(Título curto da notícia clarificado para notar que a referência de Francisco Ramos foi a quem considera “imoral” que se dê uma segunda dose a quem tomou a primeira sem estar na lista dos prioritários.)

Francisco Ramos, coordenador da task force da vacinação, diz que as pessoas que receberam a primeira dose indevidamente vão, “claro que sim”, receber a segunda dose no momento devido. Qualquer outra coisa seria uma “justiça popular que faria pouco sentido”, disse o responsável, que repetiu que não cabe à estrutura que lidera perseguir os “batoteiros” e que devem ser outras entidades a tomar medidas, além da “censura popular” onde os jornais também desempenham um papel. Mas colocar em causa a segunda toma seria um “espírito vingativo” que Francisco Ramos apenas associa “àqueles 11% ou 12%” que votaram na candidatura de André Ventura nas eleições presidenciais do último domingo.

Vacinas que sobram. O que falha no controlo em Portugal e os exemplos de outros países

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Em entrevista à SIC Notícias, Francisco Ramos sublinhou que “não cabe a esta estrutura infligir castigos nessa matéria – essa pergunta explica um pouco aqueles 11% ou 12% nas eleições presidenciais do passado domingo, um espírito vingativo que não me parece que seja muito bom para uma sociedade solidária como a nossa”. Na visão de Francisco Ramos, só essas pessoas – eleitores de André Ventura – é que considerarão “imoral” que se dê a segunda dose em que levou a primeira (sem que devesse ter levado) – “acho que os outros espero que tenham um sentimento de solidariedade prevalente sobre um sentimento de justiça popular que faz muito pouco sentido”.

Como já tinha feito, Francisco Ramos considerou “lamentáveis” as situações em que não são respeitadas as regras do plano de vacinação (com vacinas dadas a pessoas não-prioritárias) – mas “este é um sistema que está montado para vacinar as pessoas, não para procurar os batoteiros”. “Aquilo que foi feito esta semana foi solicitar à Inspeção-Geral das Atividades em Saúde que fizesse auditorias sobre o cumprimento destes critérios”, revelou.

O coordenador do plano de vacinação contra a Covid-19 explicou o que deve ser feito nas situações de “sobras”, que podem existir porque cada frasco contém um número de doses (6 numa e 10 noutra).

Vamos imaginar um lar com 94 pessoas para vacinar portanto é muito difícil – ou vai uma dose a mais ou quatro a menos. A orientação é clara: se faltarem doses de vacina em lares devem ser vacinados todos os residentes e alguns profissionais que não seja possível vacinar devem deslocar-se à unidade de saúde. Se sobrarem doses devem ser encontradas pessoas que estejam integradas na fase 1 de prioridade da vacinação”.

“Em regra estaremos sempre a falar de poucas doses mas já tivemos uma situação em que eram muitas doses, no caso do acidente com a carrinha de transporte”, indicou Francisco Ramos, salientando que mesmo nessa situação foram “muito poucas” as doses que tiveram de deitar-se fora.

O coordenador da task force da vacinação diz que não teve conhecimento do caso do INEM no Porto e garantiu: “eu não procuro ter conhecimento dessas situações e devo dizer que não parece que seja competência da task force andar à procura de quem faz batota – deve-se montar o instrumento de prevenção dessa batota mas, a partir daí, outras entidades terão de atuar e sobretudo garantir a censura pública em que os meios de comunicação social também têm um papel”.

2424. Este é o número que irá enviar SMS relacionados com vacinação

Francisco Ramos revelou, também, na SIC Notícias, que é o número 2424 aquele que irá enviar mensagens escritas por telemóvel relacionadas com o processo de vacinação. A partir da próxima semana será comunicado que esse é o único número “fiável, fidedigno” para receber contactos quanto à vacinação. “Qualquer mensagem com outra origem não é uma mensagem fiável”, disse Francisco Ramos.

Quanto à decisão de não alargar o tempo entre a primeira e a segunda dose (para dar a primeira dose a mais pessoas) resultou de uma “discussão técnica” que não quis que tomasse uma “decisão isolada em Portugal” sobre essa matéria. Recorde-se que a Direção Geral da Saúde recomendou alargar o prazo de toma entre a primeira e a segunda dose da vacina, mas o grupo de trabalho nomeado pelo Governo não aceitou.

Houve uma “otimização da gestão de stocks“, isto é, nas primeiras duas semanas do processo guardava-se sempre as doses equivalentes a três semanas – quem foi vacinado na primeira semana (última semana de dezembro) imediatamente foi armazenada uma dose. A partir de meados de janeiro, passou a haver uma semana de stock, confiando que as farmacêuticas vão manter ou até acelerar a entrega de doses.

Francisco Ramos explica que essa decisão permitiu “antecipar a vacinação dos residentes em lares, que estava prevista terminar (a primeira toma) em meados de fevereiro e já terminou esta semana” – a exceção aqui, além dos locais onde há surtos, são alguns “lares ilegais” do Alentejo que “ainda não foi possível estabelecer contacto com esses lares” (foi pedida a colaboração da Segurança Social e da Proteção Civil para estabelecer contacto com os responsáveis).

Cerca de 30 mil pessoas em lares ainda não terão sido vacinadas, nem sequer com a primeira dose, indicou Francisco Ramos, acrescentando que “cerca de 113 mil doses da vacina” da AstraZeneca vão chegar a Portugal no dia 9 de fevereiro.