A Diretora-geral da Saúde mantém-se cautelosa perante a ideia do pior “já ter passado” e diz que quem pensa que um cenário semelhante ao de janeiro — no número de infetados e internamentos — está completamente afastado para o futuro “está a ver mal a dinâmica deste vírus”. Volvido um ano desde o primeiro caso da Covid-19 confirmado em Portugal, Graça Freitas esteve no programa Grande Entrevista na RTP3 e assumiu que, com o conhecimento atual, haveria coisas que teriam sido diferentes quanto a tomada de medidas.
“Se olharmos agora para trás muitas coisas poderiam ter sido feitas de maneira diferente, sobretudo antecipando algumas consequências da epidemia, mas na altura em que foram tomadas as decisões eram as melhores para aquele momento”, afirma Graça Freitas que se referiu ao mês de janeiro como “uma tragédia”.
Mesmo com a vacinação já em andamento e considerando o número de pessoas que desenvolveu imunidade natural, depois de ter estado infetado com a doença, Graça Freitas mantém-se cautelosa quanto a eliminar totalmente da equação um cenário semelhante ao de janeiro, em número de infetados e internados. Considera Graça Freitas que quem já arredou novas vagas com números elevados da equação da pandemia “não está a ver bem a dinâmica deste vírus”. A Diretora-geral da Saúde frisou que faltam ainda dados nomeadamente no que diz respeito à duração da imunidade e ao comportamento das novas variantes para que se possa antever o futuro da pandemia.
Questionada ainda sobre se já teve dias em que quis deixar o cargo, Graça Freitas diz que não tem dias, “tem momentos” em que pensa deixar o lugar, considerando o cansaço acumulado, mas rapidamente essa ideia se afasta e que fica “uma vontade enorme de continuar a participar e a ajudar” na luta contra a Covid-19.
Regresso às aulas deverá ser acompanhado de testagem a todos os adultos
Graça Freitas anunciou que a estratégia que está a ser “afinada” prevê a testagem a todos os adultos da comunidade educativa no regresso às aulas presenciais. Numa primeira fase, a testagem funcionará “em varrimento”, a todos os adultos, mantendo-se numa segunda fase os testes a alunos, docentes e auxiliares nos concelhos de maior risco (com incidência acumulada a 14 dias acima dos 120 casos) e, numa terceira fase, uma testagem mais direcionada.
Recordando que “testes não são vacinas nem tratamento”, Graça Freitas aponta que o aumento da testagem tem por objetivo rastrear “para quebrar cadeias de transmissão”.
Sobre os eventos piloto que foram propostos à DGS, para preparar o regresso de eventos de massas, Graça Freitas diz que ainda não houve qualquer decisão em relação à realização destes eventos experimentais.
Graça Freitas admite alargar período entre duas doses da vacina e AstraZeneca para maiores de 65 anos
“Não pomos de parte, porque permite vacinar mais rapidamente grupos mais velhos”, respondeu Graça Freitas, em relação à hipótese de alargar alargar aos adultos com mais de 65 anos a vacina da AstraZenca.
Segundo a Diretora-geral da Saúde, a União Europeia decidiu seguir as recomendações da EMA (Agência Europeia do Medicamento) e do fabricante, numa “atitude cautelosa”, uma postura que Portugal e a maioria dos países europeus segue, sendo as diretrizes ajustadas “à medida que são recebidas mais informações”.
E essas informações, como os resultados nos estudos feitos na vida real podem levar as autoridades de saúde portuguesas a alargar, uma vez mais, o tempo entre as duas doses da vacina ou a administrar a vacina da AstraZeneca a maiores de 65 — uma solução seguida por alguns países na Europa.
Recorde-se que inicialmente as duas doses da vacina eram tomadas com 21 dias de diferença e, com a revisão da norma, passam a ser administradas com 28 dias, um prazo ainda assim muito inferior por exemplo ao britânico onde as doses são administradas com três meses de intervalo.
Aumentar o tempo entre as tomas da vacina permite vacinar com a primeira dose um maior número de pessoas, tendo em consideração a escassez e falhas de entrega das vacinas pelas farmacêuticas.
Já em relação à vacina da AstraZeneca, a falta de estudos em adultos com mais de 65 anos levou a uma cautela adicional de vários países, que optaram por deixar a vacina dessa farmacêutica para pessoas mais novas.