7 de outubro de 2002. Pouco depois da meia-hora do Sporting-Moreirense, no antigo Estádio José Alvalade, Cristiano Ronaldo abriu o marcador da partida e estreou-se a marcar como jogador profissional. Antes do fim do jogo, ainda assinou o 3-0 final, carimbando logo ali — e com apenas 17 anos — o primeiro bis da carreira. Foi há precisamente 18 anos.

15 de junho de 2018. Cristiano Ronaldo abriu o marcador logo aos quatro minutos, de grande penalidade, e colocou Portugal a vencer Espanha na jornada inaugural da fase de grupos do Mundial da Rússia. Diego Costa empatou, Ronaldo respondeu ainda antes do intervalo mas dois golos dos espanhóis na segunda parte, outro do agora avançado do Atl. Madrid e um de Nacho, confirmaram a reviravolta. A dois minutos dos 90′, o capitão da Seleção Nacional empatou o resultado de livre direto e completou aquela que é ainda uma das melhores exibições de sempre de Cristiano Ronaldo ao serviço de Portugal.

Ficha de jogo

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Portugal-Espanha, 0-0

Jogo particular

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Paolo Valeri (Itália)

Portugal: Rui Patrício, João Cancelo, Pepe (Rúben Dias, 45′), Rúben Semedo, Raphaël Guerreiro (Nélson Semedo, 68′), Rúben Neves, João Moutinho (William, 45′), Renato Sanches, Trincão (Diogo Jota, 79′), Cristiano Ronaldo (João Félix, 73′), André Silva (Bernardo Silva, 45′)

Suplentes não utilizados: Anthony Lopes, Rui Silva, Sequeira, Bruno Fernandes, Danilo, Rafa Silva

Treinador: Fernando Santos

Espanha: Kepa, Sergi Roberto, Llorente, Eric García (Sergio Ramos, 82′), Reguilón (Gayà, 45′), Sergio Busquets (Traoré, 61′), Dani Ceballos (Merino, 45′), Canales (Rodri, 61′), Rodrigo (Campaña, 45′), Dani Olmo, Gerard Moreno

Suplentes não utilizados: De Gea, Unai Simón, Pau Torres, Ansu Fati, Ferrán Torres, Jesús Navas

Treinador: Luis Enrique

Golos: nada a registar

Ação disciplinar: cartão amarelo a Reguilón (44′), a Rúben Semedo (56′)

7 de outubro de 2020. 18 anos depois dos dois golos ao Moreirense, a cumprir o 200.º jogo por Portugal ao longo de todos os escalões e a defrontar Espanha pela primeira vez desde o livre direto na Rússia, Cristiano Ronaldo tinha a oportunidade de assegurar a vitória que ficou pendente há dois anos e ainda aproximar-se do recorde de Ali Daei. Afinal, só faltavam oito golos — e desde 2002 e depois do bis em Alvalade, Ronaldo marcou mais 740.

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Com José Fonte infetado com a Covid-19, Fernando Santos chamou Domingos Duarte, o jovem central do Granada que já integrou a última convocatória. Outra das baixas na lista era Mário Rui, lateral direito do Nápoles que ficou impedido de sair de Itália depois dos casos positivos registados no clube na última semana; Sequeira, jogador do Sp. Braga, foi o substituto eleito e foi chamado pela primeira vez à Seleção. Assim, e no onze inicial para defrontar Espanha no encontro particular de Alvalade — que servia de preparação para o duplo compromisso da Liga das Nações, contra França e Suécia –, o selecionador nacional optava por dar a titularidade a Trincão e André Silva na frente de ataque, junto a Cristiano Ronaldo.

O agora jogador do Barcelona cumpria a segunda internacionalização e estreava-se a titular enquanto que, na defesa, existia espaço para uma estreia absoluta: Rúben Semedo, central do Olympiacos, estava no onze inicial e jogava pela primeira vez por Portugal. Nos titulares, destaque ainda para Renato Sanches, que aparecia no meio-campo com Rúben Neves e João Moutinho — o médio do Lille voltava à seleção portuguesa quase dois anos depois, já que a última vez que tinha jogado tinha sido em novembro de 2018. Do lado espanhol, Sergio Ramos era suplente, o jovem Eric García era titular no eixo da defesa e o ataque era composto por Rodrigo, Dani Olmo e Gerard Moreno.

Alvalade voltava a receber público sete meses depois — o último jogo do Sporting com adeptos, frente ao Desp. Aves, foi a 8 de março — e as bancadas do estádio contavam esta quarta-feira com 5% de capacidade, algo como 2500 pessoas, para assistir ao duelo ibérico. Numa primeira parte que terminou sem golos, Portugal foi manifestamente inferior principalmente durante a meia-hora inicial e demonstrou sempre muitas dificuldades na tarefa de parar a intensidade do ataque espanhol. Dani Olmo, Rodrigo e Gerard Moreno, o trio ofensivo da equipa de Luis Enrique, conseguiam quase sempre entrar na profundidade e romper pelas costas da defesa portuguesa. Rúben Semedo, principalmente, ia tendo muito trabalho com as movimentações de Rodrigo, que tanto aparecia em corridas verticais para abrir espaço para Olmo como vinha da direita para dentro para rematar de fora de área.

