Passavam alguns segundos do minuto 13 quando o romeno Ovidiu Alin Hategan, árbitro principal do jogo entre o PSG e o Basaksehir, se deslocou até à zona do quarto árbitro. Em condições normais, seria apenas mais um lance de um qualquer encontro de futebol, com a expulsão de um elemento do banco da formação turca, neste caso o adjunto Pierre Webó. No entanto, a história estava apenas a começar. “O negro está ali, vai lá ver quem é. O negro que está ali, não pode agir desta forma”, disse o quarto árbitro, Sebastian Coltescu, numa afirmação ouvida por alguns intervenientes. “Porquê negro? Porquê negro?”, começou por dizer Webó olhando para o visado, até por ter percebido antes que tinha existido a indicação para o chefe da equipa dizendo “Expulsa o negro”.
Os jogadores começaram a concentrar-se perto dos bancos. “Porque não dizes só ‘este gajo’? Tu também dizes ‘Expulsa o branco’? Então porque tens de dizer ‘Expulsa o preto’? Ouve o que estou a dizer, ouve o que estou a dizer… Porquê isto?”, gritou Demba Ba para Coltescu, que foi tentando explicar ao aglomerado de elementos que se iam juntando em cada vez maior número enquanto começavam outras conversas paralelas entre jogadores das duas equipas. “Na Roménia, negro é uma referência ao tom de pele, jogador negro, e entre nós falamos em romeno”, referiu. Pouco depois, a equipa do Basaksehir decidiu sair de campo perante o episódio. “Se o quarto árbitro disse isto, tem de ir embora”, atirou Mbappé. “Não vamos jogar, não jogamos com esse tipo aqui”, disse Neymar. Naquele momento, também o PSG decidia seguir para os balneários tal como os turcos.
O encontro esteve interrompido mais de uma hora, ameaçou ser retomado no meio das reuniões que iam sendo feitas caso o quarto árbitro não fizesse parte do jogo nem na posição de VAR mas acabou por ser adiado para esta quarta-feira (17h55), sendo que a própria UEFA não só confirmou essa alteração como anunciou uma nova equipa de arbitragem, com o holandês Danny Makkelie como árbitro principal e o polaco Bartosz Frankowski como quarto árbitro. Sobre os juízes romenos, ainda nenhuma novidade mas a sanção pode ser pesada.
Nascido em Craiova, Sebastian Coltescu, de 43 anos, tornou-se profissional em 1996 passou a estar no olho do furacão numa carreira conturbada e que o levou à descida ao segundo escalão da Roménia em 2007 quando já era árbitro da FIFA, regressando no ano seguinte à elite do futebol nacional. “Toda a carreira está cheia de momentos obscuros. Até pode ter talento, mas pode dedicar-se a outra coisa, à música ou à dança. Na arbitragem é preciso ser imparcial. Todos devem entender que os erros humanos são permitidos aos árbitros mas há muitos anos que não é assim, não existe um jogo em que não tenha intervenção direta no resultado final”, comentou Adrian Porumboiu, antigo árbitro e jogador, após o jogo entre o Gaz Metan Medias e o Steaua Bucareste, há duas semanas.
Em 2010, Gigi Becali, o polémico empresário e político que detém o Steaua Bucareste, já tinha atacado o árbitro, num jogo onde o clube ganhou ao Victoria Branesti. “Tem de retirar-se, eu arbitro melhor do que ele! Cometeu já muitos erros importantes desde o início do Campeonato. Os árbitros corruptos na Roménia não existem, são apenas maus”, disse. Cinco anos depois, o conjunto de Bucareste voltaria a estar no epicentro das críticas, num jogo frente ao Astra, ao ver ter golos anulados e uma expulsão por agressão ao adversário perdoada numa derrota por 2-0, o que acabou por fazer com que fosse “riscado” de um jogo da Liga Europa para o qual se estava a preparar. Em 2013, Coltescu tinha sido notícia por expulsar seis jogadores no encontro entre Petrolul e Gaz Metan Medias.
Antes, o árbitro sofreu uma depressão depois da descida ao segundo escalão nacional, na sequência de uma série de erros no jogo entre Gaz Metan Medias e Brasov. “Lamento muito não ter pedido para não fazer esse jogo, quando estava com alguns problemas na minha vida”, reconheceu algum tempo depois. Subiu em 2008, voltou a ser de novo internacional em 2013 e já sabia também que esta seria a última temporada na UEFA, na sequência da lista de árbitros enviada pela Federação Romena de Futebol para 2021 que já não contava com o seu nome. O jornal romeno Fanatik faz também um perfil mais pessoal do árbitro onde recorda a morte do pai em agosto, recebendo a notícia no final de um jogo da Liga romena através de uma mensagem da irmã, um ano depois de perder a mãe.