Costuma-se dizer que depois da tempestade vem a bonança e no caso deste jogo referente à 13ª jornada do campeonato nacional, a sabedoria popular serviu como uma luva. Ou melhor, como daqueles fatos de surfista, sempre muito justos, referência óbvia se tivermos em conta a chuvada que depois da calmaria se abateu sobre a Choupana durante o final de tarde em que o Sporting venceu por duas bolas a zero a equipa da casa, o Nacional da Madeira. Mas já lá vamos.

“O Sporting não pressiona nada nem ninguém [para haver ou não jogo]. Se houver condições e o árbitro decidir, estejam poças ou piscinas, o Sporting vai ser competitivo e lutar pela vitória. É uma decisão do árbitro, de acordo também com as duas equipas. O que se pode esperar? Um Sporting igual ao que tem sido, com uma excelente atitude, que conhece bem o adversário e preparado para um jogo difícil, frente a uma equipa muito organizada, com um treinador de muita qualidade. Pode haver uma tempestade na Madeira, preparámo-nos para um terreno diferente mas vamos ser muito competitivos. Esperamos a máxima dificuldade mas preparámo-nos para isso”. Foram estas as palavras ditas por Rúben Amorim ainda em Lisboa, antes da viagem para a Madeira e antes de abordar os três últimos encontros com triunfos mais “apertados” por parte dos leões.

“Os adversários jogam bem, os treinadores são muito inteligentes, as equipas e os seus jogadores têm os seus momentos. Aqui [em Alvalade] com o Gil Vicente tivemos dificuldades para criar jogadas para finalizar e três dias depois, com o Tondela, foi o que se viu. Sei que no futebol às vezes basta um clique, tem a ver com coisas que não controlamos. Sabemos que isto pode mudar de um momento para outro mas a nossa forma de jogar não”, frisou na sequência dos triunfos com Farense (1-0), Belenenses SAD (2-1) e Sp. Braga (2-0) que, mesmo tendo dificuldades e desafios maiores do que em alguns triunfos anteriores, seguraram a liderança e ganharam mais dois pontos em relação ao Benfica, que não foi além de um empate frente ao Santa Clara. “Título? Somos candidatos a vencer o próximo jogo. Faltam 22 jornadas e isso é muito. Numa semana podemos perder seis pontos, no futebol tudo é possível. O meu pensamento é vencer este jogo e estar mais duas semanas na liderança”, referiu.

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Ficha do jogo

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Nacional da Madeira – Sporting Clube de Portugal, o-2

13ª jornada da Liga Portuguesa

Choupana, em Funchal

Árbitro: Manuel Mota (AF Braga)

Nacional: Daniel; João Vigário (Chico Ramos, 82′); Kal, Júlio César e Rúben Freitas; João Camacho (João Vítor, 67′); Nuno Borges (A. Alhassan, 67′) Rúben Micael ( K.Gorré, 45′) e Azouni (Witi, 82′); Rochez e Riascos.

Suplentes não utilizados: R. Piscitelli; Pedrão; V. Thill; V. Koziello;

Treinador: Luís Freire

V. Guimarães: Adán, Feddal, Coates, Luís Neto; Nuno Mendes, João Palhinha, João Mário (Matheus Nunes, 76′), Pedro Porro; Nuno Santos (Jovane Cabral, 87′) , Sporar (Tomás Tavares, 67′), Pedro Gonçalves

Suplentes não utilizados: Luís Maximiano, Antunes, Gonçalo Inácio, Borja, Bruno Tabata, Gonzalo Plata

Treinador: Rúben Amorim

Golos: Nuno Santos (43′) e Jovane Cabral (90+1′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Rúben Micael (11′), Nuno Borges (61′), Rúben Freitas (69′), e Feddal (28′)

Era neste contexto que o Sporting chegava à Choupana, tendo pela frente um Nacional que começou a Primeira Liga com apenas uma derrota nos primeiros sete jogos mas que, antes da última vitória em casa com o Tondela, teve três desaires consecutivos.

Nesta quinta-feira, data original em que era suposto ter acontecido este jogo, a depressão Filomena virou tudo do avesso com rajadas de vento a velocidades de cento e muitos quilómetros por hora. As bolas não paravam sossegadas no relvado, as bandeirolas de canto pareciam querer descolar a qualquer momento e não demorou muito até o árbitro da partida, Manuel Mota, dizer que não havia condições para a prática da modalidade. Depois da autêntica epopeia que foi terminar a viagem de avião entre Lisboa e o Funchal, os rapazes de Rúben Amorim ganhavam mais umas horas de descanso.

