A preparação da época de gripe deste ano apresentava um desafio novo e um receio acrescido: a ocorrência em simultâneo com o SARS-CoV-2. Mas, ao mesmo tempo, o inverno do hemisfério sul tinha deixado alguma esperança: a época gripal foi leve ou praticamente inexistente. De 28 de setembro a 6 de dezembro foram confirmados dois casos de gripe — uma incidência considerada de zero casos por 100 mil habitantes —, segundo o Boletim de Vigilância Epidemiológica da Gripe, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa).
Até agora, mesmo já estando no período considerado de época da gripe, os casos reportados de síndrome gripal (sintomas semelhantes aos da gripe, mas que podem ser causados por outros vírus) mantiveram-se num nível em que a atividade dos vírus é desprezável. No ano passado, por esta altura, estávamos a entrar num nível de atividade baixa, que teve o pico na terceira semana de janeiro.
Não estamos livres de ter um pico de gripe, com muitos internamentos e mortalidade elevada, nos meses que restam até ao final da época da gripe, mas a julgar pelo que aconteceu no inverno do hemisfério sul e está a acontecer na Europa, as medidas de prevenção em relação à transmissão do SARS-CoV-2 também estão a reduzir o número de infeções com outros vírus e bactérias respiratórios.
“A implementação generalizada de medidas de controlo de infeção – o uso de máscaras, mais lavagem das mãos – protege para o SARS-CoV-2, para a gripe e para outros vírus respiratórios. São medidas que são comuns e são das mais eficazes no controlo de infeções, sejam virais sejam bacterianas”, disse Cátia Caneiras, da Comissão de Trabalho de Infecciologia Respiratória da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, ao jornal Público.
Outro destaque interessante do boletim divulgado pelo Insa é que o número de consultas por síndrome gripal registadas nos centros de saúde também é praticamente nulo. No ano passado, por esta altura, Norte, Centro e Lisboa e Vale do Tejo já tinham ultrapassado as mil consultas por este motivo.
Ainda assim, os laboratórios da Rede Portuguesa de Laboratórios para o Diagnóstico da Gripe (Hospitais) já notificaram 3.062 casos de infeção respiratória, dos quais 366 estavam associados a agentes patogénicos respiratórios, como os vírus que causam constipações ou o vírus responsável pelas bronquiolites nas crianças.
Apesar das medidas de prevenção para o SARS-CoV-2 poderem reduzir a incidência de outras infeções respiratórias, o boletim do Insa alerta que a pandemia de Covid-19 afetou a capacidade de testagem para o vírus da gripe em toda a Europa, “o que poderá ter impacto na notificação clínica e laboratorial”. O boletim recomenda assim que os dados sejam interpretados tendo em conta essa limitação.