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Pedro, o espanhol dos calções rotos que se tornou o modelo do Sporting (a crónica da final da Taça da Liga)

Este artigo tem mais de 3 anos

Mais do que táticas, jogadores ou um árbitro que quis ser protagonista, Sporting venceu Sp. Braga (1-0) e ganhou Taça da Liga na atitude. Aí não há como Porro, para quem cada lance é uma Champions.

Pedro Porro, lateral espanhol que chegou este ano ao Sporting por empréstimo do Manchester City, marcou o golo que decidiu a final da Taça da Liga
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Pedro Porro, lateral espanhol que chegou este ano ao Sporting por empréstimo do Manchester City, marcou o golo que decidiu a final da Taça da Liga

Getty Images

Pedro Porro, lateral espanhol que chegou este ano ao Sporting por empréstimo do Manchester City, marcou o golo que decidiu a final da Taça da Liga

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A 14.ª decisão da Taça da Liga trazia o 11.º duelo com dois protagonistas que nunca se tinham encontrado no jogo decisivo e que, de 2007/08 para cá, cruzaram apenas três vezes na prova. A primeira foi em janeiro de 2010, com triunfo dos leões em Alvalade por 2-1. A última foi em janeiro de 2020, com vitória dos minhotos em Braga (que era terreno neutro) por 2-1. Pelo meio, houve uma década que reinventou o cariz deste duelo que sempre teve a sua tradição mas que, entre negócios de jogadores, pagamentos em dívida e o cruzamento da subida dos arsenalistas com épocas de quebra dos leões, ganhou a história particular de uma rivalidade onde apenas um se diz rival e o outro circunscreve a dois os seus rivais. E a forma como os jogadores bracarenses festejaram a vitória há um ano, conseguida em cima do minuto 90 por Paulinho, corporizou esse mesmo caminho das últimas épocas.

Sporting vence Sp. Braga e conquista Taça da Liga pela terceira vez em quatro anos (1-0)

Muito mudou daí para cá. Alguns exemplos? O treinador que tinha menos de um mês de experiência num clube de Primeira Liga (e na ficha como adjunto) passou do Minho para Lisboa e comanda hoje já como técnico principal o líder do Campeonato – tendo entrado também no top 5 dos treinadores mais caros no futebol com menos de dez semanas no primeiro escalão. Um dos médios mais importantes no equilíbrio dos minhotos, que estava em Braga por empréstimo, esteve perto de sair com o encaixe a ser dividido pelos dois clubes mas ficou no Sporting para ganhar posição e assumir-se como pilar da equipa. Um dos avançados mais em voga em Portugal e que chegou até à Seleção tornou-se ator principal numa novela onde se escrevem muitos capítulos mas o enredo é o mesmo. Mas essas foram apenas as mudanças físicas porque houve outras corporizadas pelos próprios técnicos.

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“Histórico favorável nesta competição? A estrela que tenho pode fazer a diferença, é um ponto a favor do Sporting [risos]. Talvez quem marque primeiro tenha vantagem mas não foi o nosso caso contra o FC Porto, em que demos depois a volta. Mas as incidências do jogo podem mudar tudo. O jogo que tivemos no Campeonato foi muito equilibrado e sorriu-nos, agora este jogo pode ser totalmente diferente. O nosso foco agora foi ‘Como vamos jogar melhor contra o Sp. Braga?'”, destacou com algum humor à mistura Rúben Amorim na antevisão de um jogo onde reconheceu que sabe as valências individuais dos minhotos mas preferiu focar-se nos seus jogadores.

Com um discurso fresco, aberto mas bem mais pensado do que possa parecer à primeira vista (ou audição), Rúben Amorim conseguiu fazer individualmente um trajeto como poucos tendo apenas um ano e três semanas enquanto membro de uma equipa da Primeira Liga. Mais do que isso, construiu no Sporting uma equipa que, sem ter a profundidade dos plantéis de Benfica ou FC Porto, consegue estar na frente do Campeonato sem derrotas, numa mistura de elementos com maior experiência, jovens saídos da formação e apostas nacionais que prolongaram o destaque que tiveram nas anteriores equipas. As palavras não são as mesmas, o lugar é aquele a que os leões vão disputando muitas vezes por uma questão histórica. E se o futebol verde e branco voltou a ter estabilidade sem público nas bancadas (ou por não haver público nas bancadas), o técnico assumiu papel principal para isso.

