A TAP paga mais aos seus pilotos do que a média das empresas europeias? O ministro das Infraestruturas limitou as comparações à Iberia e à Air Europa, duas empresas espanholas que são concorrentes diretas da transportadora portuguesa. Em entrevista à SIC/Expresso esta sexta-feira, Pedro Nuno Santos começou por dar as diferenças percentuais que variavam entre os 15% os 85%, mas quando convidado a dar valores absolutos sobre a remuneração total, base e variável, dos pilotos da companhia portuguesa deu alguns exemplos:

Um oficial piloto com um ano de operação ganha 84 mil euros brutos por ano. Um oficial piloto com 10 anos pode ganhar 150 mil euros. Um comandante de 10 anos do modelo A320 pode ganhar 185 mil euros por ano. Um comandante da TAP com 20 anos do A320 ganha 241 mil euros por ano e com 30 anos para o A320 pode ter uma remuneração total de 260 mil euros anuais. Questionado sobre se acha que é demasiado, o ministro devolveu: “Não sei. O que é que acha?”

Sindicato diz que plano de reestruturação vai reduzir “capacidade da TAP de competir no mercado”

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O custo unitário superior ao existente na Iberia “torna a capacidade concorrencial da TAP muito difícil”. O ministro das Infraestruturas defendeu ainda que a reestruturação anunciada esta sexta-feira tem de ser feita, não por imposição de Bruxelas, “mas porque a TAP precisa de a fazer para sobreviver”.

“Mesmo que tivéssemos muito dinheiro dos portugueses para segurar o nível de emprego e salarial, quando passasse a crise, a TAP não conseguiria sobreviver. Se não formos capazes de fazer uma reestruturação séria, a empresa não poderá ser sustentável, sublinhou. E isso passa por cortar nos custos com pessoal. A redução de 25% da massa salarial permite reduzir o número de despedimentos de até 3.000 para 2.000.

Pedro Nuno Santos espera uma “interação difícil” com a Comissão Europeia (a quem foi entregue a proposta de plano esta quinta-feira). “A Comissão vai apresentar os seus argumentos e fazer contra-propostas e nós vamos defender o nosso trabalho”. E reafirmou que se as negociações falharem, a TAP é liquidada, porque é o que determinam as regras comunitárias. Nesse cenário, o Estado nem seria o que perderia mais, a devolução do empréstimo de 1.200 milhões de euros tem prioridade. O prejuízo para o país seria muito maior, porque não afetaria apenas 10.000 pessoas que trabalham na companhia, “representaria muito mais do que as pessoas que vivem diretamente da TAP. Muita gente que não voa na TAP, beneficia do trabalho que a TAP faz”.

O ministro das Infraestuturas assumiu ainda que a linha vermelha nas negociações, que espera poderem ser concluídas em fevereiro, é manter uma capacidade que permita ter um hub a funcionar de forma eficiente no aeroporto de Lisboa porque este é o negócio mais importante da  TAP. E indicou ainda que o plano de reestruturação só começará a ser aplicado quando for aprovado em Bruxelas.

O governante voltou a destacar os 2,6 mil milhões de euros anual de contributo para as exportações portuguesas com a venda de bilhetes a estrangeiros, bem como as compras de 1,3 mil milhões de euros a mais de 10 mil empresas, que não seriam compensados por outras companhias se a TAP desaparecesse. “Não há nenhuma empresa em Portugal que consiga substituir a TAP”. Para além do papel que a companhia tem na promoção do turismo que seria muito afetado se  Lisboa deixasse de ser um hub aeroportuário e as ligações aéreas a países como Estados Unidos ou Brasil passassem a ser feitas via Madrid e não diretamente.

Pedro Nuno Santos considerou ainda que o Estado teria tomado a decisão de intervir, mesmo que a TAP fosse 100% privada, se a alternativa fosse a insolvência da empresa, porque os acionistas privados não teriam capacidade de mobilizar os recursos necessários para responder aos efeitos da pandemia. O resultado não seria muito diferente, porque a conversão do empréstimo em capital faria sempre do Estado o maior acionista.

Sobre a ida do plano para a TAP a votos no Parlamento, o ministro reafirmou que defendeu esta proposta porque a execução da reestruturação exige uma solução estável que tem de ser orçamentada todos os anos. E deu o exemplo do Novo Banco para lembrar que no futuro, “o Parlamento pode dizer que não há mais um cêntimo para a TAP”. Pedro Nuno Santos não confirma se discutiu esta proposta com o primeiro-ministro, antes de António Costa publicamente a afastar e confirma contactos com os deputados do PSD sobre este cenário, E o primeiro-ministro sabia desses contactos? “Eu sou ministro da República, faço muita coisa, não estou sistematicamente a perguntar se posso dar aquele passo ou se posso reunir com pessoas.”