O primeiro-ministro, António Costa, admitiu esta quinta-feira que persistem divergências entre a União Europeia (UE) e o Reino Unido sobre a futura parceria, mas destacou que “há vontade de ultrapassar esses problemas”, acreditando num acordo pós-Brexit. Boris Johnson, primeiro-britânico, por sua vez, considera que há uma “forte possibilidade” de o Reino Unido não conseguir um acordo com a UE, noticiou a BBC.
As incertezas e a possibilidade de um cenário de ‘no-deal’ fez com que a Comissão Europeia apresentasse, esta quinta-feira, um conjunto de medidas de contingência específicas para áreas específicas.
Vejo como bom sinal o facto de os contactos se manterem e de ontem [quarta-feira] ter havido mais um encontro entre a presidente da Comissão Europeia e o primeiro-ministro Boris Johnson e de terem ficado claros quais os pontos de divergência, mas também a vontade comum de os ultrapassar e de terem mandato as equipas para trabalharem intensamente para ultrapassarem os pontos em que ainda não há acordo, de forma a lograr acordo”, disse António Costa.
Falando à imprensa junto do secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), Jens Stoltenberg, após uma visita à sede da Aliança Atlântica em Bruxelas, o chefe de Governo português notou que “se não houvesse vontade de haver acordo, certamente ontem [Von der Leyen e Boris Johnson não teriam jantado juntos […] nem teriam mandatado as equipas para continuarem a trabalhar”.
Acho que isso é bom sinal: é sinal que há problemas, mas que há vontade de ultrapassar esses problemas”, disse António Costa que está em Bruxelas para participar na cimeira de líderes da União Europeia.
O primeiro-ministro britânico, porém, tem uma visão menos otimista. Perante a previsão de não se chegar a um acordo até ao final do mês, Boris Johnson avisou as empresas e o público para se prepararem para um resultado negativo nas negociações. As duas partes vão continuar a trabalhar por um acordo, mas Boris Johnson diz que ainda estão longe desse desfecho.
Nas primeiras declarações depois do encontro com a presidente da Comissão Europeia, o primeiro-ministro britânico explicou que a União Europeia quer obrigar o Reino Unido a cumprir os mesmos requisitos legais que os Estados-membros ou sujeitar-se a taxas, o que, na opinião de Johnson, faria do Reino Unido um “gémeo” dos 27 Estados-membros sem estar dentro da União.
“Neste momento, devo dizer com toda a franqueza que o acordo ainda chegou lá e essa é a firme opinião do nosso gabinete”, disse Boris Johnson.
Mesmo considerando que as imposições da UE estão dificultar um acordo, Boris Johnson mostrou-se disponível para discutir o assunto em Paris ou Berlim se fosse necessário.
A Comissão Europeia prepara-se para um ‘no-deal’
Já relacionando o Brexit com a Aliança Atlântica, o governante notou que “o Reino Unido não sai da NATO”. Portanto, mantém-se nosso aliado, assim como relativamente à UE, saindo da UE, é fundamental que mantenhamos relação futura de vizinhos e parceiros comerciais próximos”.
Na quarta-feira à noite, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, recebeu em Bruxelas o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, para um jantar para discutir o pós-Brexit numa altura decisiva das negociações.
No final do encontro, Ursula von der Leyen vincou em comunicado que deverá ser tomada uma decisão acerca de um acordo pós-Brexit até domingo, sublinhando que as posições dos dois parceiros se mantêm “muito distantes”.
Do lado britânico, fontes diplomáticas também deram conta de uma “discussão franca sobre os obstáculos significativos que se mantêm nas negociações”, e frisaram que permanece “um fosso muito grande” entre o Reino Unido e a UE, sendo “incerto se estas [diferenças] podem ser ultrapassadas”.
A Comissão Europeia, por sua vez, com a aproximação do fim do prazo das negociações para se chegar a um acordo comercial e a possibilidade de um cenário de ‘no-deal’ cada vez mais provável, propôs medidas de contingência que asseguram as ligações aéreas, a segurança aérea, as ligações rodoviárias e a manutenção do acesso às águas britânicas para os navios pesqueiros da UE e vice-versa.
A União Europeia e Reino Unido tentam chegar a acordo sobre as relações futuras, já que a partir de 1 de janeiro de 2021 — data que coincide com o arranque da presidência portuguesa do Conselho da UE, no primeiro semestre do ano —, o Reino Unido, que abandonou o bloco europeu em janeiro de 2020, deixa de gozar do chamado período de transição, mantendo o acesso dos britânicos ao mercado único.
Na ausência de um acordo, as relações económicas e comerciais entre o Reino Unido e a UE passam a ser regidas pelas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) e com a aplicação de vários controlos alfandegários e regulatórios.
Atualizado às 19h40 com a reação de Boris Johnson