A vida não está fácil para José Mourinho. Apesar de apurado para a final da Taça da Liga e ainda em competição na Liga Europa, o Tottenham está em clara queda livre na Premier League, já fora do top four da classificação, e esta semana ficou também sem o objetivo da Taça de Inglaterra. Depois de uma autêntica epopeia contra o Everton, com nove golos e com a vitória final dos toffees de André Gomes, os spurs foram eliminados da Taça e a imprensa apressou-se a recordar uma frase antiga do treinador português.
“5-4 é hóquei, não é futebol. Se vir isto num treino, num jogo de três para três, mando os jogadores para o balneário porque não estão a defender bem. Assim, 11 contra 11, isto é uma desgraça”, disse Mourinho em 2004, ainda enquanto treinador do Chelsea, como comentário a um jogo entre o Arsenal e, curiosamente, o Tottenham. 17 anos depois, a história inverteu-se e foi o português a estar envolvido numa espécie de partida de hóquei. “Gostei… E não gostei. Criámos, tivemos bons movimentos, oportunidades e marcámos. Mostrámos caráter mas o futebol atacante só vence se não fizeres mais erros do que os que crias. Foi o rato e o gato. O rato foram os nossos erros e o gato foi como os compensámos”, explicou Mourinho depois da partida, assumindo que a equipa cometeu vários erros defensivos.
Ora, erros defensivos que, no início da temporada, também era frequentes no Manchester City — o duro adversário que o Tottenham tinha pela frente este sábado, no Etihad. Na equipa de Guardiola, porém, os erros foram desaparecendo e sendo corrigidos com o avançar do calendário e a verdade é que, quase a meio de fevereiro, a Premier League voltou a ter um City que recorda os melhores períodos dos anos em o clube foi campeão inglês. Em declarações à SportTV, Mourinho explicou a diferença entre o Tottenham e City: ou seja, porque é o primeiro continua a cometer erros na defesa e como é que o segundo resolveu o problema.
“O City resolveu esse problema facilmente… E já não digo mais nada… Sabem como eles resolveram o problema deles? Resolveram quando foram aí a Lisboa”, disse o treinador português, atribuindo à contratação de Rúben Dias a grande responsabilidade pela eficácia defensiva da equipa de Guardiola. “O Rúben tem uma influência incrível nessa melhoria. Estou muito contente por um rapaz muito bom, muito humilde, muito trabalhador, ter chegado à Premier League e ter causado o impacto que causou. Estou muito, muito satisfeito com isso”, acrescentou sobre o jovem internacional português.
???? Two managerial ???????????????????????? do battle ⚪️
Who will come out on top?#MCITOT pic.twitter.com/3dSq7QvYkN
— Premier League (@premierleague) February 13, 2021
Rúben, curiosamente, não era titular este sábado. O central de 23 anos falhou o último jogo do City, contra o Swansea e para a Taça de Inglaterra, depois de ter tido alguma febre; recuperou e integrou a convocatória mas era poupado por Guardiola, com Laporte a assumir o lugar vago ao lado de John Stones no centro da defesa. Bernardo Silva e João Cancelo eram titulares, assim como Rodri e Gündoğan, e Sterling e Foden estavam no apoio direto a Gabriel Jesus. No banco, para além de Rúben Dias e Mahrez, já estava Sergio Agüero, que já treinou durante a semana depois da lesão que sofreu. Do outro lado, Mourinho apostava naturalmente em Kane, Son, Moura e Lamela, deixando Bergwijn fora do onze. A maior surpresa no Tottenham acabava por aparecer no eixo defensivo, onde a dupla de centrais era formada por Eric Dier e Sánchez e Alderweireld era suplente.
Contra o Tottenham e depois da derrota do Liverpool contra o Leicester, o Manchester City sabia que podia alargar para 13 a distância para os atuais campeões ingleses, para além de segurava novamente a liderança da classificação. Já o Tottenham, contra o Manchester City, sabia que precisava de todos os pontos possíveis para voltar aos lugares cimeiros da tabela e à luta pelas competições europeias. Numa primeira parte muito desgastante para os spurs, que jogaram sempre muito recuados e na exploração do erro do adversário e assistiram ao controlo da posse de bola por parte do City, a diferença fez-se através de uma grande penalidade. Højbjerg fez falta sobre Gundogan e Rodri, na conversão, abriu o marcador (23′). O momento do penálti, porém, ficou marcado por um episódio caricato.
Confrontado com os vários penáltis desperdiçados pelo City — o último a falhar foi Gündoğan, contra o Liverpool –, Guardiola foi esta semana recordado que já tinha dito que Ederson, o guarda-redes, era o melhor marcador de grandes penalidades do plantel. “No ano passado, quando disse isto, foi uma piada. Agora é metade piada, metade a sério. É algo que teremos de considerar porque não temos um especialista como o Salah, por exemplo. É um problema que temos, nos momentos cruciais não podemos falhar, independentemente de quem seja o marcador”, disse o treinador espanhol, confrontado com a estatística que indicava que, até à partida deste sábado, os citizens só tinham marcado três dos seis penáltis de que beneficiaram. Ora, contra o Tottenham, Rodri assumiu a responsabilidade; mas Ederson, confiante, andou até ao meio-campo para tentar perceber se seria chamado. Nesta altura, Bernardo Silva foi um autêntico diplomata: correu até Ederson para, provavelmente, dizer ao companheiro que seria Rodri a marcar e depois correu até Rodri, provavelmente para lhe dizer que estava decidido que seria ele. No fim da história, Rodri marcou, apanhou um susto porque Lloris ainda tocou na bola mas acabou por conseguir fazer golo.
O Tottenham foi a perder para o intervalo e Mourinho mexeu logo no arranque da segunda parte, ao trocar Moura por Sissoko. Aos cinco minutos do segundo tempo, porém, o Manchester City mostrou que tinha entrado em campo para dar uma autêntica demonstração de poder: num lance em que trocou a bola durante muitos segundos no interior da grande área adversário, a equipa de Guardiola acabou por chegar ao segundo golo por intermédio de Gündoğan, que voltou a marcar e voltou a mostrar que está num momento extraordinário de forma (50′). Mourinho reagiu um quarto de hora depois ao lançar Dele Alli, que voltou à competição no jogo da Taça contra o Everton, mas o herói da partida já estava escolhido.
A 25 minutos do fim, Ederson aproveitou um pontapé de baliza para tirar um passe extraordinário que atravessou quase todo o relvado. Gündoğan, sempre ele, apareceu à entrada da grande área, dominou de forma perfeita, desenvencilhou-se de Sánchez e atirou para voltar a bater Lloris (66′). O médio alemão engrossou o estatuto de melhor marcador do City, sentenciou a partida e saiu logo de seguida, aparentemente a sentir algum desconforto muscular. Até ao fim, Mourinho ainda lançou Gareth Bale, Guardiola ainda lançou Mahrez mas já nada mudou.
O Manchester City chegou às 16 vitórias consecutivas para todas as competições — mesmo sem Agüero, De Bruyne e, neste jogo, Rúben Dias –, está já com 13 pontos de distância para o grande rival Liverpool e tem provisoriamente mais oito pontos do que o Manchester United e está a dar passos largos para a reconquista da Premier League numa altura em que atravessa uma fase extraordinária. Já o Tottenham sofreu a quinta derrota em seis jogos e está cada vez mais enterrado na cauda do top 10 da classificação e longe do apuramento europeu, podendo terminar esta jornada em igualdade pontual com o Leeds no 10.º lugar.