O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pressionou o secretário de estado da Geórgia e membro do Partido Republicano, Brad Raffensperger, a encontrar os votos que ele diz terem sido destruídos no estado para favorecê-lo na eleição presidencial de 2020. A informação é avançada pelo jornal Washington Post, que conseguiu uma gravação de uma conversa por telefone mantidas entre os dois.
A determinada altura, escreve aquela publicação norte-americana, é possível ouvir Trump a tentar convencer Raffensperger a dar a vitória aos republicanos naquele estado:
Tu sabes o que eles fizeram e não estás a denunciar. Isso é uma ofensa criminal. Não podes deixar isso acontecer. É um grande risco. Eles estão a destruir boletins, na minha opinião, e a remover máquinas de voto. São atos criminais e não podes deixar isso acontecer. E é o que estás a permitir. Só preciso encontrar 11.780 votos. Brad, o que é que vamos fazer? Nós ganhámos e não é justo que a estejam a roubar”, disse Trump.
Do outro lado da linha ouve-se o secretário de estado da Geórgia a dizer que Trump tinha na sua posse informações falsas — alegadas irregularidades nos votos — e que não podia fazer o que o Presidente pedia. “Bem, Sr. Presidente, o problema é que os dados que você tem estão errados”, respondeu-lhe. “Não concordamos que você tenha ganho“, acrescentou ainda, para depois explicar “ponto por ponto” a recontagem de votos feita.
Segundo o mesmo Washington Post, Donald Trump tentou várias vezes coagir Brad Raffensperger, insistindo que tinha perdido as eleições naquele estado devido a irregularidades e que os resultados não podiam ser divulgados. A dada altura na conversa Trump diz abertamente:
Então olhe. Tudo que eu quero fazer é isto: só quero encontrar 11.780 votos, um a mais do que nós temos. Porque ganhamos o estado”.
Raffensperger nunca cedeu e foi afirmando: “Acreditamos que temos uma eleição correta” ou “acreditamos que os nossos números estão certos”. Em meados de novembro, o secretário de estado da Geórgia já tinha denunciado publicamente pressões para não dar a vitória aos democratas naquela região, incluindo ameaças de morte, apontando diretamente o dedo a figuras ligadas aos Republicanos.
No Twitter, Trump disse que Raffensperger “não queria ou não conseguia responder a perguntas relacionadas com a ‘fraude dos boletins de voto de baixo da mesa’, destruição de boletins, ‘eleitores’ de fora do estado, eleitores mortos e muito mais”. “Ele não fazia ideia!”, afirmou o Presidente norte-americano.
I spoke to Secretary of State Brad Raffensperger yesterday about Fulton County and voter fraud in Georgia. He was unwilling, or unable, to answer questions such as the “ballots under table” scam, ballot destruction, out of state “voters”, dead voters, and more. He has no clue!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) January 3, 2021
Em reação a esta acusação, Raffensperger também respondeu no Twitter: “Com todo o respeito, Presidente Trump: o que você está a dizer não é verdade. A verdade virá à tona”.
Respectfully, President Trump: What you're saying is not true. The truth will come out https://t.co/ViYjTSeRcC
— GA Secretary of State Brad Raffensperger (@GaSecofState) January 3, 2021
O assessor de campanha de Trump, Jason Miller, também reagiu e defendeu que “a gravação completa mostrará que Raffensperger ainda é um hack [político corrupto]”. Miller considera que o presidente “acertou em cheio nas críticas ao péssimo trabalho que Raffensperger fez”. “Todos os funcionários que comandaram as eleições na Geórgia são lixo, e o presidente Trump ganhou no estado”, escreveu ainda.
And the full recording will show that @GaSecofState is still a hack, @realDonaldTrump is spot-on in his criticisms of the terrible job Raffensperger did, all of the officials running Georgia’s elections are trash, and @POTUS won the state. #MAGA https://t.co/uqdRTdqUhf
— Jason Miller (@JasonMillerinDC) January 3, 2021
Por outro lado, o senador democrata Dick Durbin criticou o presidente por um “esforço vergonhoso de intimidar uma autoridade eleita” e para “deturpar” os resultados das eleições de 2020, escreve a Fox News. O senador pediu ainda uma “investigação criminal” sobre a conduta de Trump.