko desacredita-se a si próprio dia após dia, e quando perder completamente a sua autoridade, para Moscovo será mais fácil substituí-lo”, disse em declarações à agência noticiosa Associated Press (AP). “O Kremlin já tomou a decisão e está a mover-se para completar um cuidadoso plano para que Lukashenko seja removido”, acrescentou.