Fast forward até esta sexta-feira: “Depois da tempestade vem a bonança! Hoje é dia de jogo. Dia de vencer! Vamos, alvinegros!”, lia-se numa publicação partilhada no Twitter oficial do Nacional da Madeira que surgia acompanhada de uma fotografia da Choupana banhada de sol. Milagre! Afinal adivinhava-se que o retomar da partida adiada correria às mil maravilhas. À medida que a hora do jogo se aproximava, essa noção ia ficando nublada.

Nacional da Madeira e Sporting não apresentaram qualquer alteração nos onzes que tinham anunciado menos de 24 horas antes. Foram os mesmos que subiram dos balneários já na Choupana e aquilo que viram era ligeiramente diferente da fotografia partilhada horas antes nas redes sociais do Nacional. O sol tinha dado lugar ao cinzento mas o relvado, pelo menos, parecia em boas condições. O importante era não estragar e por isso mesmo os exercícios de aquecimento foram repartidos entre o relvado principal e um alternativo, mesmo ao lado.

A minutos do pontapé de saída começava a cair uma chuva miudinha que rapidamente foi crescendo. O jogo? Esse começou lento, com ambos os dois lados a analisarem-se e sem grande rasgo. Tardou pouco, porém, a perceber que o verde do relvado ia virar castanho cor de lama e essa mudança ia ditar todo o decorrer do jogo.

À medida que a chuva engrossava, jogadores mais dotados de velocidade como o sportinguista Nuno Mendes (que foi dos primeiros a tentar desequilibrar pela esquerda) , ou até mesmo Riasco, o ala alvinegro que logo de início procurou fazer a diferença (contra um Pedro Porro voluntarioso e incansável), iam percebendo que o seu jogo teria de mudar. Que o jogo das suas equipas teria de se adaptar a um autêntico batatal que surgiu onde antes vivia um campo de futebol. À conta disso o meio campo das duas equipas ganhou preponderância: Palhinha e João Mário, em terrenos mais baixos, e Pote com Nuno Santos, mais descaídos para o centro e de olhos postos na baliza.

Aos 15 minutos da primeira parte o Sporting já se tinha instalado totalmente no meio campo adversário, dominava a posse de bola mas embatia na teimosia e inspiração de Daniel, o guardião do Nacional que logo aos oito minutos afasta um cruzamento perigoso de Feddal e vê Pedro Porro enviar uma bomba da entrada da grande área rumo ao infinito. O inevitável Pedro Gonçalves, perto dos 20 minutos, também pregava um susto à equipa da casa quando rematou quase na cara de Daniel e viu a defesa preta e branca a negar-lhe o golo.

Seria preciso esperar até aos 33 minutos para ver o primeiro lance de real perigo para os madeirenses, um cruzamento cobrado pela ala direita da equipa da casa em direção a Rochez, que recebeu a bola e chutou para a defesa de Adán. Se não estivesse em fora de jogo teria sido ainda mais sério, o ameaço. Quem também ameaçava — muito e muito bem — era Pedro Gonçalves a.k.a. Pote, o motor do ataque leonino que vai sempre passando despercebido até aparecer com golo nos pés. Aos 35 minutos quase que o viu aparecer, num lance perigoso em que valeu a atenção do guarda-redes do Nacional. Seria a pouco mais de três minutos do fim da primeira parte que Nuno Santos recebeu meio golo de Gonçalves, o inevitável, e só teve de encostar. Os leões iam para o balneário molhados mas mais descansados.

A segunda parte veio mais pesada e menos fluída, com ambas as equipas a acusar o estado lastimável do relvado que cada vez ia piorando mais — há um lance em que Palhinha sofre falta, cai e vai a deslizar na lama ao longo de uns três metros. O que ia fazendo a diferença era o talento de Palhinha, que facilitou muito a vida dos centrais de de Adán, e de Pote, num primeiro plano, a liderar o ataque (subiu muito de rendimento nos segundos 45 minutos), com Nuno Santos sempre pronto a dar uma ajuda. Praticamente todos os lances de perigo do Sporting era protagonizados por Pote: foram pelo menos três as ocasiões flagrantes de golo que, teimosamente, não se concretizaram. Só já no cair do pano é que o marcador fechava: Numa jogada rápida, o recém entrado Jovane Cabral celebrou o seu regresso aos relvados depois de longo período de lesão com um golo servido por Tomás Tavares, que também tinha entrado pouco antes.

O jogo acabou com o Sporting a segurar firme a liderança, de olhos postos nos desafios que ainda aí vêm (o seu calendário vai começar a apertar) e a desejar ter usado o tal fato de surfista mencionado umas linhas lá para cima.