O Governo propôs aos parceiros sociais um aumento de 30 euros no salário mínimo nacional, para 665 euros, em 2021, apurou o Observador. Para fazer face ao aumento da despesa das empresas com esta decisão, o Executivo prepara compensações aos empregadores, como a devolução de parte dos encargos acrescidos, nomeadamente com a TSU.
O salário mínimo está atualmente nos 635 euros e abrange cerca de 742 mil pessoas. Nas negociações para o Orçamento do Estado para 2021, o Governo sinalizou que estava disponível para aumentar o valor em 23,75 euros, o que equivale à média de aumentos dos últimos anos. Ainda assim, em declarações à Lusa, a ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho chegou a admitir uma subida além deste valor. O ministro das Finanças, João Leão, também defendeu um aumento com “significado”, mas “equilibrado” para as empresas.
O jornal Público e o Negócios já tinham avançado que o aumento que estava a ser preparado pelo Governo era de 30 euros.
OE2021. Aumento do salário mínimo deve ter significado mas ser equilibrado
As confederações patronais têm mostrado resistência a um aumento do salário mínimo em linha com o que tem sido sinalizado pelo Executivo, devido às dificuldades no atual contexto de pandemia. À Rádio Observador, João Vieira Lopes, líder da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), diz que há setores que não têm capacidade para acomodar o valor e critica o Governo por estar a responder a “compromissos políticos”.
“O aumento do salário mínimo, como os aumentos dos salários em geral, devem basear-se na evolução da produtividade, na inflação e no crescimento da economia”. E estes indicadores, considera, não permitem atualmente um atualização da remuneração mínima garantida. No entanto, não descarta que essa subida possa acontecer, por exemplo, “no fim do primeiro semestre”, se a economia crescer como o Governo prevê ou se os efeitos da vacina na atividade económica forem evidentes.
Já os sindicatos têm pedido subidas mais expressivas: a CGTP quer chegar aos 850 euros no curto prazo; e a UGT apontava para 670 euros. Ainda assim, a central sindical liderada por Carlos Silva reconhece que “há um esforço do Governo em aproximar-se” da sua reivindicação. O valor proposto é “aceitável”, afirma Carlos Silva ao Observador, acrescentando que “dá confiança à economia portuguesa, ao consumo interno em Portugal e estimula a economia”.
A meta traçada pelo Executivo é de chegar aos 750 euros de salário mínimo no final da legislatura. Este objetivo mantém-se.
Governo prepara compensações às empresas: vai devolver parte dos encargos com o aumento do salário mínimo
O ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, disse que “faz parte da estratégia de recuperação assegurar que continuamos a ter um contributo do consumo privado”. “O consumo privado deve dar um contributo para a recuperação da economia, assim como a recuperação do investimento público e as exportações”, defendeu. O aumento do salário mínimo “insere-se nesta estratégia”, mas como representa um “aumento de encargos para as empresas”, o Executivo está a preparar três medidas para as compensar.
- Uma, “mais transversal”, trata-se de apoiar as empresas pelo aumento de encargos com contribuições ou outras rubricas que possam ter em virtude desta decisão. Este apoio “visa devolver às empresas o aumento de encargos perante o Estado“, nomeadamente com a TSU. Pedro Siza Vieira explicou que “não está em causa a diminuição ou suspensão da TSU”, mas o pagamento de “um montante fixo que ajude a cobrir os encargos resultantes de aumento do salário mínimo”. As empresas terão de entregar a totalidade das contribuições sociais e esperar depois pelo apoio. O governo ainda “está a avaliar” como vai ser operacionalizada esta compensação, mas já se sabe que será “em função do número de trabalhadores“. Além disso, será um pagamento único e dirigido apenas às empresas que pagam o salário mínimo. O valor e o momento do pagamento não estão ainda definidos, mas Siza Vieira espera que essa transferência seja feita no primeiro trimestre de 2021.
- Uma medida que já está no Orçamento do Estado para 2021 e permite “atualizar automaticamente os preços dos contratos com a administração pública“. Possibilita às empresas “recuperar com o Estado os custos acrescidos com o salário mínimo”.
- Vai ainda ser criada uma linha de crédito destinada às empresas exportadoras, no valor de 4.000 euros por cada posto de trabalho, independentemente de esse posto pagar ou não o salário mínimo, com 800 euros convertíveis a fundo perdido, se o posto de trabalho for mantido. Destina-se a setores onde existe uma preponderância do salário mínimo, mais concretamente, as “atividades mais expostas à concorrência externa, particularmente no turismo e indústrias transformadoras”. Estará disponível este mês.
A ministra Ana Mendes Godinho adiantou, por sua vez, que o Executivo está “a preparar as medidas para 2021”, como o prolongamento do apoio à retoma (que sucedeu ao layoff simplificado), assumindo uma redução de 50% nas contribuições sociais para as micro e pequenas empresas, e a salvaguarda dos salários a 100%, com o “esforço adicional” a ser assumido pela Segurança Social. E haverá também um “mecanismo especial” para ajudar as micro empresas a manter os postos de trabalho no primeiro semestre de 2021. Neste sentido, será relançado o instrumento de apoio de dois salários mínimos por cada trabalhador, durante o primeiro semestre.
O apoio à retoma progressiva e o incentivo extraordinário à normalização da atividade abrangem, neste momento, 536 mil pessoas, avançou ainda a ministra. As medidas extraordinárias da Segurança Social já custaram 2.300 milhões de euros.
(Artigo atualizado com novas declarações de Ana Mendes Godinho e Pedro Siza Vieira)