O biólogo Miguel Araújo alertou esta segunda-feira que Portugal será um dos países que tem mais a perder com as ameaças à biodiversidade, admitindo que as metas de conservação definidas a nível europeu poderão ser irrealistas.

Na abertura da Semana Verde Europeia, que se realizou na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, o investigador da Universidade de Évora indicou que com as mudanças no clima assentes em anomalias que se preveem para as próximas décadas, incluindo fenómenos climáticos extremos, os habitats ficarão cada vez mais ameaçados e “Portugal estará entre os países que mais perderão” na variedade de espécies que congregam no seu território.

Apesar de a União Europeia ter definido como metas até 2030 a colocação de 30 por cento de áreas terrestres e marinhas sob estatuto de conservação, Miguel Araújo destacou que “a velocidade da destruição não é equivalente à velocidade da resposta”, pelo menos para já.

Defendeu que é preciso aproveitar o impulso que resulta de o ambiente “ser uma prioridade elevada na agenda política” e que a biodiversidade, especificamente, precisa de se tornar mais presente na consciência pública, como já acontece com as alterações climáticas.

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O arquiteto Paulo Farinha Marques, do Jardim Botânico do Porto, defendeu que é preciso intervir junto dos humanos para conseguir resultados na defesa da biodiversidade, indicando que os hábitos de consumo atuais são incompatíveis com os resultados que se pretende alcançar.

A investigadora e catedrática Helena Freitas, da Universidade de Coimbra, afirmou que “a conservação dos ecossistemas e da biodiversidade é o alicerce de uma economia sustentável”, destacando que não é possível, para atingir as metas, continuar “a apoiar políticas lesivas [para o ambiente] na agricultura, criação florestal e pesca” intensivas.

À frente de imagens de estufas no parque natural do Sudoeste alentejano e das pedreiras na Serra da Arrábida, Miguel Araújo afirmou: “Não podemos querer ter Natureza e estar a consumi-la ao mesmo tempo”.

Espécies emblemáticas como o lince ibérico tenderão a ser empurradas mais para norte, onde subsistirão zonas que lhes fornecem alimento e uma das estratégias para ajudar as espécies a manter-se, que vale para o lince e para todas, poderá ser a criação de “corredores a ligar áreas protegidas para facilitar a mobilidade”.