O Bloco de Esquerda pretende ouvir no Parlamento dois dos clientes do antigo Banco Espírito Santo (BES) mais mediáticos cujos empréstimos provocaram perdas ao Novo Banco. São eles Luís Filipe Vieira, o presidente do Benfica e acionista da empresa de imobiliário Promovalor, e Nuno Vasconcellos, fundador da Ongoing, empresa insolvente que foi acionista de referência da antiga PT, e que está a viver no Brasil.

No caso dos negócios de Luís Filipe Vieira são ainda propostos os nomes de Tiago Vieira, o filho do presidente do Benfica que tem responsabilidades de gestão nas empresas, e Nuno Gaioso Ribeiro, que foi administrador da SAD benfiquista, e é gestor da empresa que ficou a gerir o património imobiliário executado pelo Novo Banco à Promovalor de Vieira. Quer a Ongoing, quer as empresas de Luís Filipe Vieira, têm créditos que ficaram do lado dos ativos ditos maus e que dão direito a proteção de perdas por parte do Fundo de Resolução, ao abrigo do mecanismo de capital contingente. E que já geraram prejuízos que terão sido cobertos por fundos públicos.

PSD e Bloco chamam altos dirigentes do BCE e Comissão Europeia

A lista que será entregue pelo partido no quadro da comissão parlamentar de inquérito à gestão do Novo Banco inclui ainda dois altos responsáveis europeus pela direção da concorrência e das ajudas de Estado, num total de 18 audições propostas. O PSD também aponta o alvo a altos dirigentes europeus, numa lista onde surgem Christine Lagarde, atual presidente do Banco Central Europeu, o supervisor do Novo Banco, e antecessor, Mário Draghi, e Margrethe Vestager, a vice-presidente da Comissão Europeia que lidera a pasta da concorrência desde os tempos da resolução do BES. (Em regra estas personalidades quando são chamadas a dar explicações nas comissões de inquérito respondem por escrito)

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Já o PAN (Partido Pessoas, Animais e Natureza) quer chamar Rui Pinto à comissão parlamentar de inquérito às perdas do Novo Banco. Em comunicado, o partido justifica a inclusão do hacker na lista das personalidades a ouvir porque o objeto do inquérito vai abranger o período que antecedeu a resolução do Banco Espírito Santo e as práticas que conduziram a perdas. Nessa medida, pretende esclarecer “um conjunto de perdas do BES associadas ao BES-Angola e que até hoje permanecem obscuras” e espera que Rui Pinto possa apresentar os documentos que “afirma comprovarem um desvio de 600 milhões de euros através da “criação de empresas meramente instrumentais, depósitos fictícios, e transferências bancárias para offshores como as Ilhas Virgens Britânicas e as Seychelles”.

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O alegado pirata informático já reagiu à notícia. Num tweet publicado ao final da tarde, Rui Pinto disse estar “à inteira disposição da comissão” para fundamentar a sua denúncia “e juntar os elementos necessários”. “É um dever de cidadania”, escreveu ainda.

Na lista de 32 pedidos de audição propostos pelo partido está ainda o presidente do conselho geral do Novo Banco, Byron Haynes, que foi indicado pela Lone Star e que, segundo o deputado André Silva, “tem de esclarecer ao Parlamento os claros indícios de conflito de interesses que lhe estão associados neste contexto”. A audição de Haynes também é pedida pelo CDS que junta os nomes dos administradores que abandonaram a equipa liderada por António Ramalho numa lista com 20 audições e os dos anteriores presidentes do Novo Banco, que também são chamados por outros partidos.

O PAN quer ainda ouvir Rita Barosa, antiga diretora do BES que está ligada à consultora Alantra, com quem o Novo Banco trabalhou, no projeto Viriato (venda de carteira de imóveis). António da Silva Barão o fundador de empresas que foram utilizadas nestas transações imobiliárias também consta da lista.

Há ainda pedidos para ouvir outras pessoas associadas aos processos de venda de ativos a preços de desconto (face ao balanço) do Novo Banco e que são uma das matérias que a comissão de inquérito pretende investigar, como os responsáveis pelos departamentos de compliance e gestão imobiliária. O PAN entregou esta segunda-feira a lista com 32 pedidos de audição 17 dossiês de documentação, onde se inclui a famosa avaliação independente que o Banco de Portugal promoveu à sua atuação depois da resolução do BES.

Outros partidos também já divulgaram a sua lista de audições e documentos propostos cujos pedidos por parte da comissão parlamentar de inquérito terão de ser votados, como foi o caso do PSD. Nestas listas há vários nomes que são propostos por mais do que um partido, como são os casos do atual ministro das Finanças e dos ex-titulares do cargo, Mário Centeno e Maria Luís Albuquerque, o ex-governador Carlos Costa, o presidente do Novo Banco, António Ramalho, o presidente do Fundo de Resolução, Máximo dos Santos, e os membros da comissão de acompanhamento do Novo Banco. O PSD vai também chamar Sérgio Monteiro, o ex-governante social-democrata que liderou o processo de venda do Novo Banco à Lone Star, já fechado com os socialistas no poder.