Portugal voltou a bater recordes esta segunda-feira no que à pandemia de Covid-19 diz respeito: no número de mortos, de doentes nos cuidados intensivos e de internamentos em geral. Mas ainda não há a mais pequena pista de quando vamos atingir o pico desta segunda vaga. A diretora-geral da Saúde, durante a conferência de imprensa sobre o estado da pandemia, foi mais longe e diz que haverá vários picos, porque esta pandemia não é uma montanha, mas uma cordilheira. Por explicar ficou a possibilidade de novas medidas nas escolas e a fundamentação para o encerramento de feiras e mercados acabou por ser revertida com o recuo do Governo, pouco tempo depois da conferência de imprensa da diretora-geral.

Estamos a correr uma maratona sem fim, não sabemos quando vai acabar. Provavelmente teremos outras ondas, outras curvas e outros picos. Acaba por ser mais uma cordilheira”, disse Graça Freitas, durante a conferência de imprensa.

Uma das dificuldades para se conseguir perceber quando se atinge o pico da doença é não existir histórico. “Não sabemos o tamanho da montanha”, afirmou Graça Freitas. Mesmo em relação à gripe, para a qual existe os registos dos anos anteriores, a diretora-geral da Saúde confessa que, muitas vezes, só sabe que se chegou ao pico de infeções depois de já estar a descer.

Por isso, e vendo os números a crescer diariamente, Graça Freitas reforçou várias vezes o pedido para que as pessoas mudem de comportamento e ajudem a achatar a curva, que significa diminuir o número de novos casos, novos internamentos e novos óbitos. “Estamos numa fase ascendente, estamos numa curva epidémica com tendência a crescer, e temos de recordar a todo o momento que é nossa responsabilidade achatar essa curva.”

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O meu primeiro apelo é para não baixarmos a guarda por muito cansados que estejamos”, pediu Graça Freitas, reconhecendo que a fadiga pandémica é um problema.

A prevenção é a melhor forma de achatar a curva, reforçou a diretora-geral da Saúde, que acrescentou que apesar de os profissionais de saúde fazerem todo o possível para tratar bem os doentes, o melhor mesmo é não adoecer.

E, para isso, é preciso reduzir o número de contactos, sem deixarmos de trabalhar, ir à escolas ou às compras. “O básico é manter a distância física”, uma distância de dois metros, disse Graça Freitas. E, naturalmente, usar máscara, lavar ou desinfetar as mãos e evitar levar as mãos à cara.

“Uma bolha é um sítio isolado, mas não é inviolável”, alertou Graça Freitas. As pessoas que vivem na mesma casa podem considerar que vivem na mesma bolha, o que mesmo assim não impede que algum dos elementos traga o vírus para casa. Também podem existir bolhas de proteção nas escolas e no trabalho, pessoas com quem cada um contacta mais, mas a diretora-geral da Saúde avisou que familiares que vivam noutras casas não fazem parte da nossa bolha e que nem todos os colegas (na escola ou no trabalho) são da nossa bolha.

A prevenção, no entanto, passa também por medidas implementadas pelo Governo, pelas empresas e por outras entidades, que têm de criar as condições necessárias para as pessoas se protegerem e se manterem em segurança — sendo as escolas e os locais de emprego dois exemplos.

Somos todos agentes de saúde pública. Contamos uns com os outros. Esta é uma doença que afeta toda a gente”, disse Graça Freitas. “Os nossos comportamentos são a grande barreira entre nós e o vírus para achatarmos a curva e termos melhor saúde e melhor vida.”

É por isso que Graça Freitas defende que cada pessoa faça uma auto monitorização, que analise se tem sintomas, medindo a temperatura, percebendo se perdeu o olfato ou paladar, se têm tosse ou dores no corpo.

Além da prevenção, a diretora-geral da Saúde recordou outras medidas para conter a pandemia: testar; acompanhar os doentes e todos aqueles que precisam dos profissionais de saúde; rastrear aqueles que tiveram em contacto com doentes e isolá-los para não continuarem a propagar a doença; humanizar toda a atuação na área da saúde.

