Marieke Lucas Rijneveld, que venceu o Booker International Prize em 2020, escreveu um poema sobre a controvérsia em torno da tradução do livro de poemas The Hill We Climb, de Amanda Gorman, a jovem poeta afro-americana que participou na cerimónia de tomada de posse de Joe Biden, em janeiro. Rijneveld foi escolhida para o traduzir pela editora holandesa que o vai publicar, mas a escolha causou uma onda de críticas, com os leitores e críticos a lamentarem que não se tivesse optado por um tradutor negro.
Face às críticas, Rijneveld optou por abandonar o projeto. No Twitter, a escritora, que se identifica com o género não binário e que se apresenta com pronomes neutros e muitas vezes no plural, como “eles”, mostou-se chocada com o “tumulto” gerado pelo seu envolvimento na tradução da coletânea The Hill We Climb, nome do poema que Gorman declamou na tomada de posse de Biden. “Compreendo que as pessoas se sintam magoadas com a escolha da Meulenhoff para me convidar”, disse, explicando que se tinha dedicado “a traduzir o trabalho da Amanda, vendo como o maior desafio manter sua força, tom e estilo”.
Marieke Lucas Rijneveld desiste de traduzir poema de Amanda Gorman por não ser negra
A editora holandesa Meulenhoff fez saber que a decisão era apenas de Rijneveld, de 29 anos, e que tinha sido a própria Gorman, de 22 anos, a selecioná-la, mas que compreendia que preferisse sair do projeto.
Alguns dias depois, Rijneveld expôs o que sente em relação à situação num poema, “Everything inhabitable”, traduzido para inglês por Michele Hutchison, que foi responsável pela tradução de The Discomfort of Evening, romance que tornou a escritora a mais jovem a vencer o Booker International Prize e a primeira de nacionalidade holandesa.
A versão inglesa foi publicada durante o fim de semana em exclusivo pelo jornal britânico The Guardian. No texto, a voz poética fala sobre nunca perder “aquela resistência” e sobre nunca ceder “ao que o mundo diz ser certo ou errado” ou ser “demasiado preguiçoso para se erguer” e enfrentar todos os “bullies”. O poema termina com um apelo à “fraternidade” e um desejo de fazer alguma coisa para melhorar o mundo. Para isso, é importante nunca esquecer que é preciso levantar depois de “ajoelhar” e endireitar “juntos” as costas.