A Associação dos Construtores Europeus de Automóveis (ACEA) e o Instituto Potsdam para a Pesquisa do Impacto das Alterações Climáticas (PIK), um dos mais respeitados centros de investigação nesta área, emitiram uma declaração conjunta onde se comprometem a não comercializar nenhum camião a gasóleo, a partir de 2040. Isso para que, em 2050, se atinja a neutralidade carbónica no Velho Continente.
Já começaram a chegar ao mercado veículos confiáveis e eficientes com zero emissões. Mas, nos próximos anos, vamos precisar que aumentem rapidamente em número e autonomia. Tal implica uma mudança de paradigma, diminuindo o recurso a combustíveis fósseis”, lê-se na declaração de intenções. “Não só estamos convencidos que isso é necessário, como sabemos que é possível e estamos prontos para que aconteça. Acreditamos que devemos concentrar-nos nos segmentos com mais emissões: o transporte de longo curso é onde estão os maiores ganhos”, acrescenta a ACEA e o PIK.
A ideia defendida no documento é que os veículos comerciais, pesados e ligeiros, são essenciais para satisfazer as necessidades da sociedade. “Com a pandemia, tivemos a confirmação do papel crucial do transporte rodoviário para o abastecimento de alimentos e medicamentos e para suprir outras necessidades básicas”, destacou o presidente da ACEA e CEO da Scania, Henrik Henriksson.
Considerando que o papel do transporte rodoviário vai continuar a ser fundamental no futuro e que um camião pode consumir à volta de 30 a 40 litros aos 100 km, muitas vezes durante 24 horas consecutivas, faz sentido trabalhar para erradicar a quantidade de emissões daí resultante. Por isso, fabricantes como a Daimler, Scania, Man, Volvo, Daf, Iveco e Ford dizem-se dispostos a dar o seu contributo para reduzir as emissões de CO2 e melhorar a qualidade do ar que se respira, mas realçam que não podem ser os únicos a contribuir para a causa.
Em declarações ao Financial Times, Henrik Henriksson explica porquê: para desenvolver e implementar a electrificação necessária, a indústria terá de investir entre 50.000 e 100.000 milhões de dólares. Acontece que as empresas de transportes pesados “não irão investir em alternativas com zero emissões se não existir uma forma acessível de operar, reabastecer [de hidrogénio] e recarregar [baterias]”, regista a declaração de intenções, que pode ler abaixo.
Ou seja, enquanto o diesel continuar a ser a opção mais interessante para o negócio, em termos de custos e de facilidade da operação, os camiões eléctricos não se vão posicionar como uma alternativa viável.
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Por essa razão, o centro de investigação alemão e a ACEA instam os governos locais e os decisores políticos a nível da União Europeia a fazerem a sua parte, isto é, garantir as condições necessárias para que o sector dos transportes pesados possa, de facto, ser “verde”. Realçando que este tipo de veículos requer muito mais energia que as viaturas ligeiras, bem como “requisitos específicos de espaço e acesso”, o documento dá como certo que é fundamental garantir uma infra-estrutura de recarga e de reabastecimento “significativamente diferente da dos automóveis de passageiros”. O texto sublinha ainda, em jeito de ultimato, que essa transformação tem de acontecer rapidamente, pois “as empresas de transporte precisam de ter certeza que podem cumprir a sua missão”.
Além de uma infra-estrutura própria para a recarga de pesados a bateria, com megacarregadores, ou estações de abastecimento de hidrogénio para os camiões eléctricos movidos com a electricidade gerada a bordo com o recurso a células de combustível (fuel cells), ACEA e PIK sugerem ainda um sistema de portagens em determinados trechos em função das emissões de CO2, bem como uma fiscalidade baseada na eficiência energética dos veículos.
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