A organização Amigos de Angola apelou ao Presidente angolano, João Lourenço, para libertar todos os manifestantes detidos no protesto de sábado em Luanda, defendendo o fim da violência contra ativistas.

A marcha de sábado, convocada por ativistas da sociedade civil, mas que contou com a adesão da UNITA e outras forças da oposição, visou reivindicar melhores condições de vida, mais emprego e a realização das primeiras eleições autárquicas em Angola, que estavam previstas para este ano, mas foram adiadas sem nova data.

A organização não-governamental cita testemunhas segundo as quais “a polícia agiu brutalmente” contra os manifestantes, recorrendo a “gás lacrimogéneo, cavalos e veículos policiais para intimidar e dispersar um protesto pacífico” e que foram negados cuidados médicos aos feridos. “Pedimos ao Presidente Lourenço para libertar todos os manifestantes que foram ilegalmente detidos durante o protesto”, lê-se num comunicado divulgado pelos Amigos de Angola.

Salientam que a manifestação estava de acordo com a Constituição angolana e pedem a abertura de uma investigação para “trazer à justiça os responsáveis”, pelo que consideram uma violação de direitos por parte das autoridades. “Estes direitos estão claramente declarados na Constituição e na Declaração Universal dos Direitos Humanos ratificada por Angola, mas vão sendo violados por autoridades que, por imperativo legal, deviam ser as primeiras a respeitá-los”, argumentam.

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Os Amigos de Angola salientam que os manifestantes apenas exibiam cartazes, estavam desarmados e protegeram-se com máscaras faciais, “respeitando a distância física necessária no contexto do combate à pandemia da covid-19”. Defendem ainda que os motivos para a manifestação são justificados: “A falta de oportunidades de emprego, a corrupção endémica que continua a custar milhões ao erário angolano e a falta de uma comissão eleitoral independente”. “Esperamos que o Presidente Lourenço acolha os valores democráticos e respeite a liberdade de expressão e de reunião dos cidadãos angolanos”, acrescentam.

O presidente do Sindicato dos Jornalistas de Angola (SJ) lamentou este domingo a atuação da polícia durante a manifestação de sábado em Luanda e informou que foram detidos seis jornalistas, um dos quais agredido pela polícia. Em declarações à Lusa, Teixeira Cândido repudiou os acontecimentos e afirmou que foram detidos três jornalistas da Radio Essencial, bem como o seu motorista, dois da TV Zimbo (um repórter e um operador de câmara) e um fotógrafo da agência de notícias francesa AFP.

Segundo Teixeira Cândido, a polícia obrigou o operador de câmara da TV Zimbo a apagar as imagens e agrediu o fotógrafo da AFP, apesar de este se ter identificado como jornalista. O responsável salientou que a direção do sindicato vai reunir-se para analisar os acontecimentos de sábado e irá tomar posição sobre a atuação da polícia.

“Há um ano, solicitámos um encontro ao comandante provincial da polícia de Luanda e saímos de lá com a garantia de que não haveria mais detenções nem agressões. Infelizmente, voltou a acontecer e com brutalidade”, criticou.

A Lusa contactou a polícia para obter mais informações sobre as detenções, mas não obteve resposta até ao momento.

Um deputado da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), Nelito Ekuikui, foi também agredido, tal como alguns ativistas, que tiveram de ser assistidos no hospital. A governadora de Luanda, Joana Lina, considerou a manifestação, que foi fortemente reprimida pela polícia, como “um ato de vandalismo e desacato às autoridades”, citada no Jornal de Angola.

Joana Lina lamentou as “cenas de violação das medidas contidas no Decreto Presidencial em vigor desde as primeiras horas de ontem” e sublinhou que são proibidos os ajuntamentos. Afirmou ainda que não está em causa o impedimento ou limitação de direitos fundamentais, declarando que “é a própria Constituição que exige ponderação entre a liberdade de se manifestar e o dever de proteger a vida humana”.

Por outro lado, lamentou os “prejuízos incalculáveis” e apontou fins “inconfessos” de pessoas que tentam manipular os jovens. A marcha, convocada por ativistas da sociedade civil, contou com a adesão da UNITA e outras forças da oposição e visava reivindicar melhores condições de vida, mais emprego e a realização das primeiras eleições autárquicas em Angola.