Nos últimos dias os números da pandemia em Portugal têm batido recordes e esta quarta-feira não foi diferente, mas desta vez apanhou Marcelo Rebelo de Sousa numa visita à escola secundária Pedro Nunes, em Lisboa, e o candidato-Presidente teve de se explicar. Numa altura em que está sob ponderação o encerramento das escolas, Marcelo garantiu que foi com três testes feitos: um PCR anteontem que deu negativo, um antigénio esta manhã que deu negativo e um PCR feito ontem que ainda não tem resultado. Todas as precauções, quando a variante britânica do vírus está “a crescer a um ritmo muito acelerado”, o que pode ser decisivo para a questão das escolas cuja “ponderação de fatores” para fechar ou manter abertas vai surgir “entre hoje e amanhã”, disse Marcelo apontando para uma decisão mais rápida do que se previa. 

“O senhor primeiro-ministro foi hoje apresentar a Bruxelas o programa presidência portuguesa portuguesa da União Europeia e chega ao fim da tarde, começo da noite, o Governo tem o seu Conselho de Ministros na sexta-feira. O que é normal nestes casos é que o Governo pondere aquilo que deve ser ponderado, fale com o Presidente e, se for caso disso, com os partidos, e que pondere se se deve esperar até à sessão dos epidemiologistas na terça-feira” para decidir.

Mas também diz que não se antecipa ao Governo por motivos institucionais, ao mesmo tempo que diz que “é uma questão que se vai colocar entre hoje e amanhã. Entre hoje à noite e amanhã. A ponderação dos fatores em presença. É evidente que os dados de hoje, em termos de opinião pública, são dados que têm de ser analisados com cuidado. Correspondem a previsões já antes feitas, mas os dados adicionais relevantes são a variante britânica e o efeito da disseminação social nas escolas. E essa ponderação muito serena tem de se fazer.”

No final foi mais claro a ainda, explicando os jornalistas que as duas realidade “podem e devem ser ponderadas e essa ponderação deve acompanhar a evolução dos continentes e se verá se se justifica ou não uma decisão antes ainda do começo da semana que vem”. Marcelo considera que “há dados novos que devem ir sendo ponderados e que essa ponderação pode ser feita a todos o momento”, referindo-se à variante britânica.

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A mensagem ficou passada para que António Costa antecipe uma tomada de decisão, seja ela qual for, para responder a “famílias preocupadas”. Apesar da pressa, Marcelo aconselhou “uma ponderação serena” ao Governo, dando a entender que não estava totalmente de acordo com a decisão de manter as escolas abertas quando ela foi tomada, há oito dias: “O Governo inclinou-se para manter aberto e eu… [pausa enquanto abanava a cabeça de um lado para o outro a escolher palavras] aceitei os argumentos do Governo nesse sentido“. Ou seja, “não estragar o ano letivo, mas atentos à evolução em termos de escolas e à disseminação social”.

Em tempo de campanha sem bolos, Marcelo lá comeu o bolo de aniversário dos 115 anos do Pedro Nunes

A sessão com os alunos, no antigo ginásio da escola que hoje é auditório, começou logo por ser interrompida, quando Marcelo se preparava para falar, por um telefonema. “Só um minuto. Está a ligar alguém muito importante que está no estrangeiro e quer falar comigo. É alguém importante, se não não atendia”, assegurou aos cerca de 40 alunos do seu antigo liceu que o ouviam ordeiramente sentados em cadeiras distanciadas.

Estando o primeiro-ministro em Bruxelas e tendo o telefone do Presidente tocado precisamente quando foi publicado o boletim da Direção-geral de Saúde com os dados mais atualizados da situação epidemiológica do país, era bem possível que o nome que apareceu no visor fosse o de António Costa. Mas Marcelo desmentiu, mal entrou na sala minutos depois da conversa, assegurando que se tratava de “um chefe de Estado estrangeiro que precisa de falar por causa de uma questão importante” e que, segundo explicou, só podia naquele momento.

O auditório, mesmo com distanciamento, tinha cerca de 80 pessoas (entre alunos, professores e a comunicação social que acompanha a candidatura no terreno) que estiveram a ouvir de Marcelo dissertar sobre os tempos do Pedro Nunes, mas sobretudo sobre a pandemia e outros temas políticos durante mais de duas horas. Falou nas escolas, mas sem adiantar mais ao que já tem dito, apontando dois debates prioritários neste momento da decisão: o impacto da disseminação do vírus  nas escolas e o crescimento da variante britânica.

