Jorge Jesus teve um discurso forte em relação ao atual momento desportivo do Benfica, passando ao lado de todas as notícias que dão conta de uma eventual saída do comando técnico dos encarnados e voltando a reforçar que a equipa acusou em demasia o surto de Covid-19 que afetou quase 30 profissionais. “Esta crise não tem nada a ver comigo, porque eu não treinava os meus jogadores, não tem nada a ver com os jogadores, não tem nada a ver com o presidente e com a estrutura”, reforçou por mais do que uma vez, acrescentando ainda, em resposta ao protesto que está marcado para esta quarta-feira e com tom de maior insatisfação, que o plantel necessita sim de apoio. 

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“Nós, Benfica, durante estas semanas e estes dois meses, fomos alvo de críticas injustas e explico porquê: como treinador do Benfica, serei sempre responsável pelos bons e maus resultados mas quando tiver responsabilidade disso. Então mas eu sou treinador do Benfica e não tenho nada a ver? Não, não tenho. Eu não treinava os jogadores do Benfica, estiveram doentes durante dois meses. O Benfica era segundo em janeiro, a dois pontos do Sporting. Teve 12 atletas de fora com Covid. A equipa técnica teve várias sessões de trabalho que não deu à equipa. Por outro lado, e falo de coisas que é normal vocês não saberem, porque eu é que treinei, os meus jogadores são monitorizados todos os treinos e jogos, controlados, sabemos o rendimento que o jogador e a intensidade do jogador que treina. Está aqui um jogador que teve Covid [Pizzi], façam-lhe a pergunta sobre as dificuldades que teve”, começou por referir, defendendo também os atletas perante as críticas por uma eventual falta de empenho.

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“Vou sempre assumir quando for responsável. Esta crise não tem nada a ver comigo, porque eu não treinava os meus jogadores, não tem nada a ver com os jogadores, não tem nada a ver com o presidente e com a estrutura. Disseram que eles não corriam, não suavam a camisola… Mas como? Se estavam doentes e vieram de uma doença que ninguém consegue controlar? Não foram só os jogadores. Depois do jogo com o FC Porto [n.d.r. a 15 de janeiro] tivemos dez jogadores com Covid, depois foram 26 pessoas ao todo”, reforçou o técnico.

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“O treinador vai sair pelo seu pé? Mas sair o quê? Vim para o Benfica porque acreditei no projeto. Não vou sair pois não me sinto responsável por esta crise do Benfica, nem eu nem os jogadores. Esta crise do Benfica não tem nada a ver comigo pois eu não treinava os jogadores, não tem nada a ver com eles, nem com presidente, nem com estrutura, ninguém consegue controlar esta questão da Covid”, atirou, revelando também que esteve esta terça-feira com o líder dos encarnados, Luís Filipe Vieira, e com Rui Costa, administrador da SAD encarnada.

“Ainda ontem [terça-feira] estive reunido com o presidente e o Rui Costa, a ver como saímos da crise de resultados e como saímos da crise da pandemia. Há muita coisa difícil, o Campeonato está difícil mas não deitamos a toalha ao chão. A imunidade chegou ao grupo do Benfica. Vim para cá porque acreditei no projeto e continuo a acreditar. No último ano só não ganhei o Campeonato do Mundo mas os treinadores nem sempre ganham e não tem nada a ver com falta de qualidade do meu trabalho, dos jogadores ou da estrutura. Falam sempre da estrutura, parece que o Rui Costa não é conhecedor da estrutura, parece que ele não sabe, nem o treinador, nem o presidente. Claro que estou feliz mas não estou totalmente feliz pois vim para ser campeão e poder trabalhar normalmente mas fui impedido por uma pandemia. Portanto, não me sinto feliz. Todos os dias a levar com isto nas televisões e jornais… posso-me sentir feliz? Ninguém vê a verdade?”, questionou.

“Chegou o limite de nos ofenderem. Ainda agora vinha aqui e o Farinha [Nuno Farinha, diretor de comunicação para o futebol] falou-me no buzinão… Buzinão? Devia haver era um buzinão para nos dar carinho, a mim e aos jogadores e ao presidente, isso era o que deviam fazer! Não sabem o que sofremos durante dois meses e meio! Os jogadores do Benfica precisam de carinho, o Benfica devia era estar junto. Claro que tivemos culpa noutras coisas mas chega de me responsabilizarem, o presidente do Benfica a mesma coisa, os jogadores a mesma coisa. O Pizzi foi um dos jogadores que tive de lançar depois da Covid, quando acabou o jogo disse ‘Mister, estou muito diferente, isto ainda nos marca’. Nós sabemos porque nos colocaram nesta crise. As coisas arrastam-se. No dia 2 de fevereiro acabou a Covid no Benfica. A partir dessa data começámos a trabalhar regularmente, a ter o controlo do treino e já tive cinco jogadores que correram acima de dez quilómetros. Não podia acontecer antes, não tinham condições para o fazer”, reforçou com a ajuda dos dados que fazem a monitorização dos jogadores.

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Também Pizzi abordou a questão mas olhando mais para o presente e futuro do que para o passado que já não se pode alterar, deixando também uma mensagem de total união e comunhão entre jogadores e equipa técnica.

“Neste momento, o mundo do futebol preocupa-se tanto com coisas que não são do futebol… Foi uma fase muito difícil para todos, ninguém pode imaginar o que passámos aqui. Amanhã [Quinta-feira] há que passar a eliminatória e tentar dar uma alegria aos adeptos porque eles merecem, nós merecemos. Só quem passa pela Covid-19 é que pode avaliar esta situação. Como estava após regressar? Quando voltei não me sentia o mesmo: tinha dificuldades em recuperar, sentia-me mais cansado… Felizmente já me sinto bem melhor. Todos agora estamos já nas plenas condições”, garantiu o médio, que é também um dos capitães de equipa.

“Se os jogadores continuam a acreditar na equipa técnica? Plenamente. Isso nunca se pôs em questão. O Benfica é um clube enorme e quando as coisas não correm bem tem há uma tendência de se criar batalhas fora daqui, lutas, para ver quem é o culpado, porque o grupo já não está com o treinador e não sei o quê… Tudo mentira! É tudo mentira! Eu, como capitão, posso afirmar que estamos todos juntos, sabemos que não estamos a fazer as coisas como deveríamos, poderíamos e deveríamos estar melhor no Campeonato mas estamos com muita vontade de dar a volta a isto”, concluiu o médio que deve regressar à titularidade no encontro frente ao Arsenal.