Não foi necessário esperar muito para que surgisse um novo caso, em que mais um concessionário oficial da Nissan fosse “apanhado” a orçamentar por um valor 2,4 vezes mais elevado uma bateria de substituição para um Leaf 40. Um leitor do Observador, Flávio Batista, contactou-nos para denunciar o seu caso: tem um Leaf parado há cerca de um mês, a necessitar de uma nova bateria, mas o orçamento é superior ao valor do modelo.

Há uma semana, trouxemos-lhe aqui a história de um condutor de um Nissan Leaf 40 a quem o Entreposto Lisboa, um dos concessionários oficiais da marca, tentou cobrar 22.890€ para substituir a bateria. A Nissan Portugal, importador da marca para o nosso país, prometeu analisar a situação, mas entretanto foi garantindo que a bateria custa apenas 7000€ mais IVA, num total de 8610€, valor que será acrescido dos custos de mão-de-obra. Em relação à sobrefacturação, em que foi entregue ao cliente uma factura proforma com um valor 2,4 vezes mais elevado para realizar a substituição, a marca japonesa explicou que “quando a bateria se destina a ser montada num dos seus veículos, é subsidiada de forma a reduzir o preço dos originais 16.831€ (+IVA) para uns mais acessíveis 7000€, acrescidos de IVA”. Quanto ao erro cometido pelo concessionário, ao inflacionar o custo, a Nissan diz que vai averiguar, mas acredita que tal se tenha devido a esquecimento ou à falta de experiência do funcionário que lidou com o cliente.

Flávio é a vítima mais recente das baterias do Leaf

Flávio Batista e os seus dois sócios possuem uma empresa que explora carros descaracterizados de transporte de passageiros a partir de uma plataforma electrónica, vulgo TVDE. Em 2018, adquiriram três Nissan Leaf com bateria de 40 kWh e tudo correu bem até que um deles, com cerca de 197 mil quilómetros no odómetro, parou após afixar no painel de instrumentos a mensagem “falha no sistema EV”.

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Bateria do Leaf pode custar uma fortuna. Mas nem sempre

O veículo eléctrico acabaria por ser transportado para o Caetano Power, o concessionário da marca próximo de Alcabideche e um dos poucos capacitados para a reparação de baterias. Depois de analisar o modelo, o concessionário avançou com um relatório de diagnóstico (ver email na galeria), afirmando que tinha sido detectada no Leaf “uma fuga de voltagem à massa impossibilitando o funcionamento”.

Depois da remoção da bateria, o Caetano Power concluiu que “a mesma está deformada, logo necessita de substituir a bateria por completo”. Foi igualmente fornecido um orçamento para substituição do acumulador, em que surgia a nova bateria por 16.831€, a que é necessário somar o IVA e a mão-de-obra, o que atira o valor final para 21.142€ – uma quantia quase decalcada da que tinha sido apresentada pouco tempo antes pelo Entreposto Lisboa a outro proprietário de um Leaf 40. Daí que Flávio diga estar a ponderar não reparar o carro, uma vez que o seu valor (com dois anos e 197.000 km) será inferior ao custo da reparação.

O que é estranho em toda esta história

Apesar das garantias da Nissan, parece cada vez mais que a tentativa de sobrefacturar a substituição das baterias está longe de ser um acontecimento isolado, atribuível a um empregado distraído. Confrontada com mais este caso de inexperiência ou distracção do funcionário do concessionário, na opinião de uns, ou de tentativa de inflacionar os custos de reparação, na opinião de outros, a Nissan Portugal não respondeu às nossas questões.

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Ainda assim, os responsáveis da marca continuam a garantir que os clientes que tenham baterias com perda de capacidade acima dos 70%, até aos 8 anos de utilização ou 160.000 km, vêem a bateria substituída ao abrigo da garantia, para depois destes limites terem de pagar os tais 7000€ +IVA que são anunciados. Mas convém informar os concessionários deste “pormenor”, pois, aparentemente, há vários que o desconhecem.

Outra surpresa negativa vem da fraca qualidade da informação prestada ao cliente, especialmente quando se pretende que este adquira uma peça para um carro com apenas dois anos que custa “só” 7000€, apesar do concessionário querer receber 2,4 vezes mais. Tudo porque, segundo o relatório, foi detectada uma “fuga de voltagem”. Não será fuga de corrente? Ou quebra de voltagem? Para esclarecermos, falámos com um engenheiro que durante anos liderou uma fábrica de baterias e o nosso interlocutor mostrou-se espantado com a terminologia pouco rigorosa. A ponto de nem ele perceber de que avaria se trata…

O diagnóstico indica ainda que a bateria que a bateria está deformada. Todos os 24 módulos que a constituem? E, dentro destes, todas as 192 células? Não é vulgar uma bateria de iões de lítio deformar-se mas, se aconteceu, qual é a explicação? E se o problema existe apenas num ou mais módulos, por que não propor a sua substituição, para mais tratando-se de um concessionário que tem equipamento, técnicos e formação para o fazer? Não duvidamos da competência dos técnicos, mas sempre que se exige uma verba avultada para reparar um automóvel com apenas dois anos, é bom que o concessionário esteja preparado para fornecer explicações adicionais. A menos que se pretenda que os proprietários dos TVDE retirem o Leaf da lista dos veículos a utilizar neste tipo de actividade.