A Rússia acusou esta terça-feira as capitais ocidentais de estarem “desligadas da realidade”, após os apelos internacionais para a libertação do opositor Alexei Navalny, condenado pela justiça russa a dois anos e meio de prisão.

“Não há nenhuma razão para se imiscuírem nos assuntos de um Estado soberano. Recomendamos que cada um se ocupe dos seus próprios problemas”, afirmou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Maria Zakharova, numa entrevista à rádio RBK, citada pelas agências noticiosas russas.

Os Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e França foram os primeiros países ocidentais a reagir à confirmação de uma pena de prisão para o opositor russo Alexei Navalny, e exigiram em uníssono a sua “libertação imediata”.

Em Washington, a diplomacia dos Estados Unidos manifestou “profunda preocupação” após a condenação de Navalny e apelou à Rússia que garanta a sua libertação “imediata e sem condições”.

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“Apesar de trabalharmos com a Rússia na defesa dos interesses dos Estados Unidos, vamos coordenar-nos estreitamente com os nossos aliados e parceiros para que a Rússia preste contas por não ter respeitado os direitos dos seus cidadãos”, defendeu em comunicado o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken.

Opositor russo Alexei Navalny é condenado a dois anos e seis meses de prisão

“À semelhança de qualquer cidadão russo, Navalny deve usufruir os direitos garantidos pela Constituição russa”, disse. “Reiteramos o nosso apelo ao Governo russo para que liberte imediatamente e sem condições Navalny e ainda as centenas de outros cidadãos russos injustamente detidos nas últimas semanas por terem simplesmente exercido os seus direitos, nomeadamente o direito à liberdade de expressão e de reunião pacífica”, acrescentou.

Um tribunal de Moscovo ordenou terça-feira a prisão do opositor por mais de dois anos, anulando a pena suspensa de uma precedente condenação, uma decisão de um apelo aos seus apoiantes para voltarem às ruas em sinal de protesto.

A juíza Natalia Repnikova indicou que o crítico do Kremlin deverá cumprir os três meses e meio de prisão da sua pena pronunciada em 2014, menos os meses que passou em prisão domiciliária. O opositor pode apelar da sentença.

Mais de cinco mil detenções em protestos contra a prisão de Navalny

Em Londres, o Governo britânico também apelou à “libertação imediata e sem condições” e denunciou uma decisão “perversa” da justiça russa. “O Reino Unido apela à libertação imediata e sem condições de Alexei Navalny e de todos os manifestantes pacíficos e jornalistas detidos nas duas últimas semanas”, declarou em comunicado o chefe da diplomacia Dominic Raab, ao considerar que a decisão “perversa” da justiça russa demonstra que o país não preenche “os compromissos mais elementares aguardados por qualquer membro responsável da comunidade internacional”.

Em Berlim, Heiko Maas, ministro dos Negócios Estrangeiros do executivo da chanceler Angela Merkel, também se pronunciou pela “libertação imediata” do opositor e definiu a pena infligida como um “golpe severo” contra o Estado de direito na Rússia.

“O veredicto desta terça-feira contra Alexei Navalny é um golpe severo contra as liberdades fundamentais e o Estado de direito na Rússia”, declarou Mass na rede social Twitter. “Navalny deve ser libertado imediatamente”.

O Governo francês também se associou aos protestos ocidentais e emitiu um comunicado oficial onde considera “inaceitável” a condenação e pede da “libertação imediata” de Navalny.

Ao pronunciar-se sobre a condenação, o Conselho da Europa considerou a decisão “contrária às obrigações internacionais da Rússia em matéria de direitos humanos” e que “desafia toda a credibilidade”.

O julgamento “que ordena a detenção de Alexei Navlany (…) desafia toda a credibilidade e transgride as obrigações da Rússia em termos de direitos humanos”, considerou Dunja Mijatovic, comissária para os direitos humanos da organização pan-europeia.