O Hospital de São João, no Porto, chegou ao limite da capacidade de resposta a doentes que precisem da técnica de suporte vital ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorporal). Contactado pelo Observador, o coordenador do Centro de Referência de ECMO do São João, Roberto Roncon, confirma que o hospital tem tido “mais referenciações” para esta técnica “do que capacidade de resposta”.

Neste momento, o Hospital tem capacidade para ter 15 doentes em ECMO — atualmente, destes 15, 11 são doentes Covid. Roberto Roncon explica que houve “um número significativo de doentes que foram referenciados de hospitais do Norte do país” e aos quais não conseguiu dar resposta. Quantos? “Cerca de cinco ou seis”. A capacidade de resposta depende não só da disponibilização de equipamentos, mas também do número de vagas Covid.

Entretanto, já depois do contacto do Observador para o responsável do S.João, a agência Lusa confirmou que na sexta-feira o Hospital de S. José recebeu quatro doentes dos hospitais de Penafiel, Pedro Hispano, em Matosinhos, e de Bragança e este sábado recebeu um doente do Hospital de Guimarães.

O centro hospitalar de São João é o único hospital no norte do país com meios para receber doentes que precisem da técnica de suporte vital ECMO. Quando o hospital não consegue dar resposta a solicitações de outros hospitais do norte do país, é sugerido às equipas médicas responsáveis pelos doentes que contactem outros centros com capacidade para receberem os doentes e aplicar a técnica, como o Hospital de Santa Maria e o Hospital de São José, ambos em Lisboa.

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“Se estes hospitais tiverem vaga, o doente pode ser transferido para a unidade deles. O contrário também já aconteceu: já fomos buscar doentes a Lisboa, Açores e Coimbra. Não é um procedimento assim tão incomum”, explica Roberto Roncon, exemplificando que, na sexta-feira, foi “resgatado” um doente não Covid do hospital de Penafiel “com uma forma grave de pneumonia”.

Em novembro, o Observador já tinha noticiado que uma doente Covid-19 com menos de 60 anos, que precisava de ECMO, tinha sido transportada para Lisboa por não haver camas suficientes no São João. Na altura, Roberto Roncon disse que a capacidade no hospital “é muito variável”. Em entrevista à Lusa, o responsável também já tinha admitido que seria uma “ilusão” pensar que é possível dar resposta a todas as solicitações. “Dizer que é fácil e que vamos responder a todas as solicitações é contar a história da carochinha. Estamos num contexto pandémico”, defendeu.

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A ECMO é uma técnica de suporte de vida extracorporal utilizada em doentes críticos com falência cardíaca o pulmonar e que, na prática, substitui o coração e os pulmões. Como o Observador escreveu, a técnica, por um lado, ajuda o doente a respirar, reduz o risco de lesão pulmonar, apoia o sistema circulatório e diminui as probabilidades de sequelas cardíacas, mas, por outro lado, pode provocar hemorragias.

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