A consultora de inovação colaborativa Beta-i — que este ano anunciou um novo posicionamento e deixou de ser uma associação sem fins lucrativos — fechou o ano de 2020 com uma faturação consolidada de 2,5 milhões de euros, resultado da operação nos escritórios em Portugal e no Brasil. A consultora adianta ainda que 46% do seu negócio corresponde à atuação fora de Portugal — com clientes em 19 países. Pedro Rocha Vieira, presidente da Beta-i, destaca ao Observador a importância da internacionalização e admite que parte do balanço deste ano foi influenciado pelos desafios que a pandemia de Covid-19 trouxe ao ecossistema.

Tínhamos planeado para este ano, já antes da crise, o reposicionamento da Beta-i como uma consultora de inovação colaborativa. No início do ano tínhamos uma expectativa maior. Houve uma redução de cerca de um milhão de euros face à nossa expectativa inicial, mas sabemos que isso aconteceu em muitos setores. Não perdemos muitos clientes, mas houve ali uns meses em que as coisas pararam, bloquearam e foram atrasadas e isso acabou por ter impacto na faturação”, explica o responsável da consultora, sublinhando que, em setembro, a Beta-i arrancou com novos projetos e conseguiu fechar novos negócios, tendo “boas perspetivas para 2021”.

Sobre a pandemia, que apanhou a Beta-i “num momento crescente”, Pedro Rocha Vieira refere que o maior desafio passou por perceber as novas necessidades dos clientes, transformar toda a operação para o digital e criar novos produtos. Tudo isto, acrescenta, tornou-se ainda mais desafiante quando foi preciso repensar também “a forma como se gere as pessoas”. “Foi um ano de grande aprendizagem. As crises são muito importantes para, de certa forma, nos colocar a todos à prova. Dizem que é nos momentos de crise que se testam as boas equipas”, acrescenta.

A crise, destaca, levou a Beta-i “a focar-se no essencial”, não tendo sido necessário fazer alterações à equipa de cerca de 50 pessoas. A consultora tem como objetivo ajudar grandes empresas a encontrar soluções de inovação e startups a crescer e a ir para o mercado.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Aqueles que conseguirem passar por este ano vão estar muito mais bem preparados para conseguir lidar com o que vem a seguir. Num mundo que está cada vez mais competitivo, quer nas startups quer no investimento e na área de inovação colaborativa, sinto muito que, para nós enquanto Beta-i, nunca houve um ano em que estivéssemos mais unidos como equipa, em que trabalhássemos melhor e fossemos mais eficientes, em que estivéssemos mais focados no impacto”, acrescenta Pedro Rocha Vieira ao Observador.

Ainda sobre os números deste ano, a Beta-i desenvolveu, no total, 25 programas de inovação, destinados a 60 clientes de 20 países, como Angola, Austrália, Bélgica, Brasil, China, Áustria, Dinamarca, Alemanha, Irlanda, Singapura, Espanha, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido e EUA. A consultora conseguiu também dez novos clientes e nos programas que desenvolveu em 2020 houve mais de 2.000 startups a submeterem as suas soluções aos desafios de inovação apresentados pelos clientes — 150 foram selecionadas para desenvolvimento de pilotos.

Entre os projetos concluídos e em desenvolvimento este ano, destacam-se o Free Electrons (programa que colocou grandes empresas de energia a trabalhar ao lado de startups), o NextLap (programa para criar novas soluções para pneus em fim de vida e os seus componentes), o Smart Open Lisboa / SOL Tomorrow (criado em parceria com a Câmara de Lisboa para enfrentar os desafios da vida diária dos cidadãos na era pós-Covid) e o Lispa (laboratório de inovação criado com o Banco Nacional de Angola e a Acelera Angola para acelerar o arranque de fintech locais e criar a primeira Sandbox regulatória no país).

Beta-i tem 4 programas para startups pós-pandemia: “Não podem viver mais de investimentos e prémios”

Em abril, a Beta-i, que já é rentável, renovou a sua imagem e posicionamento, deixando de ser uma associação sem fins lucrativos para passar a ser uma consultora à escala global e apostar em novas áreas. O responsável acredita que a Beta-i conseguiu, “de alguma forma, antecipar a mudança que chegou com a crise” e que “a Covid-19 veio mostrar que a inovação colaborativa é mais importante do que nunca”.

“Tudo está interligado. Nenhuma organização consegue resolver os seus desafios sozinha. Cada vez mais a colaboração entre diferentes organizações, e em particular entre startups, é determinante para se conseguir fazer crescer, ter impacto e encontrar soluções para os desafios que cada vez mais temos enquanto sociedade e enquanto economia”, explica. Com a mudança, sublinha, o posicionamento da Beta-i “tornou-se mais claro”.

Beta-i em 2020

Mostrar Esconder
  • 2,5 milhões de euros de faturação consolidada (46% corresponde a faturação fora do país);
  • Clientes em 19 países fora de Portugal;
  • 25 programas de inovação desenvolvidos, para 60 clientes provenientes de 20 países;
  • 10 novos clientes;
  • Mais de 2.100 startups submeteram as suas soluções aos desafios de inovação apresentados pelos clientes;
  • 150 startups selecionadas para projetos-piloto;
  • 30 projetos-piloto iniciados;

Futuro: aposta na internacionalização e novas indústrias

Para 2021, a Beta-i pretende aumentar a sua presença a nível internacional, mas também focar-se na aposta em algumas indústrias que, nos últimos tempos, têm tido mais relevância, como a economia circular, a energia e a saúde, mas também a área dos seguros, economia azul, agricultura e indústria alimentar. “O foco é estar em projetos e ter clientes com quem possamos criar um impacto relevante”, explica o presidente da Beta-i.

No que diz respeito à internacionalização, Pedro Rocha Vieira refere que o Brasil continuará a ser uma localização importante, havendo a ambição de tornar este país na base para uma aposta na América Latina. A Beta-i também já está presente em Angola e, na Europa, o foco também está em algumas parcerias na área da saúde.

“Estamos a olhar para cada umas indústrias e perceber em que regiões faz mais sentido estar. Queremos reforçar o posicionamento como um player global através de especialização do nosso portfólio, trabalhar com cada vez melhores clientes internacionais e com parceiros relevantes”, sublinha.

O trabalho em Portugal, garante, continua a ser importante, com “áreas como a economia do mar, em que Portugal pode ter um papel muito relevante”.

Outro foco da Beta-i para 2021 é a otimização operacional da consultora, algo que consideram “muito importante para conseguir crescer com escala e ganhar eficiência operacional”. “Este ano foi um ano de crise e de Covid-19 que nos obrigou a focar muito na digitalização e nos processos e no próximo ano é para continuar”, assegura Pedro Rocha Pereira.