É um dos momentos mais tensos da entrevista dos Sussex a Oprah Winfrey, mas é também um dos que de imediato apelou ao fact checking. Ao longo da conversa de duas horas, Meghan contou que enquanto esteve grávida de Archie recebeu a notícia de que o seu filho não teria o título de príncipe nem direito a segurança. Falou ainda da dor que lhe causou “a ideia de o primeiro membro de cor da família real não vir a ter título”.

“Pensas que é por causa da sua raça?”, sugere Oprah. “Enquanto estive grávida, assistimos a conversas sobre ele não vir a ter segurança, sobre o facto de não receber um título e ainda sobre quão escura a pele dele podia ser quando nascesse, tudo ao mesmo tempo”, associou de seguida a mulher de Harry. Mais do que o título, Meghan referiu que a sua principal preocupação sempre foi garantir a segurança do filho, sobretudo num contexto de uma relação tensa, como a dela, com os tabloides.

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Surpreendida, Oprah Winfrey perguntou de quem tinham vindo essas conversas, mas Meghan acabou por não responder concretamente, alegando que poderia prejudicar muito as pessoas em questão. Segundo deu ainda a entender, conversas como estas não eram tidas à sua frente, embora lhe chegassem aos ouvidos através do marido. “Demasiado escuro” seria um problema? — antecipou Oprah. “Se foi essa a conclusão que tiraste, chegaste lá”, respondeu Meghan. “Mas isso chegava até mim através do Harry, foram conversas que a família teve com ele. Era muito difícil ouvir isto e achar que eram conversas isoladas”, prosseguiu a duquesa.

Meghan traça todo um quadro de eventual retirada de privilégios do filho. Mas será mesmo assim? Atendendo ao protocolo estabelecido por George V em 1917, enquadra o The Guardian, o direito automático ao título de príncipe é exclusivo de filhos e netos do soberano — quando nasceu, Archie foi mais um dos bisnetos de Isabel II, não seu neto, ficando por isso afastado desse privilégio.

Segundo a declaração com mais de um século, “os netos dos filhos de qualquer soberano na linha masculina direta (salvo apenas o filho mais velho vivo do filho mais velho do Príncipe de Gales) terão e desfrutarão em todas as ocasiões o estilo e o título desfrutados pelos filhos dos duques deste reino.”. Em suma, Archie apenas terá direito ao título de príncipe quando Carlos assumir o trono. Meghan argumenta no entanto na entrevista que mesmo com esta garantia, terão havido sinais noutro sentido: “queremos mudar a convenção por causa de Archie”.

Quanto ao príncipe George, na qualidade de bisneto da Rainha em linha direta para ascender ao trono, ficou desde logo habilitado ao título. Harry, o pai de Archie, surge apenas em sexto lugar na linha de sucessão, e irá descendo de posição à medida que os filhos de William e Kate forem tendo filhos.

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Para além de esclarecer este ponto, o Guardian recorda ainda que, à época do nascimento do seu filho, o casal decidiu que este deveria ser tratado por Archie Mountbatten-Windsor, apelidos que aludiam ao lado da família do príncipe Philip e ao sobrenome adotado por George V. De resto, sugeriu-se que tanto Meghan como Harry desejavam que o filho fosse visto como uma criança normal, sem o fardo do título.

Segundo a entrevista, no entanto, Meghan garante no entanto que “esta não foi a nossa decisão”, assumindo que se o título garantisse a segurança do filho então “é claro” que achava que era importante Archie ser príncipe. Mas também aqui entra outro pormenor relevante: os membros mais afastados da família real não têm automaticamente direito a segurança policial, um assunto que o clã não costuma discutir: a decisão final tem que envolver a polícia e a administração interna. Basta pensar nos casos das princesas Eugenie e Beatrice, que deixaram de usufruir de proteção paga pelos contribuintes britânicos.