No último dia do mercado de verão, Paulinho tinha deixado de ser opção para o Sporting. Não que o jogador tivesse deixado de interessar para os leões mas porque, na véspera, ambas as partes tinham percebido de madrugada que não era possível chegar a um acordo em tempo útil – até porque poderia envolver outros jogadores. E não existiam planos B? Sim, existiam. Um pelo menos que poderia obrigar a um maior esforço financeiro mas que poderia ser uma realidade. Todavia, Rúben Amorim foi muito claro em relação à abordagem ao mercado, neste caso olhando apenas para o reforço do ataque: se Paulinho não viesse, preferia ficar com Sporar e Tiago Tomás. Assim foi. Pelo menos até à reabertura de mercado. E a realidade mudou, mais uma vez nos últimos dias antes do fecho.
Apesar de ser uma possibilidade falada há vários dias, as conversas concretas entre representantes dos dois clubes (que não os presidentes Frederico Varandas e António Salvador, que foram apenas acompanhando à distância os avanços e recuos nas negociações) tiveram apenas início depois da Taça da Liga, acelerando a seguir ao encontro dos minhotos nos quartos da Taça de Portugal com o Santa Clara. Ou seja, cinco dias, com duas madrugadas de seguida a tentar desbloquear todos os pormenores. E alguns nomes em cima da mesa, neste caso com Rafael Camacho e Ristovski a não serem considerados como no verão, com Rodrigo Fernandes a ser riscado pela equipa arsenalista e com Sporar a ter mesmo de subir às negociações além do defesa colombiano Borja, depois de ter recusado por mais de uma vez a possibilidade de rumar ao Minho, algo que mudou nos últimos dias.
Na madrugada de domingo para segunda-feira, as principais bases do acordo ficaram definidas mas, pouco depois da hora de almoço, Paulinho começava uma longa espera até ao final da tarde numa unidade hoteleira em Lisboa com o agente Pedro Mendes (antigo jogador de V. Guimarães, FC Porto e… Sporting) até saber que, finalmente, havia acordo entre todas as partes. No entanto, e durante o dia, o negócio chegou a ficar num impasse.
O acordo entre Sporting e Paulinho estava feito, com o avançado a subir de forma substancial o vencimento para um milhão de euros líquidos (dois milhões brutos de encargos para os leões) num contrato de quatro anos e meio. Mais: num ponto que também foi importante, o internacional manifestou a vontade de rumar a Alvalade, o que foi um fator de relevo no processo. Depois, o valor de 16 milhões de euros por 70% do passe (começou nos 12, passou depois para 15 contando com os três de Borja), uma percentagem que os leões não contestaram até por entenderem que a amortização do investimento em Paulinho será mais desportiva do que financeira, pela idade do jogador e pelo projeto que existe em Alvalade para si, sabendo que Borja sairia por três milhões, havendo antes um acordo entre lisboetas e colombiano e o pagamento do mecanismo de solidariedade a ser dos arsenalistas.
Os outros pormenores que constariam no acordo final começavam também a ser desbravados, nomeadamente o pagamento do mecanismo de solidariedade a ficar do lado dos leões e os bracarenses a garantirem uma cláusula que obriga o Sporting a pagar 7,5 milhões pelos 30% do passe remanescente caso recuse uma proposta igual a superior a 25 milhões de euros. O que ficava então a faltar? Apesar de se ter falado nos bastidores (mais uma vez) da questão das garantias, foi a cedência do Sporar que prendeu as negociações, com os leões a quererem que os minhotos pagassem parte do salário do esloveno e os arsenalistas a pretenderem deixar todos os encargos com o clube verde e branco tendo ainda algum tipo de garantia. No final, assim ficou: não só o Sporting continua a pagar 100% do ordenado de Sporar como o Sp. Braga garantiu uma opção de compra de 7,5 milhões de euros ou “um direito de vitrine mínimo de 10%, que poderá chegar a 15% conforme o valor de uma futura transferência na janela do próximo mercado”, como ficou explicado no comunicado emitido ao início da madrugada.
Desta forma, Paulinho passa para o primeiro lugar das maiores transferências de sempre dos leões, superando o holandês Bas Dost que custou, em 2016, dez milhões de euros fixos mais dois em variáveis (que foram quase na totalidade cumpridos). Acuña, Bruno Fernandes e Elias fecham o top 5, analisando apenas o dinheiro envolvido na transferência e não a cedência de jogadores, o que colocaria Mário Jardel também nesta lista. No entanto, e apesar do valor, Rúben Amorim não demorou a desmistificar o recorde, apontando a mira aos rivais.
“Se me sinto obrigado a ser campeão com o Paulinho? Não, não sinto. Mas percebo a ideia. Outros clubes gastaram num [jogador] o que gastámos em todos, portanto não nos dá obrigação de nada. Somos a equipa que joga com mais juniores, creio. Percebo onde querem chegar e meter pressão, pois estamos bem, mas há clubes em Portugal que contratam por estes valores há vários anos, o Sporting não. Não nos obriga a nada. Não é pressão para o Paulinho nem para o grupo”, destacou após o dérbi, entre elogios às características do avançado.
“O Paulinho é um avançado diferente do que aquele que tínhamos porque o Sporar já não está connosco. Nós, tendo este projeto e sabendo que é uma posição onde joga só um, também só com o Campeonato, temos o TT [Tiago Tomás] e o Paulinho com características diferentes. Para mim, é o melhor 9 do país. O avançado indicado para a nossa ideia. Ele tem um caráter muito grande e essas coisas valem muito dinheiro. Tem uma ambição muito grande, mas sabe que, custe o que custar, se não correr não joga. Ele não precisa de adaptação à nossa ideia, tem o mesmo caráter que a nossa equipa tem. É um jogador à imagem do Sporting e do nosso grupo”, destacou em relação ao internacional que se tornou a transferência mais cara de sempre dos leões.