“Temos mais opções neste momento do que no jogo do campeonato. Estaremos mais bem preparados, como é óbvio. O Sp. Braga joga sempre da mesma forma, com dinâmicas que depois se podem alterar em função do que se prepara para cada jogo, Temos bons jogadores para jogar entre linhas, como o Ricardo Horta, o Iuri [Medeiros] ou até o próprio Abel Ruiz. É uma questão meramente estratégica para o jogo e vamos escolher um onze para vencer a Taça da Liga que é o que nós desejamos. Interesse do Sporting em Paulinho? Isso já faz parte do anedotário do futebol português, já nem vale a pena ligar a isso. Faz-me lembrar aquela história de um grande jogador que esteve para vir para Portugal e que fez manchete em todos os jornais durante quase 45 dias e depois não veio…”, disse Carlos Carvalhal no lançamento do encontro, recordando a novela com Cavani.

Na conferência após a vitória na meia-final, o técnico tinha sido afirmativo em relação às possibilidades da equipa minhota na Taça da Liga a par de FC Porto, Sporting e Benfica, dizendo que uma fase final que juntasse os quatro teria de ser sempre avaliada no plano teórico como 50/50. Ou seja, o Sp. Braga partia com tantas hipóteses como os outros. E esse foi o upgrade introduzido por Carvalhal na equipa: com um plantel reduzido a pouco mais de 20 elementos para quatro competições (e está presente em todas ainda), o treinador colocou sempre a fasquia ao nível dos outros para ir consolidando a posição dos bracarenses entre os principais clubes nacionais, tendo em paralelo um futebol atrativo que já diferente em termos táticos de 3x4x3 mas capaz de potenciar com uma linha de quatro ajudada por Al Musrati e Castro jogadores como Ricardo Horta, Galeno ou… Paulinho.

O avançado não foi titular, saiu do banco para ter a melhor oportunidade do Sp. Braga do jogo com uma bola na trave e não fez a diferença num encontro que terminou com a vitória do Sporting. Que foi mais eficaz, que foi na globalidade mais consistente, que foi a equipa que consentiu apenas o primeiro remate enquadrado quase a 20 minutos do final. O Sporting foi, sobretudo e mais uma vez, uma equipa à imagem do espanhol Pedro Porro. Aliás, o jogador do Manchester City representa muito da evolução dos leões: o lateral que se apresentou de forma muito descontraída na Academia, de ténis e calções rasgados num pico de verão, tornou-se um indiscutível, é o elemento que mais rende na posição específica que ocupa no esquema de Rúben Amorim e foi ganhando a imagem de marca da veia saliente no pescoço e punho fechado festejando cortes, assistências, golos ou vitórias como se fosse uma final da Champions. Mais do que táticas e jogadores, foi essa atitude que valeu mais uma Taça da Liga.

Ficha de jogo

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Sporting-Sp. Braga, 1-0

Final da Taça da Liga

Estádio Magalhães Pessoa, em Leiria

Árbitro: Tiago Martins (AF Lisboa)

Sporting: Adán; Gonçalo Inácio (Neto, 89′), Coates, Feddal; Pedro Porro, João Palhinha, João Mário (Matheus Nunes, 68′), Nuno Mendes; Pedro Gonçalves, Jovane Cabral (Nuno Santos, 46′) e Tiago Tomás (Sporar, 58′)

Suplentes não utilizados: Luís Maximiano, Borja, Antunes, Daniel Bragança e Gonzalo Plata

Treinador: Rúben Amorim

Sp. Braga: Matheus; Ricardo Esgaio, Tormena, David Carmo, Sequeira; Al Musrati, Castro (Iuri Medeiros, 62′); Ricardo Horta, Fransérgio (João Novais, 73′), Galeno e Abel Ruíz (Paulinho, 46′)

Suplentes não utilizados: Tiago Sá, Raul Silva, Bruno Viana, André Horta, Lucas Piazón e Schettine

Treinador: Carlos Carvalhal

Golo: Pedro Porro (41′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Jovane Cabral (24′), Sequeira (32′), Nuno Mendes (76′), Pedro Porro (81′), Matheus Nunes (87′), Al Musrati (90+4′), Pedro Gonçalves (90+5′ e 90+6′) e Neto (90+6′); cartão vermelho a Rúben Amorim (34′), Carlos Carvalhal (34′) e Pedro Gonçalves (90+6′)

