Ninguém naquela sala ficou com os olhos secos. Foi assim que a gerente de um lar em Bolton, no Reino Unido, descreveu o reencontro entre um casal de idosos que não se via, praticamente, há um ano por causa da pandemia. A equipa responsável pelo lar onde está Stanley Harbour, um homem de 83 anos que sofre de demência, preparou uma mesa com espumante e pétalas de rosa para o momento que captou em vídeo. E ninguém ficou indiferente à reação de Stanley quando recebeu a mulher Mavis, de 81 anos, que o tinha visitado pela última vez em fevereiro de 2020, antes de as visitas ao lar serem interditadas por causa da Covid-19.
O vídeo é notícia no The Guardian numa altura em que um comité parlamentar para os direitos humanos pede aos ministros britânicos que legislem contra a proibição de visitas nos lares — por haver cada vez mais idosos a morrerem sozinhos e sós. O parlamentar Harriet Harman pediu mesmo ao secretário de estado da Saúde para permitir as visitas pessoais, a menos que haja alguma condicionante concreta que dite que não é seguro.
Há cada vez mais familiares a reclamarem que os seus idosos estão a morrer na solidão e propõem que seja designado um familiar, que seja regularmente testado, porque este representa um perigo idêntico ao de um qualquer funcionário do lar. No Reino Unido já morreram 36 mil idosos com Covid-19 que viviam em lares ou em residências.
Stanley Harbour, de 83 anos, esteve quase um ano sem poder receber a visita da mulher com quem casou nos anos 60. “Não queria acreditar quando vi a Mavis”, disse, segundo o Manchester Evening News. Mavis beijou e abraçou o marido antes de sentarem à mesa de mãos dadas.
Apesar de quase todos os idosos residentes em lares do Reino Unido já terem sido testados, ainda há muitos lares que mantêm as restrições nos acessos. Na carta enviada ao secretário de estado da Saúde, o deputado Harman pediu-lhe mesmo que olhasse para outros países como o Canadá para tomar medidas. Em Ontario, por exemplo, a lei foi mudada para permitir o acesso de um familiar nomeado para a visita com a condição de apresentar um teste negativo a cada visita.