É em Belmonte, uma vila do distrito de Castelo Branco, que se encontra o Museu Judaico. Testemunha da presença e forte influência da comunidade Judaica nesta zona do país, este museu reúne várias peças usadas ao longo dos séculos por judeus residentes, tanto no seu quotidiano como no culto religioso, abrindo uma janela fascinante sobre os seus hábitos e cultura.

Mural no Museu Judaico de Belmonte

Efetivamente, a presença Judaica em Portugal remonta aos tempos do Império Romano, altura em que os Sefarditas – palavra derivada de Sefarad, a designação hebraica de Península Ibérica – aqui se instalaram. Ao longo dos séculos,  acabariam por desempenhar papéis de extrema importância para a História de Portugal, destacando-se os seus contributos para a fundação da nacionalidade e o povoamento do território.

Durante a Idade Média, a sua relevância no campo das finanças, cultura e artes manuais rendeu-lhes uma posição privilegiada junto dos monarcas da Primeira Dinastia. Mais tarde, o seu apoio a nível financeiro e científico, revelar-se-ia essencial durante a época áurea dos Descobrimentos, sendo de destacar a invenção no século XVI do instrumento de navegação náutica Nónio por Pedro Nunes, matemático e cosmógrafo de origens judaicas.

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Independentemente da sua relevância, os judeus eram ainda assim segregados da restante população. Concentravam-se em zonas específicas das localidades, conhecidas por Judiarias. Os símbolos colocados nas soleiras, janelas e portas das suas casas como indicação que ali morava um judeu, persistiram ao passar dos séculos, sendo ainda hoje possível detetá-los nas antigas judiarias de várias vilas e cidades serranas.

Uma visita a Belmonte, Castelo Rodrigo, Coimbra, Tomar, Covilhã, Trancoso ou Guarda revela vestígios da presença secular e influência arquitetónica, cultural, urbanística e religiosa desta comunidade. Uma das mais importantes rotas culturais tem, efetivamente, nesta região um autêntico mostruário patrimonial. Aqui, conta-se a história daqueles que são os últimos judeus secretos sefarditas.

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De facto, a região Centro de Portugal foi uma das zonas que registou um maior impacto da presença judaica entre os séculos V e XV. A indústria dos lanifícios, por exemplo, atualmente uma das suas áreas económicas de maior destaque, foi impulsionada pela quantidade de judeus que exerciam profissões nas áreas do comércio e material têxtil.

Mesmo após a emissão de uma ordem para a sua expulsão de Portugal, em 1496, por D. Manuel I (o Édito de Expulsão dos Judeus), após dez séculos de tolerância religiosa, muitos ficaram, aceitando a conversão obrigatória ao catolicismo, ficando conhecidos por cristãos-novos. A sua fé judaica, no entanto, permaneceria inabalada, sendo praticada em segredo, o que lhes valeria a designação de cripto-judeus.

Durante a II Guerra Mundial, Portugal voltou a ser porto de abrigo de milhares de judeus que, graças à preciosa ajuda do cônsul português Aristides de Sousa Mendes, se refugiaram das perseguições nazis, entrando em solo nacional através da fronteira de Vilar Formoso. Aqui, pode visitar o Museu “Vilar Formoso Fronteira da Paz, Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes”, memorial aos refugiados e ao cônsul Aristides de Sousa Mendes. E, já que estamos pelo município de Almeida, que tal um regresso ao passado para visitar a judiaria e a “esnoga” de Malhada Sorda?

A figura  incontornável de Aristides de Sousa Mendes obriga também a uma deslocação a Cabanas de Viriato (Carregal do Sal), terra que o viu nascer, para conhecer a sua Casa do Passal, a casa que pertenceu ao cônsul.

A melhor forma de saber mais sobre a história das comunidades judaicas em Portugal é embarcando numa viagem pela Rota das Judiarias, que o levará a descobrir alguns dos vestígios judaicos mais fascinantes na zona do Centro de Portugal, preservados graças ao contributo da Rede de Judiarias, associação de caráter público, mas de direito privado, fundada em março de 2011, que tem como objetivo a preservação e promoção turística do património de origem judaica em Portugal. Neste mapa, consegue perceber os pontos que fazem parte da Rota das Judiarias. Vai ajudá-lo se quiser fazer este percurso.

Belmonte, conhecida por nação judaica, acolhe a última comunidade Criptojudaica da Península Ibérica e, quiçá, da Europa, foi oficialmente reconhecida em 1989, encontrará, para além do Museu e do Cemitério Judaico, a Sinagoga “Beit Eliahu” (Filho de Elias), centro de culto judeu inaugurado em 1996. Esta vila beirã, a par de Trancoso e Penamacor, é uma das maiores referências na Península Ibérica no que diz respeito a património judaico, tendo a sua comunidade cripto-judaica mantido-se organizada como originalmente durante os últimos quinhentos anos.

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Alenquer, Almeida, Castelo Branco (visite a Casa da Memória Judaica e dos Cristãos Novos), Celorico da Beira, Covilhã, Figueira de Castelo Rodrigo, Fornos de Algodres, Fundão, Gouveia, Guarda, Idanha-a-Nova, Leiria, Linhares da Beira, Manteigas, Mêda, Penamacor (visite a Casa da Memória da Medicina Sefardita António Ribeiro Sanches), Pinhel, Sabugal (visite a Casa da História Judaica da Raia Sabugalense), Seia, Tomar (onde a antiga sinagoga do século XV deu lugar ao atual Museu Luso-Hebraico de Abraão Zacuto, onde poderá descobrir a história do seu patrono), Torres Vedras e Trancoso são outras localidades nesta região que guardam, ainda hoje, vestígios deste Portugal Judaico. Em Trancoso, vale a pena visitar o Centro de Interpretação Judaica Isaac Cardoso e a Emblemática Casa do Gato Preto.

Não se esqueça – caso tenha tempo – de visitar o Centro de Diálogo Intercultural de Leiria, bem como uma o Museu Damião de Góis e das Vítimas da Inquisição, em Alenquer. Aproveite ainda para visitar o Story Center, dedicado à presença Judaica na Idade Média, localizado na “Casa da Cerca da Josefa”, em Torres Vedras.

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O património judaico espalhado pela zona Centro de Portugal é um livro aberto sobre uma comunidade que desempenhou, ao longo de vários séculos, um papel de grande relevância na História portuguesa. Descobri-lo é aprofundar o nosso próprio conhecimento sobre as origens de Portugal.

Saiba mais sobre este projeto
em https://observador.pt/seccao/centro-de-portugal/