Jogar com o terreno com poças e bola sempre a travar é complicado. E jogar com o terreno mais rápido e bola sempre a ganhar velocidade também é tudo menos fácil, embora seja algo mais frequente ou não aproveitassem as equipas para dar aquela última rega uns minutos antes do início dos jogos. Em Leiria, havia zonas onde travava e zonas onde ganhava velocidade. Se o tempo não ajudava, o relvado ainda menos. Os primeiros 20 minutos que teve apenas balizas para dar referências aos espectadores Adán e Matheus resumiu-se a um encontro do podia-ser-mas-não-foi. O Sporting era prejudicado nas variações rápidas de corredor e na procura da profundidade com Tiago Tomás (cedo João Mário e Palhinha “abdicaram” de mais do que dois toques na construção), o Sp. Braga nas transições ofensivas e nas combinações nas laterais. Emoção? Mais na tentativa de tentar adivinhar o que iria acontecer e não nas oportunidades. E Abel Ruíz foi um dos mais prejudicados com essa inevitabilidade.

A “solução João Mário”, que logo no terceiro minuto arriscou o remate de fora da área muito por cima, poderia ser uma possibilidade. Os lances de estratégia, como o canto que os minhotos tiveram aos 25′ após um desvio de Adán por cima na trave por mera questão de segurança após cruzamento de Ricardo Esgaio, eram uma probabilidade. No entanto, mais do que pensar num reforço do meio-campo ou na importância de subir linhas na procura da segunda bola, os bancos foram mostrando atenção às faltas que iam sendo cometidas e aos erros de Tiago Martins, a dar amarelos que nem falta eram, a poupar cartões e a começar a ser um protagonista que quis escrever um capítulo de ator principal ao dar ordem de expulsão aos dois treinadores que iam trocando umas “bocas” entre uma falta de Sequeira sobre Tiago Tomás sem admoestação e uma possível expulsão por acumulação de Jovane Cabral.

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Sporting-Sp. Braga em vídeo]

As coisas encaminhavam-se para chegar ao intervalo com um nulo, até por forma a estabilizar duas equipas com os nervos cada vez mais à flor da pele depois de um toque de Fransérgio com o braço que abriu o sobrolho de Tiago Tomás e um pontapé involuntário de Al Musrati sobre Palhinha. E seria no seguimento dessa falta que nasceria o único golo nos 45 minutos iniciais: Gonçalo Inácio procurou o pontapé longo à procura do espaço entre Sequeira e Galeno quando o lateral fechava mais por dentro, Pedro Porro fez a diagonal para receber de forma orientada e rematou cruzado na área sem hipóteses para Matheus (41′). O Sporting estava em vantagem e até podia ter feito mais um golo no segundo e último remate enquadrado da primeira parte no seguimento de um grande lance individual de Pedro Gonçalves que foi apenas travado pelo guarda-redes dos bracarenses (45′).

No descanso, os dois treinadores mexeram de forma previsível perante aquilo que tinha acontecido antes: no Sp. Braga, Paulinho entrou para o lugar de Abel Ruíz, que tinha sido uma sombra entre Coates e Feddal; no Sporting, Nuno Santos substituiu um Jovane Cabral já com cartão amarelo e sem a inspiração da meia-final com o FC Porto. E também no plano estratégico houve nuances, com a tentativa dos minhotos em explorar cada vez mais o jogo pelos corredores laterais tendo uma referência mais fixa na área e colocando Ricardo Horta mais vezes na chegada e uma ideia mais assente em transições do conjunto leonino. O médio ofensivo ainda teve um remate mas perigo junto das balizas continua a ser um bem raro e o Sp. Braga arriscou com Iuri Medeiros em vez de Castro.

O encontro, que entretanto tinha também Matheus Nunes em vez de João Mário, estava finalmente aberto. Pedro Gonçalves obrigou Matheus a intervenção complicada a desviar a bola por cima da trave, Iuri Medeiros rematou após diagonal de pé esquerdo para defesa de Adán, Paulinho foi lançado nas costas de Gonçalo Inácio (numa posição que seria reavaliada pelo VAR) e acertou na trave – tudo em cinco minutos e na antecâmara de um crescimento gradual dos bracarenses que dava também mais espaço nas costas da defesa contrária, aproveitado pelo Sporting para quase “fechar” o jogo com um desvio de Sporar na área para nova intervenção do número 1 dos minhotos antes de um golo invalidado a Ricardo Esgaio por posição irregular e um final de ânimos de novo mais quentes após uma falta sem bola de Matheus Nunes sobre João Novais junto do banco bracarense, que viria a culminar no sexto minuto de descontos com dois amarelos quase seguidos a Pedro Gonçalves.

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