João Félix chegou no verão de 2019 a Madrid, foi apresentado com pompa e circunstância, correspondeu às expectativas na pré-época mas as consecutivas lesões e uma temporada abaixo da média do próprio Atl. Madrid deixaram o jogador português sempre aquém de tudo aquilo que prometeu. Este ano, Félix tinha outra oportunidade. E arrancou a época com as mesmas promessas que tinha deixado em branco na temporada anterior.

Marcou um golo contra o Granada, assistiu para outro, foi o ator secundário num dia em que o protagonista foi Suárez mas mereceu todos os elogios e mais alguns por parte da comunicação social espanhola. No final, reconheceu que as coisas estavam a correr bem — mas recusou a ideia de estar a fazer algo de forma diferente. “Fizemos um grande jogo, estamos muito felizes com a exibição da equipa. Estou a trabalhar como fiz no último ano, faço as coisas como tenho de fazer e procuro desfrutar ao máximo. Estou igual ao que já era, mas as coisas estão a sair-me bem. Tenho de continuar assim”, disse João Félix, acrescentando depois que o Atl. Madrid terá de encarar a época que agora começou “jogo a jogo” e sem “olhar muito para a frente”.

E Simeone, o nome sempre associado ao escasso sucesso do jogador português — ou por não colocar o avançado no local onde rende mais, ou por não acreditar no avançado ou por preferir um sistema que não privilegia as qualidades do avançado –, parecia estar em linha com a ideia de que Félix pode tornar-se um dos elementos mais importantes na temporada do Atl. Madrid. “Na temporada passada, na pré-época, ele jogou com o mesmo entusiasmo e alegria no jogo que tem mostrado agora, mas depois magoou-se com o Valencia. Fez um bom início de temporada, esperamos que possa sustentá-lo, que continue a crescer com a equipa e que possamos tirar proveito de um jogador de futebol que nos entusiasma muito”, disse o treinador argentino na antevisão da partida deste sábado, no Wanda Metropolitano, contra o Villarreal.

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Ainda assim, e já depois da entusiasmante goleada ao Granada, a verdade é que o Atl. Madrid empatou a meio da semana contra o Huesca e não foi além de um nulo no marcador. Este sábado, Simeone mantinha João Félix e Suárez na frente de ataque mas mudava peças tanto no setor intermédio como na defesa: saíam Vitolo, Marcos Llorente e Mario Hermoso, entravam Koke, Correa e Savic. Do outro lado, o Villarreal procurava dar seguimento à vitória a meio da semana contra o Alavés — depois da goleada em Camp Nou com o Barcelona no fim de semana — e colocava Parejo e Trigueros no apoio direto a Paco Alcácer.

João Félix assumiu o papel que todos querem mas um ex-portista roubou-lhe o protagonismo que tanto merecia

Numa primeira parte em que o Atl. Madrid teve mais bola mas não conseguiu fazer nada com essa posse, os colchoneros foram para o intervalo sem qualquer remate feito à baliza nem qualquer oportunidade criada. O Villarreal de Unai Emery estava a ser exímio na organização defensiva, impedindo a profundidade da equipa de Simeone que foi a cruz do Granada, e bloqueava por completo toda a criatividade dos jogadores do Atl. Madrid. João Félix estava demasiado encostado à ala esquerda, não tinha espaço para desequilibrar entre linhas e permanecia completamente anulado pela marcação de Mario Gaspar. Gaspar que, no vértice direito da grande área de Oblak, acabou por protagonizar o único lance de perigo do primeiro tempo, com um remate muito forte que o guarda-redes esloveno afastou com uma grande defesa (19′). Gerard Moreno, na direita da equipa de Emery, ia sendo o melhor do Villarreal e o jogador que tinha a capacidade para liderar a transição ofensiva.

Na segunda parte, o grande objetivo de Simeone, para além dos três pontos, era manter um registo que já leva alguns anos: em 12 encontros, nunca o treinador argentino perdeu com Unai Emery, somando sete vitórias e cinco empates. Mas a verdade é que a lógica do primeiro tempo mantinha-se e era o Villarreal, mesmo com menos bola, que tinha maior capacidade de causar perigo. Novamente por intermédio de Gaspar, que apareceu lançado na direita e já no interior da grande área, Oblak teve de se aplicar mais uma vez (50′) e o Atl. Madrid continuava sem qualquer rasgo nem inspiração, chegando ao primeiro remate enquadrado apenas aos 62 minutos.

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Suárez voltou a ser titular no Atl. Madrid depois de já ter jogado de início contra o Huesca

A cerca de 20 minutos do apito final, Simeone tirou Suárez, Correa e Koke para lançar Diego Costa, Yannick Carrasco e Marcos Llorente e deixou João Félix em campo, o que acaba por ser um voto de confiança no jogador português — que, ainda assim, poucas ou nenhumas oportunidades de desequilibrar teve na partida. Félix acabou por sair, para a entrada de Herrera, mas a história do jogo não se alterou.

O Atl. Madrid começou a temporada de forma impressionante, tropeçou desde logo com o Huesca e este sábado confirmou as visões mais pessimistas: o ano mudou, o disco também mas a equipa de Simeone está a tocar o mesmo. Que é pouco, que não chega para vitórias e chega ainda menos para conquistas. A dada altura do encontro com o Villarreal, que acabou com o segundo nulo consecutivo, parecia que estávamos a assistir a um jogo da temporada passada — tanto do Atl. Madrid como de João Félix como de Diego Simeone.