A reação de José Mourinho após a derrota na Bélgica frente ao Antuérpia, onde rodou toda a equipa mas acabou a fazer quatro alterações ao intervalo (que só não foram 11 porque não podia, como o próprio admitiu), resultou em relação ao pretendido: os menos utilizados perceberam a mensagem, reentraram nas contas e passaram a ter oportunidades nos principais encontros, como aconteceu com Lo Celso ou Bergwijn. E foi também nesse desaire que o Tottenham começou a construir um caminho de sucesso desde o início de novembro e com o calendário mais complicado, vencendo os compromissos seguintes na Europa entre duelos com rivais na Premier League como Manchester City (2-0) ou Chelsea (0-0), a que se seguirão Arsenal, Crystal Palace, Liverpool e Leicester.

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“Dele Alli? Aqueles que não estão a jogar tanto só têm uma coisa a pensar e fazer: demonstrar, nos minutos que têm, que deveriam estar a jogar. Não tenho qualquer problema com o Dele nem com ninguém. Os meus jogadores ficam felizes quando jogam e infelizes quando não jogam, não os culpo por isso. Terão de aproveitar cada minuto que têm para evoluir. Acima de tudo, o conceito é que a equipa é mais importante do que qualquer um de nós. Posso dar o exemplo do Ben Davies: frente ao Chelsea jogou cinco minutos e na época passada teria jogado os 90. Mas jogaria como se fosse os últimos cinco da sua carreira”, explicou a propósito da pouca utilização de Dele Alli esta temporada, ao contrário do que aconteceu na última época em que foi uma das grandes figuras.

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“Na Liga Europa, nesta altura, estamos a discutir a corrida e somos um dos cavalos mais importantes, temos de o admitir. Uma equipa inglesa na Liga Europa é seguramente importante mas outros clubes fortes vão entrar na competição [oriundos da Champions]. Nunca concordei com isso mas é assim. Seguramente que oito clubes que não tiveram sucesso na Champions, em vez de irem para casa, vêm para a Liga Europa e vão mudar a dinâmica da prova”, referiu sobre as possibilidade da equipa na competição, antes de revelar a posição em relação ao internacional frente aos austríacos do LASK Linz: “Vou apostar no Dele Alli e espero que corresponda. Aqueles que não estão a jogar tanto só têm uma coisa a pensar e fazer: demonstrar que deveriam estar a jogar”.

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As mudanças de uma época para a outra no Tottenham são claras. Em campo, a equipa tem hoje um sistema bem definido que permite dar outro pragmatismo à ideia de jogo, com o meio-campo constituído por norma pelo trio Höjberg, Sissoko e Ndombelé a dar outra estabilidade à defesa e maior liberdade ao ataque. Fora dele, o treinador português conseguiu criar um grupo mais à sua imagem, tendo uma relação mais próxima com os jogadores que são agora mais em qualidade e quantidade, o que permite também outra rotatividade como aconteceu com o LASK Linz. No entanto, o jogo teve o condão de mostrar mais uma vez porque existem Sons e enteados, com o sul-coreano a ser um dos destaques positivos e a dar o exemplo numa equipa com várias exibições falhadas no empate a três na Áustria que apurou a equipa para a próxima fase mas que obriga a ganhar ao Antuérpia na última jornada em Londres para garantir o primeiro lugar do grupo e a posição de cabeça de série no sorteio.

Os visitados assumiram cedo a necessidade de ganharem para poderem continuar a sonhar com a qualificação e acertaram no poste logo a abrir, com Eggestein a sair da zona de ação dos centrais para encontrar espaço fora da área e testar a meia distância (5′). Com zonas de pressão muito subidas, os austríacos colocavam dificuldades aos londrinos na primeira fase de construção e na saída de bola, a que se juntou ainda uma noite desinspirada de Son, Lucas Moura e Bale, as unidades mais ofensivas, e uma menor capacidade de controlo do meio-campo. Assim, foi Joe Hart a brilhar até ao intervalo, com duas intervenções de grande dificuldade sobretudo uma de Renner, que apareceu sozinho na área pela esquerda até “chocar” com o guardião inglês (31′). No entanto, o LASK Linz iria chegar mesmo à vantagem ainda antes do intervalo, num lance que começou com uma escorregadela de Doherty que deixou o lateral lesionado e acabou com um remate de longe de Michorl para o 1-0 (42′).

O Tottenham andou adormecido ao longo de quase 45 minutos mas foi preciso estar em desvantagem para ter um primeiro alarme para despertar e chegar à igualdade de forma quase imediata, com Gareth Bale a aproveitar uma grande penalidade para fazer o 1-1 nos descontos da primeira parte. Esse momento acabou por ser vital para a quebra nos austríacos, que ainda tiveram uma boa entrada após o intervalo mas baixaram o rendimento depois da reviravolta de Son, a aproveitar uma transição rápida para chegar à área contrária e rematar cruzado sem hipóteses para Schlager (56′), antes de mais uma oportunidade flagrante onde o passe de Bale saiu para trás quando o sul-coreano estava sozinho na pequena área para encostar para o golo que poderia arrumar as contas.

Os minutos foram passando sem grandes motivos de interesse, Dele Alli lá foi lançado no jogo mas a história ainda ia literalmente a meio: Eggestein, num lance onde Joe Hart foi mal batido, conseguiu o empate quando parecia que o LASK Linz tinha desistido  (84′), pouco depois Bergwjin ganhou mais um penálti desta vez transformado por Dele Alli (87′) e Karamoko fez o empate final no terceiro período de descontos, num remate de fora da área que desta vez não deu mesmo hipóteses ao guarda-redes inglês. O Tottenham conseguiu mesmo o apuramento para a próxima fase da Liga Europa mas Mourinho não saiu com muitos motivos para sorrir nesta viagem à Áustria.