Há oito dias, o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS) – composto pelo Hospital Padre Américo, em Penafiel, e o Hospital São Gonçalo, em Amarante — atingiu um pico de 235 internados com Covid-19, dos quais 11 em cuidados intensivos, numa capacidade total de 454 camas. O Observador ouviu profissionais de saúde que davam conta de 800 atendimentos diários no serviço de urgência, mais de 30 pessoas internadas naquele local e num corredor dividido com paredes pladur improvisadas, períodos de espera que ultrapassavam as 10 horas, onde infetados conviviam com casos suspeitos, e a falta de material obrigava a que fossem usadas as macas dos próprios bombeiros.

Três dias depois, a ministra da Saúde visitou o Hospital de Penafiel e encontrou um cenário bem diferente, com o serviço de urgência praticamente vazio e apenas 163 doentes internados positivos, dos quais 8 em cuidados intensivos e um em cuidados intermédios.  Ao Observador, a Secção Regional do Norte da Ordem dos Enfermeiros avança que em apenas dois dias, o CHTS “deu 82 altas e teve 12 óbitos de doentes Covid-19”, o que pode ter explicado o “milagre” da queda dos números.

Às altas médicas somaram-se a transferência de mais de 300 doentes Covid-19 para outros hospitais, tanto públicos como privados, ao longo de vários dias. “A diminuição dos internados tem a ver com a transferência de doentes para outros hospitais da região. Estas transferências têm-se intensificado, prevendo-se que diminua a pressão no funcionamento do hospital nos próximos dias”, referiu à agência Lusa fonte do CHTS.

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Contactado pelo Observador, o Conselho de Administração do CHTS explica que as transferências de doentes, tal como acontece ao longo do ano, “são realizadas de acordo com a necessidade e disponibilidade de outros hospitais”. Mas mesmo depois de implementar novas medidas, como o aumento da área do serviço de urgência e a instalação um drive-thru para a realização de mais testes, o CHTS garante que, apesar dos doentes já transferidos, “continua sob pressão”.

“Estão internados por Covid-19, no total, 197 doentes, dos quais 10 estão em cuidados intensivos”, o que significa que a capacidade de medicina intensiva se encontra esgotada. A SIC Notícias revela ainda que existem neste momento 12 internados nas urgências, dos quais 7 positivos e os restantes aguardam o resultado de testes.

Doentes transferidos para vários hospitais, de Bragança a Lisboa

Ao serviço de urgência do Hospital de São João, no Porto, chegaram 175 doentes positivos do CHTS, 58 foram internados, dos quais 17 em cuidados intensivos. “À data de hoje, ainda se encontram internados 29 doentes Covid-19 positivos do CHTS”, adianta aquela unidade ao Observador. No entanto, são muitos os doentes da região do Tâmega e Sousa que têm chegado “por meios próprios” ao São João. Entre os dias 1 de outubro e 6 de novembro, aquele hospital recebeu 1.994 doentes na urgência provenientes daquela área geográfica, onde até ao momento se encontram 126 doentes internados, dos quais 26 em intensivos.

“De acordo com as redes de referenciação hospitalar, o Hospital de São João tem recebido doentes do CHTS com infeção a Covid-19, mas também com outras patologias, especialmente as mais complexas e com necessidade de cuidados mais diferenciados. Estes doentes têm chegado ao São João por meios próprios, transportados pelo INEM ou transferidos entre instituições hospitalares.”

A 30 de outubro, o Hospital das Forças Armadas – Polo do Porto recebeu 10 doentes infetados do Hospital de Penafiel e a 5 de novembro viu chegar mais 20 positivos vindos do Hospital de Amarante. “Encontram-se todos internados em enfermarias de isolamento”, afirma o porta-voz do Estado Maior General das Forças Armadas.

Durante a semana passada, o Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho disponibilizou 20 camas numa enfermaria de medicina interna exclusiva para doentes Covid-19. “Recebemos 18 pessoas do CHTS, mas já demos altas. Neste momento temos 13 doentes internados”, revela o hospital ao Observador, acrescentando que a capacidade pode aumentar consoante a necessidade.

“Desde meados do mês de outubro” que o Hospital de Braga tem internado doentes Covid-19 transferidos do CHTS. Já recebeu 33 pacientes, no entanto, não adianta quantas altas deu entretanto. No Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, que reúne os hospitais de Chaves, Lamego, Peso da Régua, Vila Real e Vila Pouca de Aguiar, revela ter internado até à data “aproximadamente duas dezenas de doentes” vindos do Tâmega e Sousa. Já a Unidade de Saúde Local do Alto Minho, onde integram os hospitais de Viana do Castelo e Ponte de Lima, confirma ao Observador que até agora recebeu 12 doentes infetados vindos de Penafiel.

Também o Centro Hospitalar Tondela-Viseu recebeu na passada quinta-feira, dia 5 de novembro, um homem com 74 anos transferido do CHTS. “Está positivo à Covid-19 e encontra-se na Unidade de Cuidados Intensivos”, afirma fonte hospitalar ao Observador.

A Unidade Local de Saúde do Nordeste, que junta os hospitais de Bragança, Mirandela e Macedo de Cavaleiros, informa desde o dia 20 de outubro recebeu 12 doentes transferidos do CHTS, dos quais 11 ficaram internados em enfermaria e 1 em cuidados intensivos. “Destes doentes, com uma média de idades entre os 70 e os 80 anos, mantêm-se 7 em enfermaria e 1 no serviço de medicina intensiva.” 

A rutura sentida no Hospital Padre Américo, em Penafiel, sentiu-se também a sul do país, levando o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, a receber durante a semana passada 10 infetados do CHTS. “Encontram todos internados em enfermaria”, avança fonte do Santa Maria. E se os hospitais públicos funcionam em rede e são forçados a disponibilizarem camas que tenham disponíveis, no que toca aos hospitais privados a disponibilidade em acolher doentes Covid-19 também se verificou e alguns já trabalham para aumentar a sua capacidade de internamento, tanto em enfermaria como em cuidados intensivos.

O Hospital CUF Porto afirma ter internado até agora três doentes positivos do Tâmega e Sousa, acrescentando estar a reforçar a capacidade de camas. “Das 20 atuais para 36 camas, 22 no Porto e 14 em Lisboa. Destas, 9 são camas de cuidados intensivos”, explica fonte hospitalar. Também ao Hospital-Escola da Universidade Fernando Pessoa, em Gondomar, têm chegado doentes do CHTS. Segundo a Administração Regional de Saúde do Norte, pelos menos 20 já foram transferidos.

O Observador tentou contactar o grupo Trofa Saúde para confirmar o número de doentes recebidos, mas até ao momento sem sucesso. Ao contrário do que o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, adiantou a 28 de outubro, enumerando o Hospital Lusíadas como uma das unidades “com as quais as autoridades estão em contacto para receber doentes Covid”, ao Observador a Lusíadas Saúde garante “não estar a receber doentes do CHTS”.