O especialista Pasi Penttinen, do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), considera que o encerramento de escolas na Europa é a “medida menos eficaz” contra a Covid-19, embora admita possíveis efeitos na redução da transmissão.
Como uma medida isolada, o encerramento de escolas não vai resolver esta pandemia. Se os países decidirem fechar escolas, isso pode ter algum impacto na [quebra da] transmissão, mas não é tão eficaz como muitas das outras medidas”, afirma o especialista principal do ECDC para o novo coronavírus e gripe, Pasi Penttinen, em entrevista à agência Lusa.
Numa altura em que Portugal equaciona voltar a um confinamento semelhante ao adotado em abril e maio do ano passado para conter a propagação da Covid-19 no país, com a diferença de manter as escolas abertas, Pasi Penttinen insiste que o fecho destes estabelecimentos “não é, modo algum, a medida mais eficaz à disposição”.
“E só deve ser feito em linha com o que acontece na comunidade”, acrescenta o responsável.
Isto significa que “se os países estão a fechar locais de trabalho, centros comerciais e ajuntamentos públicos, então esta [o fecho das escolas] pode ser uma medida a ser considerada de forma adicional”, mas apenas nestes casos, ressalva Pasi Penttinen.
Aludindo aos estudos científicos já realizados, o especialista nota que “as crianças ficam infetadas da mesma forma que os adultos”, mas acabam por “desenvolver muito menos sintomas e doenças menos graves do que os adultos e quase não existem mortes entre as crianças”.
Sabemos que as crianças podem transmitir aos outros, quer sejam ou não sintomáticos, mas aparentemente são menos eficazes nessa transmissão do que os adultos”, explica Pasi Penttinen.
O especialista chama, porém, à atenção sobre a nova variante do SARS-CoV-2 que apareceu no Reino Unido, e que segundo as amostras científicas preliminares é 70% mais contagiosa e atinge principalmente crianças e jovens.
“Uma questão a que temos de ficar atentos é à nova variante reportada pelo Reino Unido e por outros países europeus”, diz Pasi Penttinen, assinalando que “há alguns indicadores preliminares de que esta nova variante pode comportar-se de forma diferente em crianças”.
O responsável aconselha, então, que os países apertem as medidas de contenção.
“Nenhuma das medidas é, por si só, eficaz, quer estejamos a falar de encerramento de escolas, da utilização de máscaras ou proibição de ajuntamentos. […] Só agregando algumas medidas, através de uma abordagem mais abrangente, é que é possível quebrar as tendências da doença”, conclui Pasi Penttinen.
ECDC admite novos confinamentos “e quanto mais cedo melhor”
O ECDC também admite novos confinamentos na Europa devido ao aumento do número de casos de Covid-19 após as festividades de final de ano, defendendo que “quanto mais rapidamente avançarem, melhor”.
“Quando se fala em confinamento, na junção das medidas restritivas, está-se basicamente a paralisar a sociedade […] para conseguir que os números baixem. […] Somos a favor de existirem restrições claras para reduzir o contacto entre as pessoas, independentemente da forma que assumem”, afirma o especialista principal do ECDC para o novo coronavírus e gripe, Pasi Penttinen, em entrevista à agência Lusa.
Numa altura em que Portugal equaciona voltar a um confinamento semelhante ao adotado em abril e maio do ano passado para conter a propagação da Covid-19 no país, que atinge novos recordes, o especialista vinca que “todas as medidas que reduzem os contactos entre as pessoas, especialmente em locais movimentados e no interior, são eficazes contra este vírus”.
“E quanto mais cedo estas medidas forem adotadas, melhor é”, afirma Pasi Penttinen, embora apontando que cabe a cada país europeu avaliar o “quão apertadas deverão ser”.
Num relatório publicado no início de dezembro passado, o ECDC alertou para os “riscos adicionais significativos” das festividades de fim de ano, como o Natal, notando que o aumento das infeções de Covid-19 seria “muito provável” nesta época.
Na altura, a agência europeia vincou que relaxar as medidas restritivas “demasiado cedo resultaria num aumento de casos e hospitalizações e isto seria particularmente rápido se as medidas fossem levantadas abruptamente”.
Apesar de salientar que “ainda é muito cedo” para avaliar o impacto das festividades na transmissão, Pasi Penttinen diz à Lusa que os países que nessa época festiva mantiveram as restrições estão a registar o “efeito das difíceis e apertadas medidas”, enquanto outros registam aumentos acentuados no número de novas infeções, hospitalizações e mortes.
Portugal, um dos países europeus com medidas mais leves durante as festividades, inclui-se neste último grupo, ao ter registado nos últimos dias números máximos diários de mortes (122) e de casos confirmados (10.176).
“Quando esse tipo de restrições é adotado, normalmente só existe uma tendência de redução após duas semanas, é isso que tem acontecido”, acrescenta o responsável, explicando que os aumentos também só surgem duas semanas após o relaxamento das medidas.
Ainda assim, Pasi Penttinen admite que alguns números possam resultar de questões como atrasos na notificação por parte dos laboratórios, dificuldades no acesso aos testes de diagnóstico e ainda o impacto do inverno.
“O que dissemos antes do Natal foi bastante claro, que […] as medidas restritivas seriam importantes para assegurar que a transmissão não se tornaria ainda mais ativa nestes países e, especialmente, para proteger os sistemas de saúde porque sabemos que no inverno normal, com a gripe, podem registar-se situações de pressão nas urgências e nos cuidados intensivos, por isso esta [a pandemia] é uma razão adicional”, aponta o especialista principal do ECDC.
Nos últimos meses, a agência europeia tem vindo a recomendar medidas mais direcionadas em vez de confinamentos mais generalizados, mas admite agora medidas mais apertadas.
Em muitos países [europeus], este tipo de abordagem não foi bem-sucedida e, infelizmente, muito frequentemente é preciso apertar estas medidas, passo a passo, até haver impacto na transmissão”, adianta o responsável.
Já quanto à duração do confinamento, “quanto mais tempo, melhor”, conclui Pasi Penttinen.