O desporto, tal como tudo na vida, tem ciclos. Ciclos que parecem alinhar-se naturalmente, entre cada modalidade, e que começam e terminam quase em simultâneo. Nesta altura, vivemos o fim de um ciclo — da mesma maneira que já estamos a abrir outro. E o fim de um ciclo obriga a dizer adeus aos nomes de quem, durante cerca de 20 anos, nos habituámos dizer que eram os melhores do seu tempo.

Nadal e Federer estão a chegar ao final das respetivas carreiras no ténis. Ronaldo e Messi também estão na reta final dos respetivos percursos no futebol. LeBron James no basquetebol, Tom Brady no futebol americano, Chris Froome no ciclismo e até Lewis Hamilton na Fórmula 1: os melhores da atualidade, que em muitos casos são também considerados os melhores de sempre, estão perto de deixar para trás as modalidades que os tornaram autênticos ícones. E Serena Williams, que encaixa perfeitamente neste grupo, parece ser a que está mais perto de fechar o ciclo.

Open da Austrália: Osaka garante lugar na final após vitória sobre Serena

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Na madrugada desta quinta-feira, Serena Williams perdeu com Naomi Osaka em dois sets (6-3 e 6-4) e deixou o Open da Austrália nas meias-finais, falhando a partida decisiva que será disputada por Osaka e Jennifer Brady. Foi a primeira vez em 18 anos que Williams perdeu uma meia-final na Austrália. Foi também a primeira derrota de Williams contra uma adversária do top 5 num Grand Slam de piso duro desde 2008. Quando a partida acabou, depois de cumprimentar Osaka, despediu-se das bancadas com um braço levantado e uma mão no peito. Uma despedida que parecia sentida, especial — e que levou a perguntas naturais na conferência de imprensa.

A pergunta foi simples: aquela despedida foi simplesmente a despedida do Open da Austrália por este ano ou foi a despedida do Open da Austrália para sempre? A resposta de Serena Williams, embora curta, conseguiu ser enigmática e conclusiva ao mesmo tempo. “Não sei. Se alguma vez me despedir, não vou dizer a ninguém. Não sei. Já acabei”, disse a tenista de 39 anos, que deixou a sala de imprensa sem conseguir esconder as lágrimas.

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Com a derrota frente a Naomi Osaka, Williams voltou a falhar o objetivo que a tem guiado desde que voltou a licença de maternidade, em 2018: chegar ao 24.º Grand Slam e igualar o recorde de Margaret Court, conquistado ainda antes de o circuito se tornar inteiramente profissional. Desde que voltou à competição, a norte-americana chegou a quatro finais mas não conseguiu vencer nenhuma, perdendo sempre a oportunidade de se tornar também a tenista mais titulada da história. No Instagram, já depois da partida e da conferência de imprensa, Serena Williams deixou algumas palavras “a Melbourne e aos fãs australianos”.

“Hoje não foi o resultado ideal ou a performance ideal mas acontece… Sinto-me tão honrada por ter a possibilidade de jogar à vossa frente. O vosso apoio, os vossos festejos, só desejava poder ter feito melhor por vocês hoje. Fico em dívida para sempre e grata por cada um de vocês. Adoro-vos”, escreveu, deixando novamente mais uma pista com a expressão fico em dívida para sempre. Já Naomi Osaka, que vai então disputar a final do Open da Austrália e tentar chegar ao terceiro Grand Slam da carreira, não escondeu a admiração por Williams depois da partida. “Quero que ela jogue para sempre. Isto é a criança dentro de mim a falar. Sempre que jogo contra ela, sinto que é algo que vou recordar muitas vezes”, disse a japonesa.

Serena Williams tem 39 anos, 23 Grand Slams e aproxima-se cada vez mais do fim do seu ciclo — que será substituído pelos ciclos já iniciados de Naomi Osaka, Ash Barty ou Sofia Kenin. A ideia que fica é a de que a norte-americana pode deixar a competição no final da temporada, depois de ainda tentar igualar o recorde de Margaret Court em Wimbledon, Roland Garros e no US Open. E, nesse dia, o ciclo de Williams transforma-se em legado.