A partilha ecoou nas redes sociais e chegou à imprensa esta quarta-feira. Na imagem, Lady Gaga posa ao lado do ator Adam Driver, numa estância de desportos de neve algures no norte de Itália. Na legenda, lê-se: “Signore e Signora Gucci”. A cantora que, em 2018, se estreou com alarido na representação em “Assim Nasce Uma Estrela”, prepara-se agora para regressar ao grande ecrã.
O filme em questão é “House of Gucci”, do realizador Ridley Scott, autor de clássicos como “Alien”, “Blade Runner” e “Gladiador”. O elenco já é público, pelo menos os nomes de proa que dele fazem parte — Jared Leto, Jack Huston, Reeve Carney, Jeremy Irons e Al Pacino. Lady Gaga assume o papel principal da trama, o da socialite Patrizia Reggiani que em 1995 mandou assassinar o ex-marido, num caso que chocou Itália.
Prevê-se que o há muito esperado drama seja um retrato fiel do casamento de Reggiani e Maurizio Gucci, neto do fundador da famosa casa de moda e, na época, herdeiro do império. Adam Driver foi o escolhido para o papel e por trás do filme estará o famoso livro de Sara Gay Forden The House of Gucci: A Sensational Story of Murder, Madness, Glamour, and Greed, originalmente publicado em 2000.
De acordo com os factos, os dois casaram algures entre 1972 e 1973 e tiveram duas filhas: Allegra e Alessandra. O casamento terá contado com a desaprovação do pai, Rodolfo Gucci, filho do fundador da marca, Guccio Gucci. Mas Maurizio ter-se-á encantado com Patrizia — na noite em que se conheceram, terá dito a um amigo: “Apresenta-me aquela mulher que parece a Liz Taylor”.
O matrimónio sagraria Reggiani como uma das personalidades mais proeminentes da alta sociedade italiana, presença habitual em festas e eventos de moda. Adorava levar uma vida de luxo e não o escondia — “Preferia chorar dentro de um Rolls-Royce do que ser feliz numa bicicleta”, é a sua célebre deixa, agora recordada pela Vanity Fair.
Em 1985, Gucci pediu o divórcio. Uma nova paixão, ao que parece mais jovem, terá levado o milionário a preterir Reggiani. O processo revelou-se moroso, apenas concluído em 1991. Mais tarde, a socialite afirmou ter sido abandonada pelo marido, que se ausentou para uma viagem de negócios a Florença e nunca mais voltou a casa. Foi depois do divórcio que Maurizio, conhecido por ser um esbanjador, vendeu a empresa da família à Investcorp, um banco sediado no Bahrain, por 120 milhões de dólares. Tornou-se assim o último dos Gucci a comandar a poderosa marca italiana, que completa 100 anos, em 2021.
Mas a verdadeira tragédia abater-se-ia sobre a família quatro anos depois. A 27 de março de 1995, Maurizio Gucci foi mortalmente baleado à porta do seu escritório, em Milão. Tinha 46 anos. A investigação do crime levou a polícia até à ex-mulher, que acabou por ser formalmente acusada de ter mandado matar o empresário. Patrizia foi detida a 31 de janeiro de 1997 e condenada no ano seguinte a 29 anos de prisão.
O julgamento foi um dos mais mediáticos a que Itália já assistiu e Reggiani foi apelidada de “Viúva Negra” nos cabeçalhos dos jornais, que ao longo do processo foram fazendo eco dos pormenores sórdidos do crime — como as declarações da vidente pessoal da socialite, que atuou como cúmplice, ao valor pago pela mandante para que o ex-marido fosse morto — uma quantia equivalente a mais de 300 mil euros (mais de metade da pensão anual paga por Gucci desde o divórcio).
A defesa ainda tentou anular a sentença — as filhas terão alegado que um tumor cerebral, diagnosticado e removido em 1992, afetara a personalidade da mãe. Mas a tentativa não foi bem sucedida. O tribunal apenas reduziu a pena para 26 anos, isto em 2000, o mesmo ano em que Patrizia tentou suicidar-se na prisão. Reggiani continuou sem admitir totalmente a culpa pelo crime. “Não me considero inocente, considero-me não culpada. Mas quanto a este ‘não culpada’, tenho de admitir que cometi muitos erros”, referiu numa entrevista dada em 2002, recuperada em 2019 pela Forbes.
Saiu da prisão em 2014, ano em que começou a trabalhar como consultora para uma marca de joalharia milanesa. Pouco tempo depois, uma equipa de filmagens italiana acabaria por captar um breve momento com Patrizia Reggiani, atualmente com 72 anos. “Porque é que contratou um atirador para matar o Maurizio Gucci? Porque é que não atirou com as suas próprias mãos?”, perguntaram. “Não tenho pontaria. E não queria falhar”, respondeu.