A portuguesa Veniam espera ter 200 mil carros conectados com a sua tecnologia nos próximos 12 meses, altura em que estima o início de automóveis com o seu “software” incluído já de fábrica, disse à Lusa o presidente executivo.
Esperamos ter 200 mil veículos ligados com a nossa tecnologia nos próximos 12 meses, sobretudo de frotas comerciais, começando também os veículos que saem de fábrica com o nosso ‘software'”, afirmou João Barros, prevendo um “forte crescimento” da “startup” portuguesa, que cumpre nove anos em março.
“Esse é o objetivo e estamos já com as parcerias certas”, disse, sem adiantar mais detalhes.
A Veniam é uma “startup” portuguesa de base tecnológica que resultou do “spin-off” da Universidade do Porto, da Universidade de Aveiro e do Instituto de Telecomunicações.
A tecnológica tem atualmente cerca de 40 pessoas, engenheiros, e uma equipa comercial na Alemanha, no Japão e nos Estados Unidos, disse o presidente executivo da Veniam, que irá falar sobre a sua plataforma de rede inteligente no FISTA – Fórum de tecnologia e arquitetura do ISCTE, onde mais de 60 empresas vão apresentar os seus produtos em várias áreas, que decorre “online” entre 24 e 25 de fevereiro.
“Desenvolvemos uma plataforma de ‘software’ única que permite a automóveis, camiões, autocarros e todo o tipo de objetos em movimento ligarem-se uns aos outros e à Internet”, explicou João Barros, que sublinhou que a “‘startup’ ficou conhecida por criar a maior rede em malha de veículos no mundo no Porto, na altura com os autocarros da STCP, que ainda hoje fornecem ‘wifi’ grátis a centenas de milhares de passageiros”.
Posteriormente, a Veniam fez “redes semelhantes em Singapura e Nova Iorque”, tendo também veículos autónomos a usar a sua tecnologia.
A Veniam “vende a sua plataforma de ‘software’ para todo este tipo de dispositivos, incluindo câmaras que são colocadas em veículos e outro tipo objetos que estão a recolher dados e que precisam de se ligar à Internet”, prosseguiu o também professor catedrático.
A empresa não revela o valor da faturação, mas em três rondas de financiamento – 2014, 2016 e 2018 – em Silicon Valley e Nova Iorque levantou “aproximadamente 40 milhões de euros”, disse.
Sobre os seus clientes, João Barros salientou que há “várias frotas no mundo” que já utilizam o ‘software’ da tecnológica portuguesa.
“Temos projetos ainda confidenciais com vários fabricantes de automóveis para incluir o nosso ‘software’ diretamente nos veículos a partir de fábrica”, bem como “uma série de empresas que colocam câmaras” desenvolvidas pela ‘startup’ nos veículos para aumentar a segurança rodoviária.
Estas câmaras, explicou, “conseguem detetar se o condutor está a adormecer” ou se está a utilizar o telemóvel enquanto conduz e avisa. Com esta tecnologia, as empresas “conseguem reduzir os acidentes e os custos com os seguros dos automóveis e das frotas”, utilizando inteligência artificial para analisar os vídeos.
Com o “software” da Veniam é possível a todos os dispositivos “tornarem-se eles próprios pontos de acesso à ‘Internet’ para outros dispositivos”, ou seja, “passamos a ter uma rede em malha em que todos” estes objetos “partilham ligações à ‘Internet'”, disse o presidente executivo.
Até à Veniam chegar, a única hipótese que os fabricantes de automóveis tinham era que os veículos se ligassem a um ‘router wifi’ em casa das pessoas”, por exemplo, entretanto a tecnológica “revolucionou essas ligações, permitindo ligarem-se automaticamente a todos os ‘routers wifi’ disponíveis”.
A importância da tecnologia nos veículos explica-se por estes serem muitos e precisarem de transmitir grandes quantidades de dados, desde mapas, passando pelas atualizações de “software”, dados que recolhem sobre a qualidade da infraestrutura e do ambiente em redor.
“Todos esses dados têm de ser transmitidos para a ‘cloud’ [nuvem] para processamento e para todo o tipo de aplicações que melhoram a qualidade de vida das pessoas”, salientou.
Os veículos passam a fazer parte da Internet de uma forma que não era possível até agora, deixam de ser apenas máquinas de transporte, mas pontos de acesso à Internet, com sensores que colecionam dados”, acrescentou, salientando que a Veniam garante “sempre” o anonimato, privacidade e a segurança dos dados.
Sobre a importância do 5G para a plataforma, João Barros disse ser “muito útil porque aumenta a conectividade e a largura de banda disponível”, mas sublinhou que “vai continuar a coexistir o ‘wifi’, o 4G”, ou seja, todo o tipo de redes e de tecnologias diferentes.
“Aquilo que diferencia o ‘software’ da Veniam é precisamente utilizar a inteligência artificial para poder decidir qual é a melhor rede” – seja “wifi”, 4G ou 5G – “dependendo das necessidades das várias aplicações”, acrescentou.
No futuro, defendeu, estas tecnologias “vão ser muito importantes para os novos sistemas de mobilidade”, após a pandemia e quando as pessoas voltarem a utilizar transportes públicos e veículos partilhados.
“Prevemos, uma vez atingida a imunidade de grupo, que seja possível” voltar ao “sistema de mobilidade partilhado, é absolutamente crítico para combater as alterações climáticas, porque precisamos de 10 vezes menos veículos para fornecer o serviço de mobilidade às pessoas”, apontou João Barros.
O futuro da indústria automóvel passa pela inovação e por veículos menos poluentes.
Os estímulos para relançar a economia, tanto europeus como norte-americanos, “vão ser orientados para tecnologias que beneficiem a luta às alterações climáticas”, “a nossa tecnologia ajuda: com mais conectividade e mais dados conseguimos sistemas de mobilidade muito mais sustentáveis”, disse.
“Estou convencido que a indústria vai oferecer veículos mais conectados, com menos emissões de carbono”, o que permitirá avançar para cidades inteligentes mais sustentáveis, acrescentou o responsável.
Se tudo correr como o previsto – regresso da indústria automóvel aos negócios e ao investimento na inovação -, a Veniam espera voltar “a contratar novamente” no final do ano.