Com um blazer, chapéu e gravata, Diane construiu um visual icónico. E já lá vão 50 anos desde que a jovem atriz fez dos palcos da Broadway a sua via de acesso à sétima arte. A perspicácia e o sarcasmo conquistaram Woody Allen. Contracenaram, namoraram e, por fim, o realizador desenhou uma protagonista à sua imagem e semelhança. “Annie Hall” abriu-lhe a porta ao primeiro e único Óscar, em 1978, e anunciava ao mundo o nascimento de uma musa. Allen soma hoje uma lista extensa, mas nenhuma como a primeira.
As escolhas de guarda-roupa ressaltam por entre as tendências dos anos 70. Em vez dos brilhos que povoaram as pistas de dança, apropriou-se de peças tradicionalmente masculinas e cunhou uma nova ideia de glamour. As tiradas de humor e os apontamentos de ironia formaram o pendant perfeito. Soma exatamente cinco décadas de carreira, quase sempre de olhos postos na comédia.
Curiosamente, foi sempre nos estúdios de Hollywood que se apaixonou. Primeiro, Woody Allen. Mais tarde, Al Pacino. Já nos anos 80, Warren Beatty. Nunca casou, o que não a impediu de ser mãe. Em 1996, adotou Dexter, atualmente com 26 anos. Em 2001, a família cresceu com a adoção de Duke, hoje com 21 anos.
Nos últimos anos, Keaton ganhou popularidade no Instagram. A rede social tornou-se uma extensão de informalidade que a caracteriza e, por isso, uma montra de variedades. Das dicas de styling às habilidades caninas, das recordações de infâncias a obras de arte, esta incursão pelas redes sociais depois dos 70 já lhe valeu mais de 1,8 milhões de seguidores e uma mão cheia de ótimas selfies.
A eterna Annie Hall
Diane Hall, nasceu a 5 de janeiro de 1946, em Los Angeles. Inspirada pelo ídolo Katharine Hepburn, começou a envolver-se em atividades de música e representação, ainda na escola. Terminados os estudos elementares, trocou a Costa Oeste por Manhattan em meados da década de 60. Os primeiros anos em Nova Iorque foram passados entre aulas de teatro e modestos números musicais em clubes noturnos. É quando muda o seu nome artístico para Diane Keaton, adotando um dos sobrenomes da mãe.
Em 1968, integra pela primeira vez um elenco da Broadway. “Hair” antecedeu “Play It Again, Sam”, espetáculo escrito, produzido e coprotagonizado por Woody Allen. A aventura valeu-lhe uma nomeação para o Tony. Em 1970, estreava-se estreava-se no cinema com a comédia romântica “Lovers and Other Strangers”. Mas a relação com Allen estava longe de se resumir ao espetáculo da Broadway. A atriz em iniciação (que chegou também a ser estrela de um anúncio a desodorizantes, na altura) e o realizador tornaram-se namorados, embora a tão almejada química tenha perdurado muito mais do que o título de casal, que não ficou pelo início dos anos 70. Durante cerca de dez anos, trabalharam frequentemente juntos, além de terem continuado amigos.
Em 1972, veste a pele de Kay Adams em “O Padrinho”, de Francis Ford Coppola. O papel transbordou para a sequela, dois anos depois, e atirou-a para os braços do seu par romântico, Al Pacino. Keaton partilhou mais tarde a vontade que tinha de dar o nó, mas o casamento não fazia parte dos planos do galã e a relação terminou.
Em 1977, “Annie Hall”, realizado por Woody Allen, eleva a fasquia para Keaton com uma protagonista inspirada na própria atriz que lhe deu vida, dos trejeitos ao nome, passando pelo guarda-roupa da personagem, do qual fizeram parte algumas peças de Diane. O filme teve reconhecimento imediato com quatro Óscares, o de Melhor Filme, o de Melhor Realizador, o de Melhor Argumento Original e o de Melhor Atriz, que a protagonista acumulou, nesse ano, com o Globo de Ouro e com o BAFTA.
O estilo de Diane Keaton
A imagem da atriz abriu-lhe caminho. Logo no início dos anos 70, Diane destacou-se entre as demais estrelas de Hollywood por roubar alguns dos clássicos masculinos. Camisas, fatos, blazers, gravatas, boinas e chapéus — tudo isto colado com um styling que inspirava liberdade e descontração. Em 1978, foi a primeira atriz a vestir uma criação de Giorgio Armani na passadeira vermelha dos Óscares. E a silhueta esteve longe das finas cinturas, dos brilhos ou das tonalidades noturnas que hoje se reconhecem à distância. Em vez disso, Keaton usou um casaco de corte masculino sobre uma camisa branca e com uma saia acima do tornozelo. Acessórios? Uma flor de tecido na lapela e um lenço.
Diane atravessou as décadas a protagonizar escolhas surpreendentes como esta. O tuxedo acompanhou-a sempre, mas também o uso inesperado de pérolas, o chapéu de coco, as meias brancas conjugadas com sapatos de salto alto e as pequenas lentes. O gosto pela moda acompanha-a desde a infância. Numa das suas partilhas no Instagram, recordou os tempos em que escolhia tecidos de diferentes padrões para que fosse a mãe a costurar-lhe a roupa, bem como o velho hábito de acumular recortes de desfiles e produções numa espécie de moodboard pessoal.
Na prática, o resultado é um álbum coerente, apenas levemente tocado pelas tendências mais passageiras. Um estilo à prova de idade, que acentua a ideia de uma jovialidade espontânea, mesmo aos 75 anos (e sem cirurgia plástica). Na fotogaleria, reunimos algumas das imagens que mostram a evolução do estilo de Diane Keaton, ao longo dos últimos 50 anos.