No meio de tudo isso, era Rui Patrício quem ia segurando o nulo em Alvalade. O guarda-redes do Wolverhampton fez diversas defesas: parou Moreno logo nos instantes iniciais (2′), encaixou um remate de Olmo (12′) e segurou outro pontapé de Rodrigo (17′). Pelo meio, Raphael Guerreiro teve um corte providencial que evitou que Rodrigo ficasse com a baliza deserta pela frente (7′) e o mesmo avançado do Leeds atirou de fora de área mas ao lado (11′). A jogar em 4x3x3, Portugal tinha Renato Sanches tombado na esquerda do meio-campo, Rúben Neves no lado contrário e Moutinho na faixa central, enquanto que o trio ofensivo — apesar de ter pouca ou nenhuma bola durante a primeira meia-hora — mostrava ter sempre muita mobilidade, com Ronaldo, Trincão e André Silva a trocarem normalmente de posições, ainda que a disposição mais usual fosse ter o avançado do Eintracht Frankfurt no meio, o do Barcelona na direita e o capitão na esquerda.

O primeiro remate da Seleção Nacional apareceu já perto da meia-hora, com Renato Sanches a atirar muito de longe e muito por cima da baliza (26′), mas foi esse lance a equilibrar ligeiramente a dinâmica da partida. Até ao intervalo, Espanha acabou por perder intensidade e preponderância ofensiva e Portugal, apesar de sempre com perigo relativo, aproximou-se da baliza de Kepa e passou mais tempo no meio-campo adversário. Antes ainda do final da primeira parte, Raphael Guerreiro rematou muito por cima na recarga depois de um cabeceamento falhado de Ronaldo (43′) e o próprio capitão da Seleção Nacional bateu de cabeça ao lado depois de um livre batido por Moutinho na direita (45′).

No início da segunda parte, Fernando Santos tirou Pepe, João Moutinho e André Silva e colocou Rúben Dias, William Carvalho e Bernardo Silva em campo. Do outro lado, Luis Enrique lançou Gayà, Campaña e Merino e os primeiros instantes serviram para perceber que a enorme superioridade que Espanha tinha tido na primeira parte parecia ter-se esfumado ligeiramente. A confirmação apareceu ainda antes de estarem cumpridos os dez minutos iniciais do segundo tempo: Cristiano Ronaldo, com um movimento do meio para a esquerda, tirou um pontapé violento já no interior da grande área que esbarrou na trave da baliza de Kepa (53′).

Mesmo com menos acutilância ofensiva por parte de Espanha, Portugal não tinha capacidade para construir a partir de trás e só conseguia chegar ao último terço adversário em transições rápidas ou lances de jogo direto. Por outro lado, a seleção de Luis Enrique procurava sempre desenhar jogadas de ataque ponderadas e com base na posse de bola, atraindo os jogadores portugueses para depois explorar as costas da defesas com passes verticais. Ainda assim, e mais uma vez, acabava por ser Portugal a ficar mais perto do golo e por intermédio de situações de transição: Ronaldo foi solicitado por Trincão na esquerda, cruzou de trivela para o lado oposto e Renato Sanches, de primeira, atirou em força para acertar também na barra (67′).

Espanha respondeu ao remate de Renato com um lance de Adama Traoré, que ultrapassou Nélson Semedo na direita e cruzou atrasado para Dani Olmo. O avançado do RB Leipzig rematou rasteiro mas Rui Patrício, com o pé, voltou a segurar o empate (67′). Traoré, no corredor direito do ataque espanhol, foi mesmo o jogador em evidência na segunda parte e causou muitas dificuldades tanto a Guerreiro como a Semedo, através da velocidade que imprime nas transições e do poderio defensivo. Logo depois do remate de Olmo e da defesa de Patrício, Fernando Santos tirou Cristiano Ronaldo e lançou João Félix.

Até ao fim, já pouco aconteceu. Sergio Ramos ainda entrou, João Félix falhou um desvio nos últimos instantes e o duelo ibérico terminou sem golos. Espanha foi melhor na primeira parte e deixou expostas as fragilidades defensivas de Portugal, Portugal mostrou que precisa de pouco para chegar às balizas adversárias e causar perigo. No fim, as equipas de Fernando Santos e Luis Enrique acabaram empatadas e com uma matemática simples: 2500 adeptos, duas traves, cinco defesas de Rui Patrício e zero golos.