Mais de 300 cientistas que se dedicam a estudar os cetáceos (baleias, golfinhos e botos) alertam, numa carta aberta, para o “risco real e iminente” de extinção de algumas destas espécies. Os especialistas acusam os governos, incluindo aqueles de “países relativamente ricos”, de fazer “muito pouco e tarde demais” para contrariar uma situação que avisam ser “crítica”.
“A falta de ações concretas para enfrentar as ameaças que afetam adversamente os cetáceos nos nossos mares cada vez mais ocupados, poluídos, superexplorados e dominados pelo homem e nos principais sistemas fluviais, significa que muitos, um após o outro, provavelmente serão declarados extintos durante o nosso tempo de vida”, alertam os cientistas, que incluem vários cientistas ligadas a universidades portuguesas.
Os especialistas alertam que nem “mesmo as grandes baleias estão seguras”. Uma das espécies destacadas na carta aberta é a baleia-franca-do-Atlântico-Norte, que terá nesta apenas “algumas centenas de adultos” vivos – uma situação causada por “fatores que (…) são bem conhecidos e, acreditamos, podem ser resolvidos”. “A menos que ações efetivas aconteçam rapidamente, sem dúvida perderemos essa espécie”, pode ler-se na carta.
As populações de cetáceos são adversamente afetadas por muitos fatores de interação, incluindo poluição química e sonora, perda de habitat e presas, mudanças climáticas e colisões com embarcações. Para muitos, a principal dessas ameaças é a captura acidental nas operações de pesca”.
“Da mesma forma, a vaquita, Phocoena sinus, do Golfo da Califórnia, México, está ‘Criticamente em Perigo’ e à beira da extinção, com um tamanho populacional estimado que pode chegar a apenas dez
indivíduos”, dizem os cientistas, acrescentando que “agora é quase inevitável que essas duas espécies sigam o baiji ou golfinho-de-rio-chinês, Lipotes vexillifer, no caminho da extinção”.
De um ponto de vista geral, os cientistas salientam que das 90 espécies vivas de cetáceos, mais de metade estão num estado de conservação “preocupante”, de acordo com a análise da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN). E pedem, por isso, que os países com cetáceos nas suas águas tomem “medidas de precaução para garantir que essas espécies e populações sejam adequadamente protegidas das atividades humana”, designadamente com recurso a novas tecnologias que permitem seguir estes animais.
Todas as nações devem trabalhar com e fortalecer os órgãos internacionais relevantes que buscam abordar as ameaças aos cetáceos, incluindo, mas não se limitando à Comissão Baleeira Internacional e à Convenção para a Conservação de Espécies Migratórias de Animais Silvestres, os quais estão a promover importantes iniciativas de conservação neste momento. Em primeiro lugar, entre outras organizações internacionais relevantes, estão os órgãos regionais de pesca, que podem abordar as ameaças aos cetáceos relacionadas à pesca, observando a necessidade urgente de lidar com esses impactos em muitas populações”.
Os cientistas concluem que, “como a pandemia Covid-19 mostrou, a nossa conexão com a natureza é um componente-chave para o nosso próprio bem-estar”. “Baleias, golfinhos e botos são vistos e apreciados em todo o mundo e são considerados como espécies carismáticas, inteligentes, sociais e inspiradoras; não devemos negar às gerações futuras a oportunidade de conhecê-las”, afirmam os cientistas, acrescentando que estes animais são, também, “sentinelas da saúde dos nossos mares, oceanos e, em alguns casos, dos principais sistemas fluviais”. “O papel dos cetáceos na manutenção de
ecossistemas aquáticos produtivos, que são fundamentais para a nossa sobrevivência, bem como a deles, também está a tornar-se mais claro”, concluem.