E, logo a abrir, respondeu aos críticos da visita à secundária quando se discute a segurança sanitária das escolas: “A razão pela qual eu decidi vir cá mesmo em pleno debate se se fecham ou não as escolas e com muita gente a dizer ‘como é que vai para uma escola’, eu vim cá depois de ter feito um teste ontem à tarde, saberei o resultado dentro de umas horas, e já hoje fiz um antigénio que deu negativo”.

Com uma “plataforma tão elevada de casos”, prevê Marcelo que “esta situação possa ser para um mês e meio, dois meses”. E deixou ainda palavras para os negacionistas: “Essas pessoas não veem bem. A Covid tem características muito mais agressivas do que as gripes clássicas e tem mutações e variantes. A britânica, de que se fala muito, tem um ou 2 meses e hoje em Portugal está a crescer a um ritmo muito acelerado que começou por ser de 10% mas está a crescer todos os dias”. E tem “potência de contaminação superior”.

A preocupação com esta estirpe é grande e Marcelo adverte que o seu peso não se imaginava há 15 ou mesmo oito dias, os números estão a chegar dos laboratórios”, diz. É por eles que o Governo estará à espera para decidir sobre as escolas. Ainda no debate parlamentar desta terça-feira, o primeiro-ministro afirmou: “Se para a semana soubermos, se amanhã soubermos, se depois de amanhã soubermos, se daqui a 15 dias soubermos, por exemplo, que a estirpe inglesa se tornou dominante no nosso país, muito provavelmente vamos ter de fechar as escolas.”

Apoio de Sócrates? Nada disso, sacudiu Marcelo

Tocou uma três vezes durante a longuíssima intervenção em que Marcelo falou de tudo. Para sair, para entrar, para sair de vez. O candidato já saiu depois dos alunos do Pedro Nunes que frequentou entre 1959 e 66. “Saía de casa quando a campainha começava a tocar, vivia na Rua de São Bernardo e vinha a correr pela Anastácio Rosa e chegava a tempo”, recordou aos alunos que o ouviam. “Limitei me a ter 19. Tive 20 a algumas cadeiras, mas 19 no primeiro ciclo,no  segundo ciclo e na saída”. Um cromo mas que conseguia “gozar” o liceu, garantiu. “Foram anos espectaculares”.

Das “primeiras paixões” que ali teve, aos amigos que somou, o voleibol e andebol que praticou, as tertúlias políticas, o snooker que jogava ali perto nos intervalos das aulas e a “curiosidade” que, garante, começou ali naquele edifício. De um lado para o outro, de microfone na mão, Marcelo falou, falou e falou quase interruptamente. Respondeu demoradamente a várias perguntas, algumas provocadoras, como aquela em que um dos alunos lhe perguntou sobre o apoio do ex-primeiro-ministro José Sócrates — acusado de crimes de corrupção — num artigo de opinião. Marcelo distanciou-se o mais que pôde.

“Não apoiou, limitou-se a, quando estava comentar os debates, atacar dois candidatos e disse que esse atacou tudo até o Presidente da República… o apoio foi só esse”, sublinhou sobre Sócrates. E recordou mesmo que “ao longo do mandato houve várias intervenções do anterior primeiro-ministro divergentes do exercício do mandato presidencial. É natural porque tem uma interpretação política e pessoal diferente em vários temas: justiça, economia e política”.

Nem uma palavra sobre Ventura e o medo da abstenção e da 2ª volta

Sobre André Ventura é que continua sem falar, mesmo quando são os alunos (e não os jornalistas) a confrontá-lo com esse adversário nestas presidenciais, ainda que depois fique longos minutos a falar — já em resposta a uma pergunta sobre Biden e os EUA — do fenómeno populista e dos movimentos inorgânicos e em como foi ele o primeiro a avisar, num discurso do 25 de abril, que essa era uma realidade que estava a crescer.

Depois saiu, rumo ao Porto, onde vai ficar até sair para Celorico de Basto, local de encerramento da sua mini campanha eleitoral. No Porto vai dedicar-se à saúde e sem suspender ações porque “a democracia não se deve suspende” e as suas iniciativas “já estão reduzidas ao mínimo”. Marcelo aperta no apelo ao voto neste últimos dias e deixa claro como teme uma abstenção elevada. “Basta que atinja 70% para tornar quase inevitável uma segunda volta”, avisa. A abstenção em presidenciais tem sido elevada, mas o máximo que já atingiu foi 53,48%, em 2011, na reeleição de Cavaco Silva.