Não há novas medidas para as escolas

Apesar de estado de exceção, um das questões que tem sido garantida pelo Governo é que as escolas não vão encerrar e o ensino vai continuar a ser presencial. “O que temos estado a fazer com as escolas, é sobretudo melhorar a comunicação”, afirmou Graça Freitas.

Mais do que novas regras, estamos a comunicar melhor essas regras à comunidade educativa, pela parte do Ministério da Educação, e à comunidade da saúde, pela parte da Direção-Geral da Saúde e pela parte das autoridades de saúde”, disse a diretora-geral da Saúde.

Graça Freitas destacou ainda que “as escolas têm sido locais relativamente seguros”. Mesmo os casos não têm representado uma grande fonte de transmissão, sobretudo nas escolas com crianças mais pequenas.

Porém, quando questionada sobre os adolescentes, nomeadamente se o potencial de transmissão do vírus equivalente aos dos adultos pode levar à adoção de novas medidas para o ensino secundário, a diretora-geral da Saúde não respondeu diretamente, limitando-se a confirmar que o padrão de transmissão nos adolescentes era mais semelhante ao dos adultos do que ao das crianças de seis anos.

O que sabemos é que o período a que se chama a infância não é todo igual, é diferente uma criança até aos seis anos, depois à medida que as crianças vão crescendo — aqui, adolescentes e jovens — vão-se aproximando de um padrão [de transmissão] parecido com os adultos. E, por isso, é que é mais fácil, se for necessário, tomar medidas no ensino superior para nem todas as aulas serem presenciais”, diz Graça Freitas.

A referência da diretora-geral da Saúde aos estudantes universitários foge, no entanto, da pergunta sobre os adolescentes no ensino secundário, uma vez que já são considerados adultos e, tal como Graça Freitas diz, “conseguem autonomamente formas de ensino à distância”.

As feiras proibidas que afinal não o são e o público no futebol

Com motivos bastante diferentes, neste período de exceção, as feiras e mercados de levante eram para ficar parados, enquanto as lojas e centros comerciais continuarim a abrir as portas. Mas logo após a conferência de imprensa de Graça Freitas, o Governo decidiu recuar e permitir também as feiras e mercados. O fecho de feiras e mercados foi justificado assim pela DGS: “Neste período de exceção temos de ter alguma paciência, porque temos mesmo de achatar a curva”.

Mas pouco depois tudo mudou, com o anuncio de que afinal das feiras iam mesmo continuar.

Governo recua e permite realização de feiras e mercados. Graça Freitas desautorizada

Já sobre os testes-piloto com público no futebol, Graça Freitas disse que correram bem, e que a suspensão dos mesmos não significa que vão ser interrompidos definitivamente. A diretora-geral justificou a medida como uma suspensão durante “esta fase de achatar a curva”, em que é “necessário agir em todas as direções”.

Logo que houver condições, uma vez que o setor se tem comportado de forma tão controlada, retomarão os testes-piloto. Agora, estamos na fase de apertar medidas”, diz Graça Freitas.

Sobre as medidas restritas agora impostas, há outra que levantou dúvidas: porque é que se podem sentar seis pessoas à mesa de um restaurante, quando os ajuntamentos só permitem cinco pessoas? “Por definição, o sítio da restauração, a mesa, é um local onde as pessoas não se movem, não deambulam, chegam, sentam-se e saem depois de terminarem a refeição”, responde Graça Freitas.

Maior parte dos infetados recupera em casa

Portugal registou, esta segunda-feira, 60.962 casos ativos de infeção pelo novo coronavírus, mais 937 do que no sábado. Graça Freitas diz que cerca de 96% destes casos ativos estão a recuperar no domicílio. Além disso, há 66.500 pessoas em isolamento profilático por terem contactado com pessoas infetadas.

Dos 2.255 internamentos nos hospitais, 294 são em unidades de cuidados intensivos. A maior parte dos doentes em unidades de cuidados de intensivos têm mais de 50 anos, diz Graça Freitas. Abaixo dos 50 anos também existem pessoas nos cuidados intensivos, mas menos. “Os jovens não estão imunes a ter doença grave, têm é com menos frequência do que os mais idosos.”