Em condições normais, era uma questão simples de 2+2=4. Ou seja, se Joachim Löw vai sair da seleção alemã, se as coisas não estão a correr bem com Jürgen Klopp no Liverpool, se o grande capitão dos reds Steven Gerrard está em grande após ter ganho o título escocês pelo Rangers, era um mero jogo de rodar cadeiras. As mesmas cadeiras que os envolvidos afastaram. “Não estarei disponível para ser treinador da Alemanha, nem no verão, nem depois do verão. Tenho três anos de contrato com o Liverpool, é simples. Quando assinamos um contrato, cumprimo-lo”, explicou Klopp. “Temos um dos melhores treinadores no nosso clube. Adoro-o, espero que fique muitos anos. Se é um sonho um dia treinar o Liverpool? Sim. Mas nunca agora, temos o Jürgen [Klopp]”, disse Gerrard.

Nem com uma ajuda dos céus a coisa muda: Liverpool ainda não encontrou fundo na queda e soma sexta derrota seguida em Anfield

A matemática pode funcionar no futebol em muitos casos mas os números de Klopp em Anfield são de tal forma esmagadores que não entra na equação uma possibilidade de saída. Ainda assim, e no contexto da sexta derrota consecutiva em casa para a Premier League, as contas tinham de mudar. Porque a equipa que somava recordes atrás de recordes vê a cada semana diminuídas as possibilidades de salvar ainda a temporada. Porque a equipa que multiplicava elogios está a dividir opiniões sobre a verdadeira capacidade de poder melhorar esta época. E a Liga dos Campeões, onde o campeão inglês passou em primeiro de um grupo com Atalanta e Ajax e ganhou depois uma boa vantagem de 2-0 na primeira mão frente ao RB Leipzig, era o terreno sagrado para a redenção.

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O que faltava? Rock & roll. Sobretudo rock & roll, numa equipa que fica afónica ou toca de forma descoordenada uma música que chegou a ser considerada (e coroada como) a melhor do mundo. Existem muitas razões para essas notas trocadas, dos problemas com lesões na defesa que apanharam todos os centrais incluindo aquele que era o pilar de toda a estratégia (Virgil van Dijk) às muitas ausências ao longo da temporada, da quebra física à quebra de rendimento dos elementos que desequilibram na frente. O conjunto assente no modelo do gegenpressing que conseguia asfixiar na reação à perda e que colocava muita intensidade na verticalidade das ações ofensivas foi quebrando aos poucos sobretudo em 2021, quando não conseguiu disfarçar mais essas debilidades.

“Se é o meu pior momento no Liverpool? Gostaria de dizer que não mas sim, é. Mas não é um problema, não gosto de ter sempre os melhores momentos. Esta é uma equipa de extremos. Tivemos um sucesso extremo e agora já estamos numa situação extrema que iremos desafiar para ultrapassar. O que faltou com o Fulham? O mais óbvio foi um golo e não sofrer. Era certo que nos tínhamos de adaptar ao jogo deles, até pela situação que ocupam. E até começámos bem mas o adversário melhorou. Por norma costumo dizer que não é um problema estar atrás por 1-0 porque normalmente conseguimos marcar mas nem mesmo com uma boa entrada na segunda parte conseguimos e acabámos por perder”, lamentou o técnico alemão após o último desaire no Campeonato.

“O Jürgen Klopp é um treinador excecional a acredito que ele e o Liverpool têm uma ligação. Sinto muito pelo clube e sobretudo pelo Jürgen. Às vezes existem períodos mais complicados de ultrapassar mas os jogadores e o técnico são demasiado bons e vão sair dessa situação. É uma fase difícil mas não deixam de ser uma equipa com classe mundial com um treinador de classe mundial. Em algumas ocasiões há muitos pormenores que se juntam e que fazem com que a equipa desça um pouco e não consiga ganhar. Mas isso não é importante, nem é importante se perderam com o Everton e com o Fulham. Temos de respeitar o adversário mesmo correndo um pouco mais de riscos pela desvantagem sem sermos ingénuos e descurar a defesa”, lançara Julian Nagelsmann.

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Foi neste último ponto que entroncou a diferença num encontro equilibrado na primeira parte mas que voltou a ser decidido em duas saídas rápidas após o intervalo que deram nova vitória ao Liverpool e consequente passagem aos quartos da Champions. Diogo Jota, ainda à procura do melhor ritmo, voltou à prova com uma assistência.

Até ao intervalo, brilhou Alisson numa grande defesa numa bola perdida na área aproveitada pelo espanhol Dani Olmo (10′) e brilhou Gulásci com duas excelentes intervenções, a um cabeceamento de Diogo Jota após canto (19′) e a Salah isolado na área após um passes com técnica de karaté de Thiago Alcântara (24′). O Liverpool deu mostras de alguma retoma em movimentos ofensivos que já conseguiram explorar mais a profundidade e que deram mais largura ao jogo com Alexander-Arnold mais desenvoltos nas ações ofensivas mas o RB Leipzig, que teve outro remate com perigo de Forsberg (32′), dava uma boa resposta e conseguia sair em algumas transições com Nkunku a ser o elemento capaz de encontrar espaços para esticar o jogo até ao último terço contrário.

No segundo tempo, o RB Leipzig conseguiu ser mais rematador, arriscou um pouco mais, teve uma bola na trave da baliza dos ingleses por Alexander Sörloth na área após cruzamento de Hee-Chan Hwang mas esse balanceamento acabou por ter custos mais uma vez nas transições do Liverpool, que inaugurou o marcador por Salah aos 70′ numa jogada que começou e teve assistência de Diogo Jota (que já tinha conseguido um remate perigoso aos 40′ e que saiu logo após esse primeiro golo) e fechou o resultado quatro minutos depois por Sadio Mané, que apareceu a encostar sozinho no coração da área após cruzamento da direita de Origi. Ainda não é propriamente rock & roll mas a música do Liverpool na Champions é diferente. Pelo menos não desafina como na Premier League.